Começa consulta sobre o futuro primeiro-ministro
SITUAÇÃO POLÍTICA NA GUINÉ-BISSAU
O Presidente da Guiné-Bissau, José Mário Vaz, iniciou, na segunda-feira, audições a dirigentes do país visando a nomeação de uma figura de consenso para o cargo de primeiro-ministro.
No começo da semana de trabalho, José Mário Vaz ouviu, em audiências separadas, os representantes da sociedade civil, das confissões religiosas e da Liga Guineense dos Direitos Humanos. Ontem, o Chefe de Estado recebeu representantes dos partidos sem assento parlamentar, estando agendado para hoje a reunião com as forças políticas representadas na Assembleia Nacional Popular (ANP, Parlamento), para decidir, até final da semana, sobre o nome do futuro primeiro-ministro, segundo fonte ligada ao processo.
Os responsáveis ouvidos na segunda-feira, Augusto da Silva, da Liga dos Direitos Humanos, Vença Mendes e Jorge Gomes, da plataforma das organizações da sociedade civil, e o pastor Caetano Indami, foram unânimes em recomendar “a escolha urgente de uma figura que possa merecer a confiança de todos.”
Os responsáveis da sociedade civil exortaram o Presidente guineense a “ser firme” em relação aos líderes políticos do país que assinaram os acordos de Conacri, mas que, “parecem não o querer respeitar”, notaram. Líderes políticos guineenses desavindos estiveram reunidos no início do mês na capital da Guiné-Conacri, sob a mediação do Presidente daquele país, Alpha Condé, visando encontrar um entendimento sobre a crise na Guiné-Bissau. Rubricaram um acordo que determinava que o primeiro-ministro a ser escolhido seria uma figura que merecesse a confiança do Chefe de Estado e que seja indicado de forma consensual entre todos.
Mas, nos últimos dias, a classe política guineense tem vindo ao público com interpretações díspares sobre o teor e o espírito dos acordos rubricados na Guiné-Conacri. Vença Mendes da plataforma da sociedade civil disse ter feito notar ao Presidente guineense que os signatários dos acordos de Conacri “não têm outra saída que não seja respeitarem o que assinaram.”
“Ninguém foi coagido a assinar”, disse Vença Mendes, antigo presidente do sindicato dos professores. A União para a Mudança (UM), partido com assento na ANP, afirmou na sexta-feira, que “existe já um nome de consenso para liderar o Governo de consenso e inclusivo, cuja formação é aguardada a qualquer altura na Guiné-Bissau e que ao se confirmar trará de volta ao país a normalidade institucional.
Agnelo Regala, que falava em conferência de imprensa, afirmou existir já um nome de consenso em relação aos três nomes avançados pelo Presidente José Mário Vaz, que em principio tem a missão de tornar público o nome da individualidade escolhida. O líder da União para a Mudança explicou que tal “consenso” não constou no Acordo, nem no Comunicado Final da mesa redonda de Conacri, “por uma questão de soberania.”
“Oportunamente, esse nome foi apresentado em primeira mão ao Presidente da República, José Mário Vaz, que, em principio, tem a responsabilidade de o tornar público”, frisou.
Liberdade de imprensa
O Presidente da Guiné-Bissau, José Mário Vaz, pediu “moderação e responsabilidade” aos jornalistas em prol da liberdade de imprensa e de opinião. O líder guineense fez o apelo segunda-feira na abertura de um seminário internacional promovido pelo Conselho Nacional de Comunicação Social do país para, entre outros temas, falar da regulação editorial na Internet. O encontro, que decorre até amanhã, junta cerca de 100 pessoas, na maioria jornalistas guineenses e alguns peritos portugueses. O Presidente da Guiné-Bissau afirmou que é pela total liberdade dos jornalistas, mas desde que haja moderação e responsabilidade, sob pena de se colocar em causa a própria estabilidade social. “A classe política, a sociedade civil, mas sobretudo os órgãos de comunicação social devem poder fazer o seu trabalho, de informar e formar a opinião pública, de forma livre, sem serem incomodados”, referiu. José Mário Vaz ressalvou que se as liberdades “não forem exercidas com moderação e responsabilidade, existe o risco de se transformarem em instrumentos de manipulação e de destabilização.”
Liberdade sim, mas insulto nunca, defendeu ainda o Presidente guineense. “O contraditório é saudável na justa medida em que discordar não significa insultar e pôr em causa a dignidade da pessoa com quem não concordamos. A dignidade humana e institucional deve ser respeitada”, enfatizou José Mário Vaz.
O Presidente guineense destacou o facto de, durante os dois anos do seu mandato, nenhum jornalista ter sido perseguido a mando do Chefe do Estado.
Sobre a importância do encontro, o Presidente guineense disse ser uma oportunidade para a troca de experiencias e estreitar os laços de cooperação entre os profissionais da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).