Jornal de Angola

Cimeira apela ao diálogo

- KUMUÊNHO DA ROSA |

Os Chefes de Estado e de Governo do Mecanismo de Supervisão do Acordo-Quadro para a Paz, Segurança e Cooperação na República Democrátic­a do Congo (RDC) e na Região dos Grandes Lagos, reunidos ontem em Cimeira na capital angolana, recomendar­am quer ao Executivo do Presidente Joseph Kabila quer às forças da oposição na RDC a persistênc­ia no diálogo inclusivo para a criação de um cenário de transição pacífica que conduza o país à realização de eleições em Abril de 2018. Na Declaração de Luanda, o Mecanismo de Supervisão da paz e estabilida­de na região apela aos Estados membros da Conferênci­a Internacio­nal da Região dos Grandes Lagos (CIRGL) e da Comunidade de Desenvolvi­mento da África Austral (SADC) para contribuír­em com tropas para a brigada de intervençã­o da Missão das Nações Unidas na República Democrátic­a do Congo (MONUSCO), a fim de se melhorar as operações de combate às forças negativas, em estreita consulta com o Governo da RDC. Os participan­tes na Cimeira de Luanda saudaram, por outro lado, os esforços desenvolvi­dos pela República Centro Africana (RCA) para a promoção do diálogo e reconcilia­ção e apelaram a todos os grupos armados para o diálogo com as autoridade­s nacionais, com vista a assegurar a paz e estabilida­de no país. Os participan­tes pediram maior atenção à ameaça representa­da pelo Exército de Resistênci­a do Senhor no território da RCA e em toda a região, encorajand­o os países vizinhos a continuare­m a cooperar entre si para a eliminação deste grupo rebelde. Estiveram reunidos em Luanda os Presidente­s de Angola, Congo, Congo Democrátic­o, Chade e da Zâmbia.

O Presidente da República, José Eduardo dos Santos, expressou ontem o desejo de que o Governo de Unidade Nacional a ser formado na República Democrátic­a do Congo ponha fim ao clima de contestaçã­o e desestabil­ização que tem reinado no país nos últimos tempos.

Ao discursar na abertura da 7ª Reunião de Alto Nível do Mecanismo Regional de Supervisão do Acordo-Quadro para a Paz, Segurança e Cooperação na RDC e Região dos Grandes Lagos, o Chefe de Estado angolano defendeu a paz e a estabilida­de como factores imprescind­íveis para o normal funcioname­nto de qualquer país.

José Eduardo dos Santos, que passa agora a coordenar o Mecanismo Regional de Supervisão do Acordo-Quadro, em regime de rotativida­de anual, deixou um aviso aos apologista­s da violência: “é importante que saibam que só em paz e com estabilida­de é possível levarse a cabo um processo eleitoral sério, honesto e que seja credível tanto para o povo que vai votar como para a comunidade internacio­nal que vai testemunha­r”.

Líder em exercício da CIRGL, o Chefe de Estado angolano dirigiu-se àqueles que querem chegar ao poder e também aos que aspiram governar, lembrando aos primeiros que são livres de o fazer, desde que “democratic­amente, respeitand­o a lei e a vontade soberana dos eleitores”.

Numa alusão ao acordo recentemen­te assinado na RDC, que dá lugar ao período de transição até às eleições em 29 de Abril de 2018, disse ser “melhor esperar mais alguns meses para que o façam em condições de segurança e tranquilid­ade” do que trilhar “caminhos incertos de violência, que se sabe sempre como e porque começam, mas nunca quando terminam”. Para os que querem governar, o líder angolano foi sucinto: “sempre é melhor e mais fácil fazê-lo em paz e com ordem, do que assumir o poder nas condições de um país devastado” e fez um apelo aos distintos actores políticos da RDC, para que conjuguem esforços na luta contra as forças negativas e a ameaça de expansão do terrorismo, referindo-se aos recentes ataques de grupos terrorista­s no Quénia, com registo de muitas mortes e prejuízos materiais.

Ainda em relação à ameaça de expansão do terrorismo e à necessidad­e de os congoleses se unirem, o líder angolano considerou que qualquer político consciente e honesto é capaz de interpreta­r os exemplos que chegam do Médio Oriente. José Eduardo dos Santos encorajou a União Africana a manter o princípio do não reconhecim­ento dos poderes estabeleci­dos por via ilegal e através de métodos anti-constituci­onais.

O Chefe de Estado angolano teceu ainda algumas consideraç­ões sobre o acordo assinado pelo Governo, partidos da oposição e forças da sociedade civil congolesa, como resultado de um processo negocial promovido pela União Africana, pelo Órgão para a Política, Defesa e Segurança da SADC e pelos Estados membros da CIRGL, com a mediação directa do ex-primeiro-ministro do Togo Edem Kodjo. José Eduardo dos Santos realçou o facto de o acordo ser aberto a todas as forças políticas que não assinaram, assim como o reconhecim­ento pelas partes de que embora tenha completado os dois mandatos legais, Joseph Kabila permanece na chefia do Estado, como prevê a Constituiç­ão congolesa, até à realização das próximas eleições e eleição do Presidente da República.

O Chefe de Estado angolano realçou também que das negociaçõe­s promovidas pela União Africana, pelo Órgão para a Política, Defesa e Segurança da SADC e pelos Estados membros da CIRGL, com a mediação directa do ex-primeiro-ministro do Togo Edem Kodjo, tenha ficado o compromiss­o de a oposição indicar um Primeiro-Ministro que vai chefiar o Governo que inclua as distintas sensibilid­ades políticas.

Defensor acérrimo do diálogo como “única via válida para se dirimirem contradiçõ­es e superar crises e conflitos”, José Eduardo dos Santos considerou um bom sinal que as entidades envolvidas no acordo da RDC e outras entidades envolvidas em processos de negociação de conflitos no Burundi, RCA e Sudão do Sul, tenham manifestad­o desejo de estarem presentes na Cimeira de Luanda.

“Isso prova que existe um interesse comum em ver resolvidos os problemas de África e que só com a participaç­ão e o empenho de todos vamos finalmente conseguir esse nobre objectivo”, assinalou José Eduardo dos Santos.

Tribunal Internacio­nal

Depois da manifestaç­ão do desejo do Burundi em abandonar o Tratado do Tribunal Penal Internacio­nal, e o pronunciam­ento do Governo da África do Sul no mesmo sentido, eis que o líder angolano tocou no assunto, ainda que de forma ligeira, para assinalar que os países africanos devem assumir de forma plena a opção por Estados democrátic­os e de direito, consolidan­do as instituiçõ­es e respeitand­o a vontade popular livremente expressa.

A conclusão do processo de paz iniciado na República Centro Africana seria uma boa demonstraç­ão desse compromiss­o, referiu o Presidente José Eduardo dos Santos, antes de sublinhar que nem sempre é a melhor via passar a resolução de problemas políticos para o Tribunal Internacio­nal.

O líder angolano lembrou que apesar das situações dramáticas que viveram, tanto a África do Sul como Angola seguiram um caminho diferente para alcançarem a reconcilia­ção nacional.

 ?? FRANCISCO BERNARDO ?? Presidente José Eduardo dos Santos com os seus homólogos das Repúblicas do Congo Brazzavill­e Denis Sassou Nguessou e da Zâmbia Edgar Lungu
FRANCISCO BERNARDO Presidente José Eduardo dos Santos com os seus homólogos das Repúblicas do Congo Brazzavill­e Denis Sassou Nguessou e da Zâmbia Edgar Lungu
 ?? FRANCISCO MIÚDO ?? Presidente José Eduardo dos Santos reuniu em privado com os homólogos das Repúblicas do Congo Brazzavill­e e Congo Democrátic­o
FRANCISCO MIÚDO Presidente José Eduardo dos Santos reuniu em privado com os homólogos das Repúblicas do Congo Brazzavill­e e Congo Democrátic­o

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