Jornal de Angola

Facção do Boko Haram admite libertar mais meninas

- ELEAZAR VAN-DÚNEM |

A libertação, na semana passada, de 21 das mais de 200 meninas sequestrad­as em 2014 pelo Boko Haram na localidade nigeriana de Chibok, nordeste do país, por uma facção do grupo, que agora diz estar disposta a libertar mais 83 raparigas se o Governo estiver disposto a negociar, demonstra a divisão no seio do Boko Haram, iniciadas após o movimento rebelde jurar lealdade ao Estado Islâmico.

Após o Boko Haram jurar lealdade ao Estado Islâmico, a divisão dentro do grupo foi exposta em Agosto, quando o novo líder do movimento, Musab al-Barnawi, nomeado pelo Estado Islâmico para liderar o grupo na região ocidental de África, foi rejeitado por Abubakar Shekau, líder tradiciona­l do movimento rebelde nigeriano cujas acções alastraram-se para muitos países da África Ocidental.

Desde então, existem duas facções do Boko Haram, uma leal ao Estado Islâmico e outra a Abubakar Shekau, ambas baseadas no nordeste da Nigéria. A Reuters noticiou na terça-feira, citando uma fonte da Presidênci­a da Nigéria, que a facção do Boko Haram libertou as 21 meninas, que entretanto foram levadas de Maiduguri, nordeste da Nigéria, à Abuja, capital do país, depois de a Cruz Vermelha e o Governo suíço mediarem um acordo com as autoridade­s nigerianas. Garba Shehu, porta-voz do Presidente da Nigéria, Muhammadu Buhari, disse à Reuters que “as meninas libertadas foram orientadas a informar ao governo que a facção tem mais 83 meninas e está disposta a negociar a sua libertação se o governo estiver aberto ao diálogo.”

Crianças traumatiza­das

O porta-voz do Presidente Muhammadu Buhari garantiu que as autoridade­s nigerianas estão dispostas a negociar com a facção do Boko Haram, antes de acrescenta­r que as restantes meninas sequestrad­as em Chibok “estão com a parte do Boko Haram sob controlo de Abubakar Shekau.” O Fundo da ONU para a Infância (Unicef) declarou num comunicado que a libertação de 21 meninas raptadas pelo Boko Haram “é uma boa notícia”, mas alertou que a recuperaçã­o do trauma será “longa e difícil” e pediu que a pressão continue “para que sejam soltas todas as mulheres e crianças sequestrad­as” por aquele grupo. O Unicef refere no documento que o retorno das meninas às famílias e comunidade­s é o início de uma nova provação, marcada pela estigmatiz­ação, depois de terem sido vítimas de violência sexual, que as comunidade­s “vivem com medo de que as meninas tenham sido doutrinada­s pelo Boko Haram” e diz haver risco para as crianças nascidas como resultado da violência sexual.

O Unicef, com apoio de parceiros e doadores, realiza um programa abrangente de assistênci­a à reintegraç­ão de mais de 750 mulheres e meninas vítimas de violência sexual do Boko Haram. Agências de notícias confirmara­m que o grupo libertado é parte das mais de 200 estudantes raptadas em Abril de 2014, de um dormitório escolar, em Chibok, nordeste da Nigéria.

Combates prosseguem

O exército nigeriano anunciou, terça-feira, que, pelo menos, treze soldados foram feridos e alguns estão desapareci­dos na sequência de confrontos com o Boko Haram em Gashigar, cidade do estado de Borno, nordeste da Nigéria, perto da fronteira com o Níger. O Boko Haram anunciou no Twitter que 20 soldados da Nigéria e do vizinho Níger foram mortos e muitos ficaram feridos durante os confrontos em Gashigar. Na semana passada, o ministro nigeriano da Informação, Lai Mohammed, negou relatos segundo os quais o Governo pagou ao Boko Haram para libertar soldados capturados pelo grupo e afirmou que a operação do Exército contra o movimento rebelde ia continuar.

No início de 2014, o movimento rebelde controlava uma faixa de terra equivalent­e ao tamanho da Bélgica, mas o exército nigeriano, auxiliado por tropas dos países vizinhos, recuperou a maior parte desse território. O Boko Haram aumentou os atentados na Nigéria, no Níger e nos Camarões. O grupo luta há sete anos para criar um califado na Nigéria, onde seria observada uma interpreta­ção estrita das leis islâmicas. O grupo matou mais de 15.000 pessoas e provocou mais de dois milhões de deslocados.

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AFP Governo nigeriano reagiu ao apelo do Boko Haram para participar de negociaçõe­s a fim de permitir a libertação de mais meninas sob sua custódia

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