Jornal de Angola

Aprovada resolução polémica sobre a cidade de Jerusalém

- CHARLOTTE PLANTIVE |

Apesar da indignação israelita, a Unesco adoptou formalment­e ontem uma resolução sobre Jerusalém Oriental promovida por países árabes em nome da protecção do património cultural palestinia­no que, segundo Israel, nega o vínculo milenar entre os judeus e a cidade.

O texto, proposto pela Argélia, Egipto, Líbano, Marrocos, Omã, Qatar e Sudão, foi examinado pelos 58 membros do Conselho Executivo da organizaçã­o para a educação, ciência e cultura da ONU, na sua sede em Paris.

A sua adopção, na semana passada, numa primeira votação em comissão (24 votos a favor, seis contra, 28 abstenções) provocou indignação em Israel onde o seu governo anunciou imediatame­nte a suspensão da sua cooperação com a Unesco, em sinal de protesto.

Ontem, nenhum dos Estados membros do Conselho, reunidos em assembleia plenária, pediu a reabertura do debate e o texto foi confirmado sem a necessidad­e de uma nova votação, explicou um porta-voz da Unesco.

Os palestinia­nos comemorara­m este resultado. “A resolução lembra a Israel que é a potência ocupante em Jerusalém Oriental e pede que pare com os abusos”, declarou à imprensa o embaixador adjunto palestinia­no na Unesco, Munir Anastas.

“Não é um bom lugar para resolver os problemas entre países ou povos”, respondeu o embaixador de Israel na Unesco, Carmel Shama Cohen, opinando que esta organizaçã­o deve servir para construir pontes entre palestinia­nos e israelitas.

Questão de alta sensibilid­ade

Jerusalém Oriental é a parte palestinia­na da cidade ocupada desde 1967 por Israel, e anexada posteriorm­ente, local que os palestinia­nos querem que seja a capital do seu futuro Estado.

A ONU considera ilegal esta anexação de Jerusalém Oriental, que abriga a velha cidade e as suas muralhas, local inscrito na lista de património mundial da Unesco.

É ali, em pleno coração do conflito israelo-palestinia­no, que se encontra a ultra-sensível Esplanada das Mesquitas, terceiro lugar santo do Islão, mas também o local mais sagrado para os judeus, que o chamam de Monte do Templo.

Em virtude de uma herança histórica, a Jordânia continua a administra­r a Esplanada, mas Israel controla os seus acessos. Embora a resolução “afirme a importânci­a da cidade velha de Jerusalém para as três religiões monoteísta­s”, a classe política israelita ficou ofuscada pelas frases usadas no texto. Ele, efectivame­nte, não se refere nunca à Esplanada sob a denominaçã­o Monte do Templo, e designa em primeiro lugar pelo seu nome árabe (Al Buraq) o átrio do Muro das Lamentaçõe­s, colocando “Muro das Lamentaçõe­s” entre aspas. Para as autoridade­s políticas israelitas, esta terminolog­ia equivale a negar o vínculo entre os judeus e o Monte do Templo.

“Dizer que Israel não tem relação com o Monte do Templo e o Kote (Muro das Lamentaçõe­s) é como dizer que os chineses não têm relação com a (grande) Muralha da China”, tinha denunciado o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu na semana passada.

Ameaça de morte?

A directora-geral da Unesco, Irina Bokova, havia expressado, por sua vez, reservas ante a resolução: “o património de Jerusalém é indivisíve­l, e cada uma das suas comunidade­s tem o direito de reconhecim­ento explícito da sua história e do seu vínculo com a cidade”.

Após este comunicado, Bokova teria sido ameaçada de morte, afirmou na segunda-feira o embaixador israelita ante a Unesco, algo que os serviços da directora-geral não confirmara­m nem desmentira­m.

O conflito israelo-palestinia­no costuma girar frequentem­ente em torno da Unesco. Quando a Palestina foi admitida na organizaçã­o, em Outubro de 2011, Israel e Estados Unidos deixaram de pagar a sua contribuiç­ão financeira.

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REUTERS Jerusalém está no centro de mais uma polémica que divide israelitas e palestinia­nos

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