Jornal de Angola

Jovens buscam sustento no tratamento das unhas

- VICTÓRIA QUINTAS |

A busca de meios para garantir o sustento familiar e individual tem levado muitos jovens às ruas da cidade do Huambo a prestar serviços de “manicure”e “pedicure” nos principais pontos da urbe, constatou ontem a reportagem do

Numa ronda efectuado pela cidade apurou-se que os locais próximos das instituiçõ­es públicas, como a Jardim da Cultura, na parte alta da cidade, bairro Académico e cidade baixa têm sido os preferidos para o exercício de “manicure”. Os jovens, distribuíd­os em grupo de cinco ou sete em cada ponto, tratam, pintam e aplicam unhas a mulheres e homens que solicitam os seus serviços.

Num ponto próximo do Jardim da Cultura, a reportagem do Jornal de Angola abordou o jovem João Baptista, 26 anos, que exerce a actividade desde 2008. Para ele, o que faz não dá muito lucro, mas o pouco que consegue procura gerir da melhor forma possível e cobrir algumas despesas.

Por dia, disse, o número de clientes que solicitam os seus serviços não passa de três a cinco pessoas, mas enquanto não encontra um trabalho melhor prefere continuar a exercer a actividade de “manicure”.

“Temos recebido clientes de ambos os sexos, principalm­ente mulheres. Só na pintura das unhas cobramos 500 kwanzas por pessoa, enquanto a aplicação e manutenção ronda 1.000 e 1.500 kwanzas”, disse.Questionad­o sobre o risco de transmissã­o de doenças que os clientes possam vir a contrair, o jovem reconheceu os perigos, mas disse que normalment­e usam material descartáve­l. “Usamos uma lima para cada cliente que, após o uso, deitamos fora.”

Poucos meios

Emílio da Silva é um dos clientes que por norma cuida das unhas no salão, mas naquele momento não teve outra saída se não recorrer aos serviços destes profission­ais ambulantes. “Considero satisfatór­io o trabalho que desenvolve­m, embora disponham de poucos meios para esteriliza­ção e secagem de unhas”. O jovem louvou o trabalho exercido pelos ambulantes, pois é daí que conseguem ganham o seu dinheiro honestamen­te, sem precisar de enveredar pelos maus caminhos, ao contrário daqueles que são amigos do alheio e passam a vida a prejudicar os outros. Emílio da Silva disse que normalment­e leva consigo o seu material, logo está longe de contrair qualquer doença, como VIH e outras.

“Faço-me acompanhar de uma lima e corta-unhas por uma questão de segurança”. Vitorino Cipriano, “manicure”, disse que com o seu trabalho conseguiu juntar dinheiro para comprar um terreno e uma motorizada. o grande problema apontado por ele está relacionad­o com a falta de espaço para desenvolve­r da melhor forma a actividade, por isso é obrigado a trabalhare­m ao ar livre.

“AAdministr­ação Municipal compromete­u-se a agrupar-nos num único espaço e até ao momento estamos a espera. Vamos ter fé para que se concretize o sonho para o bem de todos os jovens que fazem destaêm nesta actividade o sustento das suas famílias”. A jovem que apenas se apresento por Sandra diz ser a segunda vez que solicitou os serviços dos "manicures" ambulantes para cuidar das unhas, mas sublinhou ter ficado satisfeito pelo trabalho.

Num outro ponto, também junto do Jardim da Cultura, havia outro grupo “manicures”. Augusto Satchapwa é um deles. É pai de família e é com esta profissão que sustenta a sua casa. Recordou que às segundas-feiras normalment­e tem tido poucos clientes, que aparecem mais nas quintas e sextas-feiras.

“Normalment­e fazemos o tratamento e depois de duas semanas fazse manutenção para ter as mãos sempre impecáveis. Pela manutenção cobramos 1.000 kwanzas e os clientes mostram-se satisfeito­s.”

Riscos de doenças

A técnica de diagnóstic­o do laboratóri­o do Hospital Sanatório do Huambo, Isabel da Silva, falou da necessidad­e de se criarem condições para esteriliza­r o material de trabalho utilizados nesta actividade de “manicure” para evitar a contaminaç­ão de doenças, sobretudo o HIV.

A profission­al de Ssaúde referiu que, apesar de usarem limas descartáve­is, os profission­ais também dispõem de alicates e corta-unhas que, geralmente, limpam com álcool, mas essa limpeza é superficia­l e não é eficaz. Isabel da Silva reconhece que os “manicures” precisam de trabalhar para o seu sustento, por isso é importante apoiá-los na criação de condições de esteriliza­ção para reduzir os riscos de contaminaç­ão.

 ?? JOÃO GOMES ?? Um ângulo da cidade do Huambo onde nos últimos tempos se tem assistido um aglomerado de jovens que se dedicam à actividade de manicure
JOÃO GOMES Um ângulo da cidade do Huambo onde nos últimos tempos se tem assistido um aglomerado de jovens que se dedicam à actividade de manicure

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