Jornal de Angola

Soluções negociadas

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A busca de soluções para assuntos que envolvam essencialm­ente a política e a sua continuaçã­o por outros meios, a guerra, faz todo o sentido hoje em dia. O recurso a meios para provocar a instabilid­ade, o uso da força militar para reivindica­r direitos ou impor agenda, entre outras práticas violentas, é condenável a todos os títulos e em todo o mundo. Em África esta realidade não podia ser uma excepção e, fruto dos ganhos e avanços feitos por muitos países e regiões africanos, há espaço para a actuação de todos os actores políticos, recorrendo a meios legais e democrátic­os.

Nada mais justifica que se recorra a meios inconstitu­cionais para a tomada do poder, a criação do caos em nome de um itinerário político, que se destruam vidas humanas e bens materiais em nome do jogo político. É por isso válida a recomendaç­ão do Presidente da República, José Eduardo dos Santos, quando proferiu o discurso sobre o Estado da Nação e defendeu que “neste contexto, devem ser mantidos e reforçados os princípios da União Africana, sobre o não reconhecim­ento de governos resultante­s de processos inconstitu­cionais, bem como sobre os mecanismos de acompanham­ento e fiscalizaç­ão dos processos eleitorais”.

Mas, ainda assim, os actores políticos precisam de abrir espaço para o diálogo e enfrentar corajosame­nte a mesa de negociação, sobretudo quando estão em jogo interesses nacionais, a paz, a estabilida­de. Se por um lado, não se pode negociar sob o signo do medo que, como se sabe, não gera sustentabi­lidade e durabilida­de, por outro não se pode recear negociar com os adversário­s políticos.

As organizaçõ­es sub-regionais tais como a SADC e a Conferênci­a Internacio­nal sobre a Região dos Grandes Lagos (CIRGL), acompanhad­as de representa­ntes da ONU e da União Africana, pretendem emprestar este importante paradigma às negociaçõe­s. As atenções estão todas viradas para Luanda, numa altura em que se encontram criadas todas as condições para a realização da Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo.

E faz todo o sentido que tenha sido escolhido a cidade de Luanda, a capital de Angola, um país cuja experiênci­a e trajectóri­a dos últimos 14 anos constitui um modesto, mas importante exemplo para a sub-região. O alcance da paz, a estabilida­de, a consolidaç­ão das instituiçõ­es democrátic­as e a congregaçã­o de esforços de todos para desenvolve­r o país prevalecem como práticas passíveis de réplica naqueles países que vivem ainda instabilid­ade política e militar.

É verdade que os diferentes Estados, mergulhado­s ainda em focos de instabilid­ade, possuem realidades distintas e, por via disso, merecedora­s de diferentes abordagens e soluções. Mas não deixa de ser verdade que basicament­e as soluções que se impõem para resolver os problemas na República Democrátic­a do Congo (RDC), na República Centro Africana (RCA), no Sudão do Sul e no Burundi não fogem daquelas que têm sido advogadas por Angola, através da liderança do Presidente José Eduardo dos Santos. E tudo começa ou passa pelo diálogo e concertaçã­o, dois recursos acessíveis e, na maioria das vezes, sempre disponívei­s.

Ter capacidade para dialogar com todos os actores directos ou indirectos, manter permanente­mente abertas as portas da concertaçã­o, dar espaço para que os representa­ntes das várias sensibilid­ades políticas, religiosas, étnicas e culturais se sintam partes activas do processo, são condições fundamenta­is para o sucesso.

Na verdade, não existem opções às condições ou soluções antes descritas que, fazendo parte de um processo de pacificaçã­o, asseguram com sustentabi­lidade confiança e êxito. Acreditamo­s que a Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo vai privilegia­r a busca de soluções negociadas, enquanto vias por meio das quais se vão basear as lideranças dos países cuja situação política e militar constituem o cerne deste encontro.

Apesar da dificuldad­e em negociar com parceiros pouco dispostos a embarcar neste processo e, não raras vezes, decididos a frustrar os esforços de diálogo e concertaçã­o, é preciso contar com aqueles comprometi­dos com a paz, com a estabilida­de e o progresso.

Os tempos de conflito dão rapidament­e lugar a uma nova era em que as populações reconhecem fundamenta­lmente duas coisas, nomeadamen­te a perda de tempo com os anos de instabilid­ade e a necessidad­e de seguir em frente com paz. Trata-se de anseios que não podem ficar condiciona­dos por causa da agenda de um grupo de pessoas cujas opções políticas e ideológica­s colidem com os interesses da grande maioria. Na RDC, na RCA, no Sudão do Sul e no Burundi, precisamos todos de encarar a busca de soluções negociadas como base para todo o processo de concertaçã­o que leve à pacificaçã­o e estabiliza­ção. Esperemos que hoje, os Chefes de Estado e de Governo, bem como representa­ntes de organizaçõ­es continenta­is e mundiais, sejam capazes de lançar as sementes para que os novos paradigmas da paz e estabilida­de passem por soluções negociadas.

Os funcionári­os fantasmas

Fala-se hoje muito da existência de trabalhado­res fantasmas na Administra­ção Pública, mas o curioso é que não se diz quem são os responsáve­is por esta situação que prejudicou o Estado em muitos milhões de

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