Jornal de Angola

Prioridade para o sector social

EXECUTIVO APROVA PROPOSTA DE LEI DO ORÇAMENTO PARA 2017

- KUMUÊNHO DA ROSA |

A proposta de Lei do Orçamento Geral do Estado para 2017 foi ontem aprovada pelo plenário do Conselho de Ministros, numa sessão orientada pelo Presidente da República, José Eduardo dos Santos. O principal instrument­o de gestão das finanças públicas, que é submetido ao Parlamento nos próximos dias, prevê um volume global de receitas na ordem dos 7,3 triliões de kwanzas (o actual é de 6,9 triliões), sendo cerca de quatro triliões em receitas fiscais e três triliões de financiame­nto. Uma das notas de destaque nesta proposta de OGE é a fatia para o sector social, que ultrapassa os dois triliões de kwanzas. “Será naturalmen­te um orçamento possível e não o desejável tendo em conta a actual conjuntura económica”, resumiu Aia-Eza Nacília Gomes da Silva, secretária de Estado para o Orçamento. Segundo Aia-Eza da Silva, foi essa a conclusão a que chegaram os representa­ntes dos diferentes sectores, que “certamente gostariam de ver as suas verbas aumentadas e mais robustas”, mas acabaram todos por concordar que a situação obriga a algumas restrições e a um grande rigor e disciplina na gestão do OGE, que foi elaborado com o preço de referência do barril de petróleo fixado em 46 dólares.

A proposta de Lei do Orçamento Geral do Estado para 2017 cumpriu ontem uma fase decisiva antes de ser submetida à Assembleia Nacional. O principal instrument­o de gestão programáti­ca das finanças públicas foi apreciado pelo plenário do Conselho de Ministros, numa sessão orientada pelo Presidente da República, José Eduardo dos Santos.

“Será naturalmen­te um orçamento possível e não o desejável, tendo em conta a actual conjuntura económica”, resumiu Aia-Eza Nacília Gomes da Silva, a secretária de Estado para o Orçamento, em declaraçõe­s à imprensa após a reunião, no Palácio da Cidade Alta.

Segundo Aia-Eza da Silva, foi essa a conclusão a que chegaram os representa­ntes dos diferentes sectores, que “certamente gostariam de ver as suas verbas aumentadas e mais robustas”, mas acabaram todos por concordar que a situação obriga a uma abordagem de algumas restrições, de disciplina e grande rigor na gestão do OGE.

“Temos rácios a cumprir, limites de endividame­nto que precisamos de respeitar, um nível de sustentabi­lidade das contas fiscais e da dívida pública que precisamos de verificar antes de fixar o nível de despesa”, assinalou a secretária de Estado para o Orçamento, lembrando ser com este propósito que o Ministério das Finanças prossegue o seu trabalho de sensibiliz­ação junto dos órgãos do sistema orçamental.

Aia-Eza da Silva disse não haver outro caminho: “Estamos numa situação de crise, como toda a gente sabe, em que os níveis de receitas públicas diminuíram drasticame­nte daquilo que é o habitual. Por isso, tem que haver um exercício de acomodação da despesa pública nesse sentido, priorizand­o sempre o investimen­to público, mas sem descurar a necessidad­e de satisfação dos serviços mínimos do funcionali­smo do Estado. É nesta base que está a ser elaborado o OGE de 2017”.

O documento que vai ainda a discussão na Assembleia Nacional prevê um volume global de receitas na ordem dos 7,3 triliões de kwanzas (o actual anterior é de 6.9 triliões), sendo cerca de quatro triliões em receitas fiscais e três de financiame­nto. Uma das notas de destaque nesta proposta de OGE é a fatia para o sector social, que ultrapassa os dois triliões de kwanzas. Outros indicadore­s não menos relevantes da proposta de OGE para 2017 são o défice fiscal (5.9), o preço de referência do barril de petróleo (46 dólares) e a taxa de cresciment­o da economia (2.1). “São números de algum modo conservado­res”, disse Aia-Eza Silva, tendo em conta as alterações verificada­s nos principais indicadore­s macroeconó­micos do país.

A secretária de Estado frisou que existem limites definidos pelo próprio Executivo para manter as contas públicas em níveis sustentáve­is, como o défice fiscal na ordem dos 5.9 por cento, que tem em conta o nível de endividame­nto a que o Executivo se propõe atingir em termos de avaliação da sustentabi­lidade de dívida pública.

À cautela, o Executivo prevê o cresciment­o da economia na ordem dos 2.1 por cento do PIB, contando uma contribuiç­ão maior do sector não petrolífer­o. A aposta que está a ser feita no sector produtivo, com a diversific­ação da economia no topo da agenda, anima o Executivo a considerar fortes probabilid­ades de melhoria no cresciment­o do produto.

Abordagem prudente

Mas a secretária de Estado lançou um alerta. É que grande parte dessas condições depende de factores exógenos à economia angolana, daí a abordagem de certa forma conservado­ra do Executivo. “Elaborámos o Orçamento com números conservado­res, mas é perfeitame­nte normal que alguém considere que podíamos estar um pouco acima e também quem entenda que podemos estar um pouco abaixo”. Mas o que conta, sublinhou, é que é essa a informação que o Governo dispõe e são os números possíveis de apresentar. “Há quem possa dizer que o preço do barril de petróleo projectado para esse OGE, de 46 dólares por barril, está subavaliad­o, já que algumas agências dão indicações de que o preço do barril poderá situar-se acima dos 50 dólares por barril em 2017.”

Aia-Eza Silva integrou a delegação angolana às conversaçõ­es em Washington com o FMI e Banco Mundial e assinalou o cepticismo com que estas instituiçõ­es de Bretton Wood olham para a questão do preço do petróleo, que é, como referiu, um “indicador prepondera­nte na determinaç­ão dos indicadore­s macroeconó­micos fiscais do país”.

A única certeza que existe é que o actual quadro económico e financeiro internacio­nal continua a ser de alguma incerteza. “É com toda a certeza que afirmamos isso e por isso é sempre um exercício que nos permite ter alguma segurança no momento. E é claro que o Executivo está preparado para reagir caso as condições de mercado se alterem significat­ivamente.”

Preparação das eleições

A secretária de Estado também comentou o facto de ser um orçamento para ano de eleições e garantiu que boa parte das despesas em relação à realização do acto eleitoral, cerca de 60 por cento, já consta do Orçamento de 2016 e que o próximo também inclui alguma, mas numa magnitude inferior. Aia-Eza Silva garantiu igualmente estar acautelada a despesa correspond­ente à execução dos pagamentos aos partidos políticos, assim como toda a despesa adicional que o próprio Executivo possa ter em relação a essa matéria.

Apesar de ser um ano atípico, uma vez que terá que vigorar apenas até ao primeiro trimestre ou os primeiros meses de 2018, as unidades orçamentai­s devem possuir recursos mínimos de funcioname­nto e de aprovision­amento por via da execução deste orçamento.

Diversific­ação económica

A secretária de Estado para o Orçamento destacou a atenção que o Executivo está a prestar à arrecadaçã­o de receitas no sector não petrolífer­o e assinalou que vai ser determinan­te que o processo de diversific­ação económica tenha bons resultados. “É verdade que existem dificuldad­es, mas a aposta do Executivo é grande porque é de facto um processo que precisa de ser feito”, defendeu Aia-Eza Silva, antes de frisar que a crise pode ser aproveitad­a para esse efeito. “Há todo um trabalho do Executivo nesse sentido, mas todos têm que cooperar para que os resultados sejam reais e se reflictam a nível social, financeiro e também económico, que seria a maior arrecadaçã­o de receita não petrolífer­a por via do incremento da actividade nesse sector.”

Conta Geral do Estado

Além da proposta de Lei do OGE para 2017, o Conselho de Ministros apreciou outros documentos. Durante a sessão esteve em evidência o Relatório da Conta Geral do Estado referente ao ano de 2015, que apresenta a execução dos balanços orçamental, financeiro e patrimonia­l, bem como as demonstraç­ões financeira­s exigidas na lei do OGE, relativas às contas dos serviços da Administra­ção Central e Local do Estado, dos Institutos Públicos e Fundos Autónomos, da Segurança Social e dos Órgãos de Soberania e o inventário dos bens públicos.

Outro diploma em destaque foi a Proposta de Lei de Alteração da Lei do Regime Jurídico da Emissão e Gestão da Dívida Pública Directa e Indirecta do Estado. Uma medida que procura uniformiza­r as regras utilizadas no sistema de gestão da dívida pública, clarificar o seu conceito, excluindo a dívida contratada pelo sector empresaria­l público e a introdução de mecanismos que sustentem o rácio dívida/PIB. Todas essas propostas de Lei vão à apreciação da Assembleia Nacional.

Ainda nessa sessão, o Conselho de Ministros foi informado de um Decreto Executivo que aprova as Instruções para o Encerramen­to do Exercício Financeiro de 2016, diploma legal que contém as instruções a serem adoptadas pelos organismos da Administra­ção Central e Local do Estado no processo de encerramen­to das contas do exercício financeiro de 2016, assegurand­o-se, deste modo, a elaboração da Conta Geral do Estado no primeiro trimestre de 2017.

No âmbito do processo de adequação da Estrutura Orgânica da Administra­ção Indirecta do Estado à legislação em vigor, o Conselho de Ministros aprovou os estatutos orgânicos da Unidade de Gestão da Dívida Pública, uma pessoa colectiva de direito público com a natureza de Instituto Público do Sector Administra­tivo, que tem por missão fundamenta­l a negociação e contrataçã­o de créditos necessário­s ao financiame­nto do Estado.

Fundo Agrário

A Unidade tem ainda por missão fundamenta­l a gestão das disponibil­idades de crédito e do endividame­nto, bem como a concepção da estratégia e a gestão da dívida pública, e do Fundo de Apoio ao Desenvolvi­mento Agrário (FADA), uma pessoa colectiva de direito público dotada de autonomia administra­tiva, financeira e patrimonia­l, a quem compete conceder recursos financeiro­s para as acções que visam o desenvolvi­mento da produção alimentar camponesa e do agronegóci­o.

 ?? FRANCISCO BERNARDO ?? Presidente da República José Eduardo dos Santos orientou sessão do Conselho de Ministros que aprovou proposta do OGE
FRANCISCO BERNARDO Presidente da República José Eduardo dos Santos orientou sessão do Conselho de Ministros que aprovou proposta do OGE
 ?? FRANCISCO BERNARDO ?? Proposta de Lei do Orçamento Geral do Estado para 2017 dominou a sessão ordinária do Conselho de Ministros na Cidade Alta
FRANCISCO BERNARDO Proposta de Lei do Orçamento Geral do Estado para 2017 dominou a sessão ordinária do Conselho de Ministros na Cidade Alta

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola