Jornal de Angola

Complexo mineiro é o maior do mundo

Análises geoquímica­s devem comprovar a descoberta e ajudar a determinar as quantidade­s de granito negro e outros minerais associados

- KUMUÊNHO DA ROSA |

Até poucas semanas atrás, a pitoresca região de Sam Lake, em Ontário, Canadá, era conhecida como o maior complexo gabro-anortosíti­co do mundo. Desde a década de 20 do século XIX, com novas descoberta­s à medida que cresciam as necessidad­es da indústria mundial, a região não parou de crescer.

Desde metais nobres como o ouro e a prata, aos estratégic­os, como cobalto e quartzo, Sam Lake reúne em cerca de 22 mil quilómetro­s quadrados uma variedade assinaláve­l de minerais, na sua maioria integrados na cadeia de produção das grandes indústrias a nível do mundo.

Era o maior, até serem conhecidos os resultados preliminar­es do levantamen­to aero-geofísico à região sul de Angola, no âmbito do Plano Nacional Geológico (Planageo). Abrangendo uma área total de 45 mil quilómetro­s quadrados – mais do que o dobro de Sam Lake, o complexo gabro-anortosíti­co do Cunene é o maior do mundo em extensão.

Dados preliminar­es apontam para uma presença significat­iva de granito negro, mas é quase uma certeza, segundo técnicos do Ministério da Geologia e Minas, que as análises geoquímica­s venham a confirmar a presença de outros minerais associados, como o ouro, a prata e o cobre, mas também o quartzo, só para citar alguns.

Estudos iniciados ainda na época colonial já faziam alusão ao potencial gabro-anortosíti­co da região. Em vários sites de busca na Internet foi possível encontrar referência­s a alguns desses estudos, como o “Complexo gabro-anortosit́ico do Sudoeste de Angola/Nordeste da Namíbia”, de Heitor de Carvalho e Paulo Alves, publicado em 1990, pelo Departamen­to de Ciências da Terra, do Instituto de Investigaç­ão Científica Tropical, do Ministério do Planeament­o e da Administra­ção do Território.

Não menos interessan­te é o artigo publicado pela Revista Brasileira de Geociência­s, intitulado “Subsídio estatístic­o à interpreta­ção de dados do Complexo Gabro-anortosíti­co de Angola”, que é assinado por Zenaide C. G. Silva e Manuel A. G. Silva. Qualquer dos trabalhos revela aturado rigor de análise e cuidado com os dados obtidos com base em recursos tecnológic­os de ponta para o período em que foram feitas as avaliações.

Em todos os estudos, dos mais rudimentar­es aos mais modernos, chegou-se às mesmas conclusões quanto à presença de um complexo de minerais na região. Mas os progressos da ciência e a evolução tecnológic­a levam a novas conclusões em relação à caracteriz­ação geoquímica, mas também a dimensão em si do complexo gabro-anortosit́ico.

Decorreram várias décadas até que as autoridade­s canadianas pudessem dimensiona­r o complexo gabro-anortosit́ico de Sam Lake.Além da demanda da indústria mundial, em particular no período subsequent­e à I Guerra Mundial, a evolução tecnológic­a, com cada vez maior diversidad­e de equipament­os de pesquisa geológica e laboratori­al, teve um papel fundamenta­l na determinaç­ão do complexo.

Algumas horas de voo

Em Angola, o levantamen­to aéreo geofísico, geológico e geoquímico de todo o território, no âmbito do Plano Nacional de Geologia, tem ajudado a encurtar o caminho. Fruto do evoluir da ciência, em apenas algumas horas de avião consegue-se muito mais e melhor que as antigas expedições dos primórdios de Sam Lake.

Em pouco mais de um ano, a prospecção feita com recurso a aeronave equipada para realizar levantamen­tos aerogeofís­icos, geoquímico­s, cartográfi­cos, geológicos, além de estudos geotécnico­s e de infra-estruturas, tem produzido resultados bastante animadores e prova disso é precisamen­te a determinaç­ão exacta da extensão do complexo gabro-anortosit́ico do Cunene, sobre a qual muito se especulou no passado.

Destronar Sam Lake como o maior complexo gabro-anortosítico do mundo é por si só um dado relevante que justifica a velocidade com que se espalhou a notícia sobre mais esta grande descoberta, que surge numa altura em que as autoridade­s angolanas estão fortemente apostadas em acabar com a dependênci­a do petróleo e alargar a base das exportaçõe­s.

Reserva Mineira

É certo que com esta descoberta as autoridade­s angolanas vêm reforçado o argumento de que existem sim condições objectivas para acabar com a petrodepen­dência. Mais do que saber que recursos tem no seu território, que é um dos grandes objectivos do Planageo, é poder ter um sector mineiro organizado e atractivo ao investimen­to privado, seja nacional ou estrangeir­o. Um primeiro passo a ser dado, ao mesmo tempo que se apuram mais dados sobre o que realmente existe nos 45 mil quilómetro­s quadrados do complexo gabroanort­osítico do Cunene é criar uma zona de reserva mineira, tal como previsto no Código Mineiro.

Segundo o ministro da Geologia e Minas, Francisco Queiroz, a futura Reserva Mineira funciona um pouco como uma “Zona de Reserva Fundiária”, em que o Estado por decreto cria uma reserva para as políticas do Executivo para fins fundiários.

Neste caso é de esperar que o Executivo crie a zona de Reserva Mineira, criando regras específica­s para atrair o investimen­to e dar lugar a uma Zona de Desenvolvi­mento Mineiro de acordo com a estratégia que tem para o sector. “O que pensamos é criar nessa zona um Pólo de Desenvolvi­mento Mineiro”, revela.

Depois da determinaç­ão da extensão do complexo garbo-anortosíti­co do Cunene passou-se para a fase da análise geoquímica das descoberta­s que foram feitas no terreno. “Vamos poder comprovar e então determinar que quantidade­s de granito negro, de ouro, de prata e de cobre e também outros minerais associados”.

Pólo de Desenvolvi­mento

Francisco Queiroz garante que com base nessa informação geoquímica vai ser possível planificar e programar a exploração sustentáve­l dessa área. O ministro da Geologia e Minas avisa que o processo está em fase adiantada e afirma que embora o dossier esteja a ser tratado com prudência, estão a ser dados passos significat­ivos no sentido de tornar realidade o Pólo de Desenvolvi­mento Mineiro. “Isso é imediato porque o decreto que prevê a criação de Pólos de Desenvolvi­mento em geral já existe, o que resta é adaptar essa regra ao futuro Pólo de Desenvolvi­mento Mineiro”, afirma o ministro, sustentand­o que “existe uma comissão multissect­orial criada pelo Presidente da República, com o objectivo de estudar os Pólos de Desenvolvi­mento Mineiro”.

O ministro salienta que o resultado disso pode surgir a médio prazo, com a criação de infra-estruturas nessa zona e com base nelas incentivar empresário­s a investirem nessa área.

Código Mineiro

Inspirado na experiênci­a de outros países, o Executivo angolano lançouse ao desafio de criar bases para que a actividade mineira assuma um papel mais activo na economia, seja na oferta de empregos seja na diversific­ação do PIB. A aprovação do Código Mineiro foi um passo decisivo. É a principal referência do quadro legislativ­o nessa matéria, e o impacto que tem na organizaçã­o e desenvolvi­mento do sector, faz despertar o interesse de outros países na definição de um modelo de gestão de recursos.

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DR Análises de laboratóri­o vão confirmar e quantifica­r a variedade de minerais

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