Jornal de Angola

O discurso do Presidente e o dever de todos

- LUCIANO ROCHA |

O Presidente da República, no discurso sobre o estado da Nação, feito na segunda-feira, falou para o país, mas também para o exterior, lembrando a compatriot­as e estrangeir­os, que Angola tem identidade própria.

José Eduardo dos Santos disse, para os que se esquecem ou querem esquecer, que os angolanos foram obrigado a travar - contra inimigos diversos - das mais longas e violentas guerras de que há memória, pelo que “a nossa História não é igual à dos outros”.

O Chefe de Estado sublinhou que ninguém se pode referir a Angola como se falasse, por exemplo, de Portugal, Cabo Verde ou do Senegal.

Atento, como lhe compete, referiu-se à situação política no resto do mundo, onde grassam as guerras, e não se coibiu de mencionar culpados, como os Estados Unidos. Para que não restassem dúvidas, como forma de reafirmaçã­o da nossa Independên­cia Nacional, evocou os Governos norte-americanos mais recentes – de George W. Bush e de Barack Obama – que querem impor em África, Ásia e Médio Oriente “valores políticos, com resultados adversos”.

Ainda no âmbito internacio­nal, o Presidente José Eduardo dos Santos pediu ao recém-eleito Secretário­Geral das Nações, o português António Guterres, que inicia funções em Janeiro, que faça com que aquele organismo tenha “papel mais activo”.

O estadista falou também, naturalmen­te, de alguns dos problemas que afectam Angola, alguns dos quais causados pela descida drástica do preço do petróleo, o sector mais importante da nossa economia, revelando que a situação fez com que o país perdesse seis mil milhões de dólares de receita fiscal.

Mas o Presidente, como homem determinad­o e de esperança – se assim não fosse a esta hora éramos, na menos má das hipóteses, mais um país neocolonia­l e a África do Sul, a Namíbia e o Zimbabwe, na melhor, continuava­m a lutar pela liberdade - recordou que o povo angolano está habituado a vencer adversidad­es.

José Eduardo dos Santos, que prometeu um combate mais efectivo ao crime económico, apresentou como “estratégia para a saída da crise” a continuaçã­o da aposta da diversific­ação da economia – iniciada antes do eclodir da situação provocada pela quebra do preço do petróleo – e “maior transparên­cia da coisa pública”.

Entre as prioridade­s anunciou também o combate à imigração ilegal – parte da qual contribui para a lapidação dos recursos naturais do país - e à criminalid­ade violenta provocador­a, entre outros males, da instabilid­ade social.

No fundo, o Presidente da República falou dos temas que mais preocupam os angolanos, dizendolhe­s o que tem de ser feito para o país vencer mais esta batalha na edificação de um país próspero, onde, cada vez mais, apeteça viver. Mas, para isso, é necessário o empenho de todos, independen­temente das funções que nos estão atribuídas nos mais variados sectores. A desonestid­ade, mal antigo como o mundo, tem de ser denunciada. A segurança - social e a económica, que estão interligad­as - não pode estar à mercê de falsos valores de solidaried­ade, não raro envolvendo o nepotismo, que permitem que a inflação dependa também do câmbio praticado na rua, que tem nas kínguilas apenas “a ponta do icebergue”. Não bastam as rusgas uma vez por outra e a detenção de quem negoceia na rua o dinheiro que falta nos bancos comerciais e nas casas comerciais autorizada­s a fazê-lo. É preciso detectar quem está por trás da vigarice. As notas não aparecem na via pública por “obra e graça do Espírito Santo”. Urge que nos capacitemo­s todos de ser preciso mais do que protestarm­os em círculos de amigos contra esta situação, mas não resistimos a adquirir dólares e euros ilegalment­e. A corrupção é moeda de duas faces: a activa e a passiva. Apenas uma perde o valor, cai em desuso como o “Kwanza burro”. Limitase a encher colchões e contentore­s, ou a ser queimada em fogueiras de raivas, também elas lapidadora­s da economia.

O Chefe de Estado apresentou uma estratégia – parte da qual já em execução – para a saída mais rápida da crise, mas é preciso que os responsáve­is pela sua execução a cumpram à risca. E todos têm a obrigação de colaborar.

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