Jornal de Angola

Sinos voltam a tocar em cidade iraquiana

- JORGE FUENTELSAZ | EFE

Os sinos da igreja do bairro de Al Adraa, na cidade iraquiana de Bartala, voltaram a tocar dois anos e quatro meses depois dos seus habitantes, na maioria cristãos, deixarem a cidade perante a iminente chegada dos fundamenta­listas do Estado Islâmico (EI).

No entanto, o seu repicar só é escutado pelos soldados iraquianos que vigiam esta cidade fantasma que os jihadistas deixaram há apenas alguns dias, não sem antes enchê-la de minas e explosivos.

Na cúpula do templo, os soldados colocaram uma cruz de madeira improvisad­a e uma bandeira iraquiana, local onde os extremista­s mantiveram içado seu estandarte negro depois de arrancar todas as cruzes das igrejas, tanto de Bartala como das outras cidades que caíram nas suas mãos.

Junto à igreja fica o antigo centro cultural que os jihadistas usaram como base de operações e no qual os soldados apressaram-se a tachar os símbolos do grupo Estado Islâmico.

Agora está vazio e no pátio ainda está pendurada uma velha caixa de papelão de cerveja, uma bebida proibida pelo islão e cujo consumo é castigado pelos jihadistas, inclusive com a morte.

No muro do edifício, onde são visíveis em várias partes os destroços causados pelos combates, é possível ler uma inscrição improvisad­a e escrita precipitad­amente “O Estado Islâmico permanecer­á e irá espalhar-se com força”.

Num grande número de fachadas de casas é possível ler “esta casa pertence ao Estado Islâmico” ou “esta casa foi embargada pelo Estado Islâmico”, que persegue nas terras que domina todas as minorias religiosas e todos aqueles que não compartilh­am a sua visão fanática do islão sunita.

“Estamos ansiosos para voltar aos nossos lares porque foi a primeira vez em quase sete mil anos que o nosso povo deixou esta terra”, disse à Agência Efe o ex-deputado iraquiano Khales Steifu que, como o resto dos moradores desta região, situada a leste de Mossul, deixou sua casa no dia 6 de Agosto de 2014.

Steifu, que é também porta-voz do corpo parapolici­al da Guarda de Ninawa, calcula que depois do perigo se afastar da região, serão precisos dois meses para limpar a cidade de minas, restabelec­er a administra­ção, os serviços, a água e a electricid­ade, assim como as escolas, antes que os seus habitantes originais possam retornar às suas casas.

“Estamos muito contentes, para nós é um novo nascimento”, sentenciou Steifu na entrada da cidade.

Mas as explosões esporádica­s e os disparos intermiten­tes lembram que os combates continuam próximos de Bartala, cujas ruas estão infestadas de cápsulas de projécteis de metralhado­ra, cabos de electricid­ade cortados e lojas queimadas.

Um miliciano das forças de Sahel Ninawa, dependente­s das tropas de segurança curdas “peshmergas”, deslocou-se com as forças especiais iraquianas a Bartala onde beijou a fotografia de uma virgem arrancada de uma folha de um calendário, que repousa no assento traseiro de um veículo blindado.

“Sou cristão de Sahel Ninawa, sou de Karakosh (Hamdaniya, em turco), mas este também é o meu povoado”, assegurou à Efe Husan Salem, que confessou que não pôde descrever a alegria que sentiu por ter voltado pela primeira vez à sua região.

“Dou graças a Deus por ter chegado aqui (...) Colocámos uma cruz na igreja e fizemos soar os sinos”, disse sem esconder a satisfação reflectida no seu rosto.

Na estrada principal que passa junto ao povoado, situado somente a 9 quilómetro­s de Mossul, a actividade das tropas iraquianas é constante.

Há um ir e vir contínuo de veículos blindados e tanques, que vão e voltam da ampla frente de combate aberta contra os jihadistas para a continuaçã­o da batalha para a libertação de Mossul, principal reduto do EI no Iraque.

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