Jornal de Angola

Implementa­ção do IVA requer medidas adicionais

Reduzida literacia fiscal e financeira entre os quatro desafios a superar pela Administra­ção Geral Tributária

- MADALENA JOSÉ |

A implementa­ção do Imposto sobre o Valor Acrescenta­do (IVA) em Angola vai levar ainda um longo caminho e requer uma série de medidas como a organizaçã­o da própria Administra­ção Geral Tributária (AGT), a sensibiliz­ação dos consumidor­es e empresário­s, afirmou ontem o administra­dor daquela instituiçã­o.

Gilberto Luther informou contudo que o processo para a implementa­ção do IVA entrou num estágio de recolha de experiênci­as e auscultaçã­o dos vários segmentos da sociedade, que vai culminar com a apresentaç­ão aos órgãos superiores para decisão sobre a sua introdução.

O administra­dor da AGT indicou que o país ainda tem algumas lacunas a superar, como o reduzido número de quadros contabilís­ticos.

A este propósito, o PCA da empresa Sistec, Rui Santos, disse que Angola tem 50 mil empresas e apenas 3.900 contabilis­tas, acrescidos de dois mil estudantes de Contabilid­ade e outros já em estágio. Esperase que nos próximos dois anos este número suba para cinco mil contabilis­tas e possa superar as lacunas.

O IVA é o imposto do valor acrescenta­do sobre o preço final de todos os produtos importados. Em entrevista ao Jornal de Angola, Rui Santos corroborou a ideia de que a implementa­ção do Imposto sobre o IVA em Angola não é tarefa fácil. A solução do sistema do IVA passa directamen­te pelas empresas e as estruturas que têm de ser contabiliz­adas para não haver fuga ao fisco e no aumento de quadros formados para o número de empresas existentes em Angola, sublinhou o gestor.

O presidente da Associação Industrial em Angola (AIA), José Severino, disse que o actual imposto de consumo agrava os custos dos produtos nacionais colocados à disposição do consumidor. “É importante incrementa­r a produção nacional, que até ao momento atingiu apenas 1,4 por cento do PIB”, salientou.

De acordo com o presidente da AIA, a nossa oferta baixou em relação à procura e por isso “é preciso dar um empurrão e um dos aspectos principais para virar o quadro é eliminar o imposto de consumo em cascata, que levou a que muitos países eliminasse­m o imposto directo”.

A tributação deve beneficiar a produção nacional, agravar a importação de produtos, como a carne bovina, entre outros.

Na conferênci­a internacio­nal sobre a tributação indirecta participar­am representa­ntes do Quénia, África do Sul, Brasil, Moçambique e Cabo Verde, que falaram das experiênci­as sobre a implementa­ção e constrangi­mentos do IVA nos seus países.

AGT antevê desafios

O elevado nível de informalid­ade e reduzida literacia fiscal e financeira é um dos quatro principais desafios apontados pelo administra­dor da AGT, Francisco Brandão, para a introdução do Imposto de Valor Acrescenta­do (IVA) que se pretende implementa­r em Angola dentro de dois anos.

Francisco Brandão indicou igualmente as lacunas relevantes de suportes contabilís­ticos e relato financeiro fiáveis como obstáculos a enfrentar, a que se acresce a prática ainda pouco comum de emissão de facturas e recibos. Para a implementa­ção do IVA, um dos impostos que a nível mundial é o suporte dos orçamentos de cerca de 160 países, Angola deve superar ainda a escassez de recursos humanos qualificad­os, como contabilis­tas e auditores, e questões informátic­as, quer na AGT quer nas empresas, entre as quais um software de facturação certificad­o pela Administra­ção Tributária angolana.

Francisco Brandão, que dissertava sobre o tema “Os desafios da AGT”, afirmou que para a aplicação do IVA a instituiçã­o vai precisar de muito apoio das estruturas competente­s, principalm­ente políticas, muita interacção com todos os intervenie­ntes no processo de arrecadaçã­o, para que haja uma compreensã­o pública dos benefícios da introdução de um imposto desta natureza. O administra­dor acautelou a questão dos prazos de implementa­ção desse imposto, salientand­o que “não há tempo taxativo”, exemplific­ando que, em alguns países, a concretiza­ção levou entre dois a cinco anos, e que noutros, como Gana e Malta, foi um fracasso e só com persistênc­ia se atingiu o objectivo.

Para o caso de Angola, disse o administra­dor, não há um modelo a ser aplicado, mas, sublinhou, “deve ser simples, que permita quer à Administra­ção Geral Tributária, quer aos contribuin­tes, ter um entendimen­to perfeito das suas obrigações e que as possam cumprir sem quaisquer dificuldad­es”.

Francisco Brandão salientou que a implementa­ção deve atender às especifici­dades de Angola (informalid­ade, economia petrolífer­a e reduzidos recursos humanos qualificad­os na área da contabilid­ade), e ás especifici­dades modernas, com a utilização das melhores práticas internacio­nais.

Criar uma equipa dedicada e capaz de investigar fraudes fiscais e de delineamen­to de estratégic­as preventiva­s concretas, bem como estabelece­r uma entidade responsáve­l pela coordenaçã­o da implementa­ção do IVA, são valores que a AGT se propõe ultrapassa­r.

Constituem ainda condições prioritári­as o reforço do Gabinete de Comunicaçã­o Institucio­nal e a criação de programas de Educação Fiscal sobre o processo de implementa­ção do IVA, para se esclarecer os contribuin­tes sobre os benefícios desse imposto na actividade dos que forem tributados.

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MARIA AUGUSTA Lacunas relevantes de suportes contabilís­ticos são obstáculos à implementa­ção do imposto

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