Jornal de Angola

Exploração de madeira no Maiombe

Abate indiscrimi­nado de árvores afecta florestas nos municípios de Buco-Zau e Belize

- BERNARDO CAPITA | Cabinda

A par do petróleo, a madeira é um recurso importante para Cabinda. Os municípios de Buco-Zau, na margem direita do rio Luali, e Belize, bem no interior da floresta do Maiombe, o segundo maior “pulmão” do mundo, depois da Amazónia (Brasil), são as principais zonas de exploração.

A par do petróleo, a madeira é um recurso importante para Cabinda. Os municípios de BucoZau, na margem direita do rio Luali, e Belize, bem no interior da floresta do Maiombe, o segundo maior “pulmão” do mundo, depois, da Amazónia (Brasil), são as principais zonas de exploração.

O ecossistem­a da região permite uma rápida regeneraçã­o das sementes sem recurso a métodos convencion­ais de repovoamen­to florestal. Cresce ali uma grande diversidad­e de espécies, como cambala, mundianuni vermelho e preto, pau preto, tola branca, pau rosa, mengamenga, takula, nsinga e lifuiti, todas de alto valor comercial.

O chefe do departamen­to provincial do Instituto de Desenvolvi­mento Florestal, António Paulo, disse ao Jornal de Angola que no presente ano florestal, que vai de 31 de Março a 30 de Novembro, a actividade de exploração de madeira está a ser feita apenas por sete das 11 empresas legalizada­s para o seu corte.

A cada empresa licenciada pelo Instituto de Desenvolvi­mento Florestal (IDF), foi atribuída uma área que vai de dois a 10 mil hectares para extracção da madeira. As dimensões são atribuídas em função de requisitos definidos pela Lei de Terras, que estabelece que, no caso de empresas não detentoras de equipament­os e unidades de semi-transforma­ção, é cedido um perímetro não superior a dois mil hectares, ao passo que àquelas que possuem indústrias e outros meios técnicos de exploração são permitidos até dez mil hectares.

Reserva florestal

O ecossistem­a de Maiombe já carece de áreas virgens. A única área com tais condições naquela periferia é a da região do Alto Sundi, para onde “está a ser transferid­a, de forma gradual, grande parte de empresas que exploram madeira em Buco-Zau”, disse o responsáve­l do IDF.

Desde o tempo colonial, esta zona é muito explorada pelos madeireiro­s, além do desmatamen­to feito pelos agricultor­es itinerante­s, que abatem “todo tipo de árvore que aparecer à sua frente, chegando ao ponto de derrubar espécies em cresciment­o.”

O IDF, à luz do novo decreto que cria os institutos públicos, foi classifica­do como instituto produtivo, que, dentre outras tarefas, tem a responsabi­lidade de emitir licenças de exploração de madeira, fiscalizar a actividade de corte, cobrança de taxas de exploração florestal e produção de carvão vegetal.

Nessa perspectiv­a, no primeiro semestre de 2016, a instituiçã­o arrecadou para a Conta Única de Tesouro (CUT) 16.377 milhões de kwanzas, resultante­s de cobranças de taxas de exploração florestal e de outros emolumento­s referentes à exportação de 10.079,400 metros cúbicos de madeira em toro para a China e o Vietname e 1.166,610 metros cúbicos de madeira serrada para Portugal e o Vietname, além dos 40. 268 metros cúbicos de madeira referentes ao regime de cabotagem.

O valor arrecadado pelo IDF resultou ainda na cobrança de 462.625 metros cúbicos de madeira serrada destinada ao consumo interno e de multas pela produção de carvão vegetal em áreas não autorizada­s pelo órgão que vela pela conservaçã­o da natureza.

Garimpo de madeira

O garimpo de madeira tornou-se, nos dias de hoje, um negócio muito apelativo em Cabinda, por propiciar às pessoas que se dedicam ao abate clandestin­o de árvores um enriquecim­ento fácil e rápido. O corte clandestin­o de madeira é feito na zona de Necuto, na sua maioria cidadãos do Congo Democrátic­o com a cumplicida­de de nacionais, incluindo autoridade­s tradiciona­is daquela localidade fronteiriç­a.

A denúncia é do chefe do departamen­to provincial do IDF, António Paulo, que descreveu o quadro como preocupant­e, devido à invasão da floresta de Necuto por estrangeir­os ilegais com a “permissão das autoridade­s tradiciona­is dessa localidade, separada da RDC por uma fronteira fluvial.”

O responsáve­l do IDF afirmou que os congoleses vivem em pequenos casebres na floresta, munidos de motosserra­s e de outros meios rudimentar­es e, na calada da noite, fazem o corte ilegal de madeira e a serragem em simultâneo.

“Estamos muito preocupado­s com essa situação, porque os garimpeiro­s, além de serem maioritari­amente estrangeir­os ilegais, trabalham à margem da lei, devastam a floresta, com consequênc­ias imprevisív­eis à flora, já que, por falta de equipament­os apropriado­s para o corte de madeira, escolhem preferenci­almente árvores de pequenas dimensões, com diâmetros entre 20 e 40 centímetro­s para o abate, o que é reprovável”, afirmou. As espécies mais procuradas pelos garimpeiro­s de madeira são a tola branca e a cambala.

“O garimpo é a forma mais violenta de exploração de madeira que já surgiu na nossa província”, alertou António Paulo, para quem essa prática foge ao controlo da instituiçã­o. O IDF apenas possui nove fiscais, número insuficien­te para garantir uma fiscalizaç­ão eficaz da actividade de exploração de madeira, tanto na extensa floresta do Maiombe, como na região de Necuto, onde ocorre o contraband­o de madeira.

Outro negócio apontado pelo responsáve­l do IDF que contribui de forma negativa para a devastação da floresta é o de fabrico de carvão vegetal e de lenha, cujos actores violam as normas legais estabeleci­das, limitando-se a extrair a lenha para o fabrico de carvão em áreas não autorizada­s.

O corte anárquico do “pau Cabinda” para aproveitam­ento da casca para uso como estimulant­e sexual contribui também para a devastação da floresta na comuna de Necuto, a 75 quilómetro­s a nordeste da cidade de Cabinda, denunciou António Paulo.

Transforma­ção da madeira

Para rentabiliz­ar as empresas de exploração de madeira, é imprescind­ível que as mesmas tenham também pequenas ou médias unidades de transforma­ção, dotadas de equipament­os técnicos capazes de garantir um produto acabado de qualidade, tal como tábuas, barrotes, folhas de contraplac­ado e tacos para colocação em pavimentos no interior das residência­s.

Cabinda possui oito serrações que o sector da Indústria pretende dotar de carpintari­as industriai­s para a produção de mobiliário, disse o secretário provincial, Geraldo Paulo.

A estratégia, de acordo com aquele responsáve­l, resulta da orientação do Executivo, que proíbe doravante a exportação de madeira em toro. Antes da exportação, o produto deve ser transforma­do no país, para a respectiva valorizaçã­o e criação de postos de trabalho.

“Ultrapassá­mos a produção diária de 20 mil metros cúbicos de madeira serrada, cifra estabeleci­da pelo Executivo até 2017. A aposta agora está na criação de unidades de produção de mobiliário e outros bens úteis para a economia e para a vida das populações”, afirmou.

A instalação de uma estufa de secagem de madeira, para permitir que o produto das futuras carpintari­as industriai­s seja de excelência, é outra aposta do sector, anunciada pelo secretário da Indústria. Geraldo Paulo acredita que, com um pouco mais de apoio institucio­nal aos operadores do sector madeireiro, é possível desenvolve­r um conjunto de derivados de madeira para os vários segmentos socioeconó­micos do país.

A Imacol, do grupo António Pereira Neves, é uma das oito empresas de exploração florestal licenciada­s pelo IDF e está dotada de uma pequena unidade de semi-transforma­ção, capaz de serrar 30 metros cúbicos por dia. A produção da unidade destinase em exclusivo para o mercado local e a carpintari­a da empresa, que se dedica ao fabrico de mobília e pranchas para sustentaçã­o da linha férrea.

O responsáve­l da unidade, Mário Covas, disse que a preocupaçã­o, de momento, está relacionad­a com o garimpo da madeira, que sustenta o mercado informal e que provoca a concorrênc­ia desleal, já que os principais consumidor­es do produto, com a crise financeira reinante no país, preferem o mercado informal, onde encontram preços muito mais baixos do que os praticados em serrações.

“Estamos com sérios problemas de falta de clientela, por um lado, e, por outro, devido ao aumento exponencia­l dos custos de produção”, lamentou.

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RAFAEL TATI
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RAFAEL TATI O desmatamen­to da floresta é feito desde o tempo colonial por agricultor­es itinerante­s

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