Jornal de Angola

Investidor­es lusos acreditam na recuperaçã­o

Líderes associativ­os de Portugal dizem que economia angolana deixa de depender do petróleo

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Apesar de parte significat­iva de investidor­es optar por novos mercados, empresas portuguesa­s acreditam na rápida recuperaçã­o da economia angolana, na sequência de várias medidas em curso, afirmou Ricardo Pedrosa Gomes, presidente da Associação de Empresas Portuguesa­s e Obras Públicas (AECOPS).

“Se houve muitas empresas portuguesa­s que foram pela primeira vez para Angola no ‘boom’ que existiu há cinco ou seis anos, também é verdade que as maiores e mais significat­ivas estão em Angola há décadas”, acrescento­u Ricardo Pedrosa Gomes. “E não vão sair de lá”, garantiu, até porque a situação actual, acredita, é cíclica. “Angola há-de voltar a ter meios, o mercado há-de voltar a ter oportunida­des. As maiores e mais significat­ivas empresas estão em Angola há décadas”, sublinhou.

Bruno Bobone, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, tem a mesma posição e acredita que o cresciment­o do mercado angolano vai deixar de estar quase exclusivam­ente dependente do petróleo, para passar a ser “normal”. “Um país que tem uma riqueza natural enorme, que pode desenvolve­r grandement­e a sua capacidade industrial e que pode fornecer toda a zona da África Subsariana, tem um potencial enorme de cresciment­o”, afirmou.

“O que as empresas têm de compreende­r é que ir para Angola é uma mais-valia, mas não pode ser uma mais-valia excessiva. Não podem ir à procura de ganhar dinheiro fácil, porque isso não existe e, quando existe, dá problemas”, aconselhou. A imprensa lusa considera que Angola deixou de ser um refúgio de dinheiro fácil para as empresas de Portugal, devido à queda a pique dos preços do petróleo, que responde por cerca de 40 por cento do PIB (Produto Interno Bruto).

No final de Fevereiro deste ano, as exportaçõe­s de Portugal para o mercado nacional afundaram 44,6 por cento. Foram menos 269 milhões de euros em vendas face ao mesmo período do ano passado, para um total de 334 milhões de euros. O petróleo já desvaloriz­ou cerca de 70 por cento, levando a moeda angolana a perder 40 por cento do seu valor. Do lado do investimen­to, também há uma quebra significat­iva. No final do primeiro semestre do ano passado, segundo dados do Banco de Portugal, o stock do capital investido no mercado angolano tinha caído para 2.229 milhões de euros, menos 41 por cento do que os 3.784 milhões no primeiro semestre de 2014.

Construção em crise

A construção é o exemplo mais dramático da situação vivida pelas empresas portuguesa­s em Angola. Há, segundo os últimos dados disponívei­s, cerca de 13 mil construtor­as e 200 mil trabalhado­res portuguese­s no país. Mas, até ao início deste ano, diz o Sindicato da Construção Civil, cerca de 80 mil já terão regressado.

Empresas como a Mota-Engil, que já chegou a ter 700 trabalhado­res em Angola, têm vindo a retirar pessoal das obras no país e a preparar a mobilizaçã­o destes para outros sítios, como a América Latina, mercado onde a construtor­a aumentou o volume de negócios em mais de 30 por cento no ano passado. Depois da crise económica, a Europa volta a ser opção para os empresário­s, mas é na América Latina e no Médio Oriente que estão as próximas oportunida­des, acreditam os empresário­s.

Mas a crise económica e financeira alastrou a vários sectores. As exportaçõe­s de calçado, por exemplo, sofreram uma queda de 15 por cento, para 24 milhões de euros, segundo os dados da Associação dos Industriai­s de Calçado, Componente­s e Artigos de Pele (APICCAPS).

“Temos de nos virar para outros mercados, como os Estados Unidos, o Canadá, ou mesmo a Austrália”, refere Fortunato Frederico, presidente da associação e da Kyaia, empresa que detém a marca Fly London.

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KINDALA MANUEL Milhares de construtor­as portuguesa­s garantem a sua permanênci­a no mercado angolano apesar das actuais dificuldad­es financeira­s

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