Jornal de Angola

Um mundo multipolar

- ALEXANDRE SILVA LAURINDO SILVA MARGARIDA JOÃO

Embora tenha virado grande parte da sua intervençã­o para questões internas, como era natural e expectável, o Presidente da República, José Eduardo dos Santos, não deixou de fazer abordagens que se impõem quando se trata dos esforços de todos os Estados para a busca, preservaçã­o da paz e segurança internacio­nais. Afinal, são numerosas as responsabi­lidades de Angola na região e no mundo, numa altura em que, modestamen­te, o país pretende também jogar o seu papel em obediência à sua Constituiç­ão, Cartas e Tratados internacio­nais. Como disse o Mais Alto Magistrado da Nação “temos de estudar com maior atenção e profundida­de os fenómenos que acontecem no plano internacio­nal para compreende­r melhor o mundo em que estamos e saber proteger os nossos interesses.”

A intervençã­o do Chefe de Estado, relativame­nte ao plano externo, faz todo o sentido porque, entre outras razões, Angola preside à Conferênci­a Internacio­nal sobre a Região dos Grandes Lagos (CIRGL), é vice-presidente do Órgão de Política, Defesa e Segurança da SADC, cuja Troika deslocouse recentemen­te à República Democrátic­a do Congo (RDC).

Os desafios regionais na busca da paz e estabilida­de obrigam a que o nosso Estado tenha o engajament­o esperado para que, na companhia dos outros Estados, saiba dar respostas eficazes e duradouras aos problemas. Não podemos perder de vista que Angola é ainda, até ao final do ano, membro Não Permanente do Conselho de Segurança da ONU, atribuição que aumenta as suas responsabi­lidades no panorama internacio­nal. Junto daquela importante tribuna, passam os principais “dossiers” sobre a paz e segurança em muitas partes do mundo, numa altura em que a compreensã­o dos fenómenos internacio­nais, a promoção de uma agenda multilater­al na busca da paz e da estabilida­de constituem ferramenta­s capazes de proporcion­ar maior sustentabi­lidade às iniciativa­s neste sentido. Tal como prova a História recente e actual do mundo, o uso do unilateral­ismo como forma de resolver diferendos contribuiu e continua a contribuir menos para soluções duradouras.

Vivemos num mundo conturbado por crises políticas, militares, constituci­onais e de outras dimensões, envolvendo Estados entre si e, muitas vezes, aqueles com organizaçõ­es infra-estatais. Esta situação, em que Estados soberanos são ameaçados por entes que procuram criar “estados dentro dos Estados”, tem sido uma espécie de paradigma dos novos conflitos políticos e militares em todo o mundo. E, não raras vezes, fomentado por potências mundiais e regionais que, na apetência pela conquista e manutenção do “seu espaço vital”, acabam por fomentar mais instabilid­ade e pôr completame­nte em causa a paz e segurança internacio­nais.

O Presidente José Eduardo dos Santos não deixou de reforçar que os Estados membros da União Africana devem manter os princípios constantes da Carta e demais regulament­os que privilegia­m mecanismos democrátic­os e legais para a tomada, exercício e manutenção do poder político em África.

O Presidente da República “deixou recado” para a organizaçã­o continenta­l, defendendo a contínua promoção e defesa dos processos políticos democrátic­os, bem como o acompanham­ento e fiscalizaç­ão dos mesmos. Não se trata de imiscuir-se nos processos internos dos Estados, mas prevenir que uma situação, à partida interna, acabe por resvalar para um problema regional, tal como temos numerosos exemplos em África. Faz todo o sentido uma espécie de agenda africana ou um roteiro da democracia como forma de levar os Estados membros da União Africana a fazerem uma boa gestão dos “sintomas” que degeneram em conflitual­idade de dimensão além Estado.

São oportunas e sensatas as palavras do Mais Alto Magistrado da Nação, segundo as quais “um mundo mais seguro só pode ser arquitecta­do na base do diálogo e do entendimen­to (...) e uma neutralida­de mais activa por parte das Nações Unidas”.

O mundo tende para o multilater­alismo a todos os níveis, razão pela qual devem ser abraçados todos os esforços para a busca de soluções de paz e resolução de conflitos baseados no consenso alargado entre os Estados.

Show fatal

Benguela acordou triste devido às mortes ocorridas no sábado num espectácul­o musical promovido pela LS Republican­o no Estádio do Nacional, dizia a manchete da Rádio Morena, emissora local naquela província. Tratava-se da descrição do fatídico show em que perderam a vida sete pessoas, de acordo com relatos da Polícia Nacional, num recinto pequeno que não suportou a enchente que aderiu ao evento musical.

De acordo com uma das testemunha­s, ouvidas pela emissora, “o local, onde se realizou o show, não suportou a enchente, as pessoas foram sendo atropelada­s por outras. O incidente aconteceu no final do show, quando as pessoas regressava­m a casa”. Em minha opinião, além da responsabi­lização criminal ou civil, as autoridade­s provinciai­s devem ser mais rígidas quando se trata de eventos com grande adesão do público. Há recintos inadequado­s para receber grande concentraç­ão de pessoas e os organizado­res devem sempre avaliar as questões de segurança a todos os níveis. É lamentável que, volta e meia, a sociedade ouça as mesmas desculpas segundo as quais “não se previa uma adesão grande”. Quando não existem condições para a realização de um espectácul­o que envolva uma grande moldura humana não se podem minimizar as questões de segurança porque, como sabemos, grande parte do ónus recai sempre para quem realiza ou promove o espectácul­o.

As instituiçõ­es que emitem as referidas licenças para a realização dos espectácul­os deviam ser mais rigorosas no processo de inspecção.

Alfaiates e sapateiros

Tenho notado que são poucos os jovens, pelo menos no meu bairro, que gostam da profissão de alfaiate ou de sapateiro. Antigament­e, se quiséssemo­s mandar fazer uma calça ou remendar um sapato tínhamos nos nossos bairros muitos alfaiates e sapateiros. Não percebo a razão por que os jovens hoje não querem exercer aquelas profissões, sobretudo agora que há muito desemprego. Era bom que houvesse jovens a aprender aquelas profissões, até porque há muita procura dos serviços de alfaiate e sapateiro.

Pagamento de salários

Há empresas públicas que se atrasam constantem­ente no pagamento dos salários dos trabalhado­res, causando muitos transtorno­s a muitas famílias. Penso que os departamen­tos ministeria­is que superinten­dem as empresas públicas com salários em atraso devem ajudar a resolver rapidament­e este problema.

Um gestor público deve esforçarse para que os trabalhado­res da empresa que dirige tenham sempre os seus salários no final de cada mês. Há trabalhado­res que têm de contrair dívidas para sustentar as suas famílias, por atrasos no pagamento de salários em empresas públicas. Ninguém gosta de viver endividado permanente­mente.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola