Pinturas de René Tavares
Artista plástico estabelece ponte cultural entre a “Gleba Cultura” e a Fundação Sindika Dokolo
René Tavares, consagrado artista plástico são-tomense, tem sido o principal responsável pela parceria cultural entre a Fundação Gleba Cultura de São Tomé e Príncipe e a Fundação Sindika Dokolo de Angola, duas prestigiadas instituições que vão conceber e produzir importantes projectosno domínio da cultura.
René Tavares falou da oportunidade da parceria entre as duas instituições culturais, nos seguintes termos: “Para além de criarmos emprego, tanto para os angolanos como para os artistas de São Tomé e Príncipe, pretendemos salvaguardar e divulgar o património artístico e cultural, construir um espaço de debate sobre a actualidade artística contemporânea, divulgar e promover as artes e artistas de ambos os países e do mundo e, entre outros objectivos, criar residências artísticas e plataformas criativas em rede, integradas em projectos artísticos europeus e mundiais”.
A Fundação Gleba Cultura,instituição que concebe e produz projectos culturais, foi apresentada no âmbito de um ciclo de conferências e cinema, que decorreu de 23 a 25 Julho de 2015, no Hotel Pestana, em São Tomé e Príncipe, realizado pela Fundação Sindika Dokolo. A Fundação Gleba Cultura e a Fundação Sindika Dokolo têm como parceiros, o Governo da República de São Tomé e Príncipe, a Câmara Distrital de Água Grande, cidade de São Tomé, e a Embaixada da República de Angola, em São Tomé e Príncipe.
A pintura de René Tavares embora revele um interesse pelo quotidiano são-tomense, como a exposição “As Lavadeiras” com o artista plástico Olavo Amado no Café Companhia em São Tomé, em Setembro de 2010, demonstra um interesse pela história política e pelasraízes culturais de São Tomé e Príncipe, conforme podemos ler na sua síntese biográfica: “Ultimamente os seus trabalhos têm assumido uma componente política e cultural, através da qual o artista chama a atenção para a realidade quotidiana, sobretudo Africana e particularmente do seu país. Imparcialmente intervém no desenvolvimento da mentalidade sociopolítica, não por via de uma vontade de discurso político, mas porque a política se inscreve necessariamente no regime da realidade quotidiana”.
Filho de Fernanda da Cruz Silva e de José Luís Ferreira Tavares, René da Cruz Tavares nasceu em São Tomé e Príncipe no dia 4 de Novembro de1983. Formado na Escola de Belas Artes de Dakar, Senegal, René Tavares participou paralelamente em diversos workshops em São Tomé ePríncipe, ganhou em 2009 uma bolsa para desenvolver as suas pesquisas plásticas em Rennes, França, e vive actualmente entre São Tomé e Príncipe, Luanda e Lisboa.
Génese
Sobre a génese, africanidade e marcos temporais da sua pintura, René Tavares revelou o seguinte: “O tempo contemporâneo é objectivamente o que me preocupa, pois permite também reflectir sobre outros tempos da arte e da estética africana. A minha estética gravita num universo intemporal para que após incursões em tempos históricos específicos à arte africana se posicione como uma obra de todos os tempos.Com esta dinâmica, pretendo participar na reconstituição da trajectória épica das civilizações africanas através da arte contemporânea em permanente diálogo com a arte antiga ou clássica africana, para que possamos criar uma cartografia cultural a propósito da presença dos africanos na história da humanidade.A estrutura estética, cultural e política da pintura de René Tavares desenvolve uma plataforma que sustenta a criação de mecanismos para uma produção cultural suficientemente autónoma, considerando que é através da arte e da cultura que os sintomas de soberania cultural colectiva e individual melhor se expressam”.
Africanos
Segundo René Tavares, “a participação dos africanos foi no passado, é no presente e será no futuro, parte integrante das alterações culturais e estéticas mundiais, naturalmente. Considero urgente a necessidade de revelar o pensamento e a historicidade da trajectória da estética africana. A minha pintura criou um diálogo e uma interacção entre estéticas de tempos distintos.Nesta perspectiva optei numa primeira abordagem pelo ritmo histórico e estético, em seguida deium novo olhar e elaborei um novo desenho inclusivo e abrangente, desenvolvendo um segmento contemporâneo de um espólio suficientemente representativo da produção artística africana composto por artistas que estabelecem novos paradigmas na história da arte”.
Exposições
Durante a sua carreira, René Tavares participou em várias exposições das quais destacamos as seguintes: BIS VII Bienal de Arte e Cultura de São Tomé e Príncipe, 2014, Private lives 2013, Centro Cultural de Cascais, Portugal ,2013, Africando, Galeria Graça Brandão, Lisboa, Portugal, 2012, Itinerância da VI Bienal de São Tomé, Museu da cidade, Lisboa, Portugal, 2012 , VI Bienal de Arte de São Tomé e Príncipe, São Tomé, 2010, Série (In) Acabado, Galeria Bozart, Lisboa – Portugal, 2010, Idioma Comum, Galeria Fundação PLMJ – Lisboa – Portugal, 2010 Summer Calling, Galeria 3+1 Arte Contemporânea, Lisboa, 2010 Re-Act, Galeria Arts-Lab, Porto, Portugal,2009, Meeting São Tomé in Amsterdão, Clifford Chance, Holanda, 2008 , África Now, WorldBank, Washington, EUA, 2008 United we Stand, Galeire Hores, Bruxelas, Bélgica, 2008 - V Bienal de Arte e Cultura de São Tomé e Príncipe, São Tomé e Príncipe, 2007, Festi’phonie, L’art de la Francophonie, FIAP Jean Monnet, Paris, France, 2005, As portas do mundo, Palácio D. Manuel II, Évora, Portugal. René Tavares frequenta, actualmente, o Mestrado em Ciências de Arte e do Património na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. René Tavares vive e trabalha nas cidades de São Tomé e Príncipe, Lisboa e Luanda.
História
As ilhas de São Tomé e Príncipe estiveram desabitadas até 1470, quando os navegadores portugueses João de Santarém e Pedro Escobar as descobriram. Com condições climatéricas favoráveis, a ilha tornou-se o principal produtor africano de cana-de-açúcar, intensificando-se, paralelamente, o tráfico de escravos. A produção de açúcar acaba por ser afectada pela concorrência da produção brasileira. Mas a economia acaba por recuperar com as grandes plantações, vulgarmente designadas roças, de cacau e de café.No final da década de 1870 assinalou-se a abolição da escravatura, transformada então em trabalho contratual, embora ainda significativamente opressivo.
Cultura
A riqueza cultural de São Tomé e Príncipe tem origem na miscigenação entre portugueses e nativos oriundos da costa do Golfo da Guiné, Angola, Cabo Verde e Moçambique.A riqueza arquitectónica é reconhecida, são disso exemplo a fortaleza de São Sebastião, a catedral de São Sebastião ou a catedral da Santa Sé, Igreja da Sé. As manifestações religiosas, com origem na Igreja Católica, e as manifestações pagãs animam ruas e pessoas.Os contributos culturais vêm também da pintura, escultura e artesanato e também da dança “socopé”, só com o pé, a Ússua, Puita, Danço-Congo, Bligá, Stleva, entre outras e encenações, tais como Tchiloli, Auto de Floripes.
Depoimento
Sobre o “Meeting São Tomé e Príncipe in Amsterdão”, que decorreu de 16 e 23 de Outubro de 2009, René Tavares fez o seguinte depoimento: “Julgo que a Holanda é dos países que não sofreu tanto com a crise económica mundial em relação aos outros países europeus.
Fizemos acordos com galerias que estão muito interessadas em expor a arte contemporânea são-tomense. Mostramos que a nossa arte não é simplesmente o retracto do nosso quotidiano, do “leve-leve” e que está num patamar igual ou aproximado à arte contemporânea internacional. São Tomé e Príncipe deu um grande passo de igualdade a nível da qualidade artística”.
Para além de René Tavares participaram os artistas plásticos são-tomenses, Adilson Castro, Eduardo Malé, Kwame Sousa, e Olavo Amado.