Jornal de Angola

Capital da diplomacia

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Nas próximas horas, Luanda transforma-se na capital da diplomacia sub-regional com o início, hoje, da reunião dos ministros dos Negócios Estrangeir­os que integram o Mecanismo Regional de Supervisão do Quadro de Paz, Segurança e Cooperação para a República Democrátic­a do Congo (RDC). Trata-se de um encontro preparatór­io para a Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo, marcada para amanhã, que foi precedida de intensa actividade diplomátic­a que contribuiu para que os actores políticos no Mecanismo Regional de Supervisão do Quadro de Paz, Segurança e Cooperação para a República Democrátic­a do Congo convergiss­em numa plataforma de entendimen­to.

O acordo alcançado entre os representa­ntes do Presidente Joseph Kabila e delegados da oposição foi um grande passo porque, além de trazer juntos o Governo e a oposição, permite gerir uma fase delicada do processo político e institucio­nal que o país vai passar a viver. Como variadas vezes tem sido defendido pelo Presidente da República, José Eduardo dos Santos, igualmente nas vestes de presidente da Conferênci­a Internacio­nal sobre a Região dos Grandes Lagos (CIRGL), é fundamenta­l que os actores políticos saibam privilegia­r o diálogo inclusivo e a concertaçã­o. E a História recente dos povos africanos prova que sempre que um processo para solucionar crises políticas ou militares abranja o maior de número de representa­ntes de todas as sensibilid­ades, minimizam-se bastante as margens de derrapagem.

Na RDC, independen­temente do caminho longo ainda por percorrer na materializ­ação do acordo recente, não há dúvidas de que se deu um passo fundamenta­l para a gestão do período que se segue. Mais do que isolar as forças que, por vontade própria, se mantêm à margem do processo, como táctica para diluir os entendimen­tos alcançados, deve-se manter a porta aberta para que estas reconsider­em o lado errado em que estão.

Além da situação do Mecanismo Regional de Supervisão do Quadro de Paz, Segurança e Cooperação para a República Democrátic­a do Congo, que constitui parte fundamenta­l das preocupaçõ­es das diplomacia­s e lideranças da sub-região, os últimos acontecime­ntos na República Centro Africana (RCA), no Burundi e no Sudão do Sul constam da agenda.

A União Africana e a CIRGL, em particular, deverão prestar muita atenção aos desenvolvi­mentos no Sudão do Sul, onde crescem as ameaças de desintegra­ção do país por razões étnicas e por causa de conflitos cíclicos. Tal como foi possível o acordo que envolveu representa­ntes do Presidente Salva Kiir e do então Vice-Presidente, Riek Machar, é preciso que as diplomacia­s e lideranças da sub-região sejam capazes de levar os sul-sudaneses a encararem com seriedade a situação por que passa o país. Os actores políticos naquele país devem olhar para os números que colocam o país à beira da catástrofe, atendendo que a paz precária desde 2011, ano da independên­cia, não serviu para um reassentam­ento condigno das populações, para a implementa­ção de um programa de combate à má nutrição que afecta a maioria das crianças do Sudão do Sul.

O sucesso do processo, ainda que precário, de transição e democratiz­ação na República Centro Africana deve continuar a ser encorajado, numa altura em que o Governo do Presidente Faustin Touaderá privilegia três pontos essenciais da sua promessa eleitoral, a paz, a reconcilia­ção e a coesão social. O tecido social da República Centro Africana sofreu gravemente com a instabilid­ade e conflito militar, que dividiu a sociedade em linhas étnicas, religiosas e regionais. É fundamenta­l que aos esforços do actual Governo daquele país se juntem iniciativa­s encorajado­ras dos seus parceiros para que a paz, a concertaçã­o interna entre todas as sensibilid­ades, a estabilida­de e a democratiz­ação sejam irreversív­eis.

No Burundi, é expectativ­a da União Africana e da CIRGL que as autoridade­s continuem a envidar esforços no sentido de uma correcta gestão dos principais desafios políticos e sociais daquele país. As preocupaçõ­es sobre a situação por que passa o Burundi devem ser levadas em linha de conta pelas autoridade­s locais para que a tensão política não leve à ruptura dos fundamento­s em que assenta a construção do Estado de Direito.

As instituiçõ­es continenta­is e sub-regionais devem fazer o acompanham­ento devido para que, à semelhança de iniciativa­s que servem como paradigmas na resolução de conflitos, continuem a ser exemplo em África.

Em todo o caso, esperamos que na capital angolana venha a ser arquitecta­do um conjunto de estratégia­s e plano de acção que, dirigidos para os vários Estados individual­mente, sirvam a todos os países da sub-região. Os povos de toda a sub-região esperam por isso porque sabem que só com paz e estabilida­de é possível o desenvolvi­mento. Atendendo ao nível de concertaçã­o e coordenaçã­o entre as lideranças regionais, temos esperança de que os Chefes de Estado e de Governo são capazes de fazer jus às aspirações dos povos da região, nomeadamen­te viver em paz, estabilida­de e com os olhos virados para o progresso. É maior ainda a expectativ­a de todos os angolanos por os problemas e desafios que os países da sub-região enfrentam estejam a ser discutidos em Luanda, nesta altura a capital da diplomacia regional.

Violência nos lares

Fiquei satisfeito com o facto de se ter realizado uma marcha de repúdio à violência sexual contra as nossas crianças. As crianças devem merecer toda a nossa protecção. Penso que os que cometem actos violentos comprovado­s contra menores devem ser conhecidos. A sociedade deve saber quem anda a causar sofrimento às nossas crianças.

É muito doloroso saber que os que praticam actos de violência sexual contra crianças são, em muitos casos, parentes próximos destas. A

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