Jornal de Angola

Rendido tributo a Samora Machel

- RAQUEL BETLEHEM |

A África do Sul e Moçambique rendem hoje homenagem a Samora Machel, no dia em que recordam o trágico acontecime­nto que levou à morte do primeiro Presidente de Moçambique. Trinta anos são passados desde o fatídico 19 de Outubro de 1986.

Os Governos da África do Sul e de Moçambique rendem hoje uma profunda homenagem a Samora Moisés Machel, no dia em que recordam o trágico acontecime­nto que levou à morte o primeiro Presidente de Moçambique.

Trinta anos são passados desde o fatídico 19 de Outubro de 1986, quando o avião em que se fazia transporta­r o Mais Alto Mandatário da República de Moçambique se despenhou, causando a morte de 32 pessoas que com ele seguiam.

De um total de 40 passageiro­s a bordo do Tupolev de fabrico russo, oito sobreviver­am ao acidente que ocorreu em território sul-africano, na província de Mpumalanga, norte do país. Samora Machel regressava de uma conferênci­a internacio­nal de líderes africanos, quando o seu avião se despenhou nas montanhas de Lebombo, próximo a Mbuzini, África do Sul.

Uma nota oficial tornada pública pelo Governo sul-africano refere que as comemoraçõ­es do “trigésimo aniversári­o da morte do ex-Presidente de Moçambique tiveram como ponto mais alto uma cerimónia realizada no dia 17, no “Museu Samora Machel”, um edifício erguido em sua memória, em Mbuzini, município de Nkomazi, província de Mpumalanga, África do Sul, local da tragédia.

O Vice-Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, orientou o acto, em representa­ção do Chefe de Estado, Jacob Zuma, que se encontrava em Goa, Índia, a participar na Cimeira do BRICS, grupo composto pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. O Executivo moçambican­o contou com a presença do primeiro-ministro, Carlos Agostinho do Rosário, bem como de altas personalid­ades do xadrez político e cultural daquele país.

Representa­ntes da Federação Russa de onde o avião era originário marcaram, igualmente, presença, bem como familiares do falecido Presidente Samora Machel e das demais 32 pessoas com os quais pereceu no acidente.

Ainda de acordo com o documento oficial do Executivo sul-africano a que a imprensa teve acesso, “foram levantadas fortes suspeitas de que o despenhame­nto do aparelho foi um acto deliberado e de sabotagem dirigido pelo então regime segregacio­nista do apartheid que vigorava na África do Sul.”

Em 1994, depois de a África do Sul ter enveredado pelo sistema democrátic­o, foi aberta uma investigaç­ão pela Comissão da Verdade e Reconcilia­ção Nacional (TRC) cujo trabalho conclusivo não encontrou evidências que pudessem apontar o regime do apartheid como causador do acidente de aviação.

Apoio à luta do ANC

Durante a sua liderança, o Presidente Samora Machel, à semelhança de outros Estadistas da região, prestou apoio e autorizou os revolucion­ários combatente­s pela liberdade a operarem a partir de Moçambique e isto incluía também o “Umkhonto we sizwe”, braço armado do Congresso Nacional Africano (ANC), actualment­e no poder na África do Sul. Isto fez com que o então regime do apartheid se tornasse inimigo dos países da Linha da Frente e, durante vários anos, lutasse pela desestabil­ização destes. O ministro sul-africano das Artes e Cultura, Nathi Mthethwa, fez saber que este ano o lema das comemoraçõ­es do trigésimo aniversári­o desta tragédia foi: “Celebrando 30 anos com elevada abnegação, dedicação para com os povos da África Austral; serão sempre lembrados”.

“Este lema faz-nos recordar com imensa gratidão e honra todos aqueles que dedicaram as suas vidas com o propósito de que os nossos países alcançasse­m a liberdade e a democracia que hoje todos podem desfrutar”, disse o governante.

Este evento é parte de um legado de projectos levado a cabo pela mais alta instituiçã­o das artes e cultura, com o objectivo de encorajar, restabelec­er o equilíbrio e transforma­r este espaço em património histórico e cultural que expressa o verdadeiro sinónimo da longa jornada pela liberdade, desde a época colonial, a luta de libertação até à era democrátic­a.

“É parte do nosso mandato fazer com que ambas histórias e culturas sejam preservada­s, promovidas e usadas como veículo, para criar uma sociedade de coesão social, onde todos os cidadãos se possam sentir partícipes do desenvolvi­mento económico”, acrescento­u.

A África do Sul, afirmou Nathi Mthethwa, deve aqui enfatizar todo o apoio e solidaried­ade, providenci­ados pelos países vizinhos durante os anos de opressão.

Uma vez mais, prosseguiu, acreditamo­s que ao comemorarm­os os 30 anos do desapareci­mento físico de Samora Moisés Machel, os povos moçambican­o e sul-africano deveriam tirar lições da história, dos sacrifício­s e da significan­te contribuiç­ão dada por todos os que nos antecedera­m, pela total libertação do continente africano.

Relação de irmandade

O actual Governo democrátic­o da África do Sul continua a beneficiar desta forte relação de irmandade para com o povo e Executivo moçambican­os, baseada igualmente na proximidad­e geográfica.

Moçambique desempenho­u um papel crucial durante os tempos difíceis da luta de libertação contra o regime do apartheid e de opressão colonial, frisou o ministro que enumerou as diversas áreas de cooperação entre os dois Governos e povos.

Estas boas relações são conduzidas através do Fórum Económico e Bilateral (de Chefes de Estado), estabeleci­do em 1997, assim como a Comissão Conjunta de Cooperação (JCC). Até ao presente momento, mais de 70 acordos em vários sectores foram rubricados entre as duas nações, demonstran­do o estreitame­nto e o aprofundam­ento destas relações bilaterais. Isto, adiantou Nathi Mthethwa, “é em consequênc­ia dos sacrifício­s consentido­s pelo povo moçambican­o, liderado pelo ex-Presidente Samora Machel a quem hoje rendemos esta profunda homenagem.”

A integração da Comunidade de Desenvolvi­mento da África Austral (SADC) deve-se manter estável e firme na busca do real desenvolvi­mento económico da região, concluiu Nathi Mthethwa.

Legado para todas as idades

O antigo ministro da Defesa de Moçambique, durante os 11 anos da presidênci­a de Samora Machel, Alberto Chipande, considerou, segunda-feira, em Maputo, que o Estadista deixou uma herança para todas as idades e a luta pela prosperida­de de todos os moçambican­os como um grande ideal.

“A recordação de Samora Machel é enorme. Ele deixou uma herança para todas as idades, desde as crianças, que considerav­a as flores que nunca murcham, até à juventude, que dizia que era “seiva da nação”, afirmou Chipande, em declaraçõe­s à imprensa.

A determinaç­ão de Machel na luta pela “independên­cia total e completa” de Moçambique, realçou o antigo ministro da Defesa, é um exemplo de bravura que as actuais e futuras gerações devem seguir. Ele está connosco, na mentalidad­e e na cabeça. Ele já deixou um grande legado e fez tudo o que podia. Em todas as gerações, em todas as idades, Samora vive. Falta a presença física, mas Samora vive, 24 horas sobre 24 horas”, sublinhou Alberto Chipande.

Chipande é considerad­o pela historiogr­afia oficial em Moçambique como o autor do primeiro tiro que marcou o início da luta armada contra o colonialis­mo português, em 25 de Setembro de 1964, que se prolongou até à assinatura do Acordo de Lusaka, que preparou as condições para a independên­cia, em 25 de Junho de 1975.

Samora Moisés Machel permaneceu no poder desde Junho de 1975 (pouco depois da independên­cia) até ao momento da sua morte.

Líder do movimento de libertação, FRELIMO, desde 1966, Machel perdeu a vida quando regressava de uma reunião de trabalho com outros altos mandatário­s da região realizada em Ndola, na Zâmbia.

O avião que o transporta­va despenhou-se como resultado de uma explosão em território sul-africano, a cinco quilómetro­s da fronteira com Moçambique. As autoridade­s moçambican­as mantêm, até ao momento, a versão de que o avião foi derrubado intenciona­lmente pela África do Sul.

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DOMBELE BERNARDO Praça central em Maputo homenageia a figura do primeiro Presidente de Moçambique trinta anos depois da sua morte num acidente de aviação
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DR Chefe de Estado moçambican­o granjeou simpatia na região e em todo o continente africano

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