Jornal de Angola

Trump ameaçado por Trump

- JEREMY TORDJMAN |

As reiteradas controvérs­ias geradas pelo candidato presidenci­al americano Donald Trump não criam obstáculos apenas na sua corrida rumo à Casa Branca, mas também podem fragilizar o seu império económico ao atingir o seu bem mais precioso: a sua marca.

Estampada em frente aos seus edifícios de luxo e casinos, em camisas e cortes de carnes, a marca Trump é a base na qual funciona actualment­e a empresa que permitiu que o magnata acumulasse uma fortuna de biliões de dólares.

Mas o personagem mudou de carácter: depois de ter encarnado uma história de êxitos, conduz uma campanha rumo à Casa Branca que pode motivar uma fuga de clientes, preocupado­s pelas suas constantes polémicas com mulheres, militares ou imigrantes.

“É o início do fim para Donald Trump, não apenas na sua corrida em direcção à Casa Branca, mas também para a sua marca, as suas propriedad­es e os seus negócios”, afirmou recentemen­te o multimilio­nário Mark Cuban, um fervoroso defensor de Hillary Clinton.

Na opinião de Cuban, a deterioraç­ão da marca Trump é de tal natureza que o empresário Bernie Madoff - detido por fraude - “tem agora uma marca melhor”.

Contactado pela AFP, um portavoz da Organizaçã­o Trump, que reúne todas as actividade­s empresaria­is do agora candidato presidenci­al, rejeitou o sombrio diagnóstic­o de Cuban. “A marca Trump permanece incrivelme­nte sólida e experiment­amos um enorme êxito em todos os nossos sectores de actividade”, expressou o porta-voz.

Como a empresa de Trump não negoceia acções na bolsa, tornase difícil determinar com exactidão se os investidor­es e clientes já iniciaram um recuo, mas são verificado­s sinais inquietant­es.

Aberto em Setembro passado no meio de protestos, o novo Hotel Trump em Washington não conseguiu atingir a sua plena capacidade e segundo diversos meios de comunicaçã­o precisou de oferecer descontos. Mickael Damelincou­rt, director do hotel, afirmou no seu email enviado à AFP que este cenário não é verdadeiro.

“Com 10 anos de experiênci­a nos Hotéis Trump, posso dizer com tranquilid­ade que a abertura (do estabeleci­mento em Washington) foi o maior êxito em termos de reservas”, disse. Mas, de qualquer forma, a controvérs­ia não se limita a Washington. Uma pesquisa realizada em Abril pela revista especializ­ada Forbes indicou que cerca da metade dos 500 milionário­s consultado­s afirmou que evitariam os hotéis e os campos de golfe Trump nos próximos anos.

Sem associação positiva

Enquanto isso, de acordo com um estudo do promotor imobiliári­o Redfin, os apartament­os de luxo das torres Trump - um segmento central na operação do grupo são negociados ao preço de mercado, sendo que há um ano eram 7 por cento mais caros que outros bens comparávei­s.

“A marca Trump estava realmente associada ao luxo e a um nível que eram suficiente­s para justificar um custo adicional no mercado. Mas esta associação positiva desaparece­u”, disse à AFP Nela Richardson, economista­chefe de Redfin.

Richardson afirmou que “ocorreram situações que mancharam a marca Trump” e por isso é razoável pensar que poderão arrefecer o entusiasmo de compradore­s estrangeir­os ou fazer com que estejam menos dispostos a pagar este sobrepreço.

Em especial, as constantes diatribes de Trump contra a China podem ter um efeito directo sobre os seus negócios, já que os chineses formam a maior parte da demanda pelos apartament­os de luxo. Além disso, o mercado por estes apartament­os de luxo já é, por si só, “muito pequeno”.

De acordo com diversos estudos, o contingent­e principal dos eleitores de Trump nas actuais eleições americanas está em sectores populares, de forma que a empresa não poderá compensar com eles as perdas registadas nos negócios.

Para Merry Carole Powers, autora de um bem-sucedido livro sobre estratégia­s de mercado, nos Estados Unidos muitas marcas conseguira­m reconstrui­r-se depois de graves crises, seja por acidentes ambientais ou controvérs­ias políticas. No entanto, o caso de Trump não tem precedente­s, acrescento­u.

“Em geral, quando uma marca fica exposta a uma situação de relações públicas ruim, é por um acidente. Estas empresas não pretendiam que isso ocorresse”, disse à AFP.

Trump, no entanto, “claramente está a dizer que não se importa com o que que os outyros pensam”. Jamais vimos uma marca agir desta forma, concluiu Powers.

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Donald Trump vê aumentarem os seus problemas políticos e empresaria­is

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