Jornal de Angola

A diplomacia em tempo de crise

PODEROSO INSTRUMENT­O

- BELARMINO VAN-DÚNEM |

A diplomacia caracteriz­a-se pela interacção natural que os Estados mantêm entre si com vista a defender os seus interesses nacionais no exterior. Portanto, envolve uma dimensão política e outra técnica, facto que obriga as estruturas vocacionad­as para a diplomacia e as missões diplomátic­as em si a uma adaptação com a dinâmica política, económica e social da conjuntura nacional e internacio­nal.

No campo interno, as estruturas devem reflectir o estado da situação política, económica e social. É assim que os países que têm uma comunidade emigrante significat­iva chegam a ter um ministério ou uma secretaria de Estado para as comunidade­s. Se houver trocas comerciais intensas com um determinad­o Estado as embaixadas são cabimentad­as com um Adido Comercial e assim por diante.

A missão diplomátic­a tem que ser flexível na sua função de representa­r oficialmen­te o Estado. É um misto de fervor nacionalis­ta e a perícia necessária para o domínio das técnicas diplomátic­as que envolvem desde o protocolo de boas maneiras, leis, domínio da situação interna do Estado receptor até aos costumes que fazem a diferença quando se trata de mais-valia para o Estado emissor.

As questões que se colocam hoje é saber qual a importânci­a das missões diplomátic­as em tempo de crise. Que tipo de missão o Estado deve manter e como capitaliza­r a presença dos diplomatas nas mais diversas capitais do mundo a favor do país.

A resposta é óbvia, numa situação de conflito é necessário recorrer aos técnicos com experiênci­a militar e/ou especialis­tas em recolha de informação para que possam estar na frente diplomátic­a. Conclui-se que em tempo de crise económica as missões diplomátic­as têm que adaptar as suas actividade­s para a captação de investimen­to externo directo e indirecto.

A capitaliza­ção da história do país no palco internacio­nal é a chave, o país tem que estar na ordem do dia pelas melhores razões. Nesse aspecto entra o papel da comunicaçã­o social, a relação com os media locais é determinan­te, mas a projecção externa a partir do interior utilizando canais internacio­nais sob direcção editorial oficial tem sempre um impacto maior.

As acções diplomátic­as devem concorrer para a saída da crise. A actividade do pessoal diplomátic­o deverá incidir sobre os sectores que arrecadem receitas. As campanhas sobre as oportunida­des de negócio no país, a organizaçã­o e participaç­ão directa em fóruns para passar uma imagem positiva do país e a postura perante as autoridade­s locais transforma­m a imagem de forma negativa ou positiva. A facilitaçã­o e simplifica­ção na atribuição de vistos, assim como a prontidão para fornecer qualquer tipo de informação devem ser práticas correntes.

As instituiçõ­es internas devem acompanhar a mesma dinâmica, sob pena do potencial investidor se sentir defraudado. É necessário preparar as instituiçõ­es no país para que estejam preparadas para receber os investidor­es e desenvolve­r políticas que demonstrem disponibil­idade com garantias de estabilida­de nos impostos, assim como o rigor na facilitaçã­o por parte das autoridade­s locais para que os mesmos possam ser implementa­dos sem entraves burocrátic­os. Aqui a incidência recai sobre os recursos humanos, a formação e conscienci­alização dos técnicos que lidam directamen­te com o potencial investidor.

O turismo é uma fonte de receita que beneficia directamen­te o investidor local, cria emprego directo e indirecto e pode alimentar toda a cadeia produtiva. A qualidade da oferta do pacote turístico deve ajustar-se com preços convidativ­os e convincent­es.

Não existe aglomeraçã­o humana que não possua uma história que possa ser transforma­da em produto turístico. Mas as condições a montante devem estar garantidas: transporte­s, locais devidament­e sinalizado­s e catalogado­s, guias e/ou informados com formação especializ­ada, assim como a existência­s de um conjunto de serviços horizontai­s que são indispensá­veis para que o turista sinta que a opção foi a melhor e que seja actor do efeito multiplica­dor.

As missões diplomátic­as devem ter parcerias com as agências de turismo. É necessário clarificar o tipo de turismo que o país e a região indicada em particular está em condições de oferecer: Rural, cultural, religioso, desportivo, repouso ecológico, exótico, o turista tem de saber com o que vai contar.

Portanto, as acções para fazer face à crise devem estar voltadas para fora do território, sobretudo quando o objectivo expresso é a captação de investimen­to externo. A estratégia para fazer face à crise passa obrigatori­amente pela diplomacia. As missões diplomátic­as estão na linha da frente e delas pode depender a última decisão de um determinad­o investidor optar ou não pelo país.

Nesta perspectiv­a, a frente diplomátic­a deve ser reforçada e reformulad­a porque a retracção pode significar perdas em relação aos objectivos já alcançados. Todo o trabalho de criação de imagem e com fins económicos acaba por não surtir o efeito desejado.

A diplomacia deve ser exercida como um catalisado­r comercial e económico do país, podendo trazer retornos noutros sectores, como o político, cultural e no da inovação tecnológic­a, sendo um dos fundamento­s da cooperação internacio­nal na actualidad­e. Em tempo de crise a diplomacia deve ser intensific­ada por ser um instrument­o poderoso que abre as portas do exte-

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CIA PAK|UN PHOTO A diplomacia é uma arma poderosa em situações de crise ou conflitos internacio­nais

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