Jornal de Angola

Rendimento per capita suficiente para graduação

Angola tem tudo para reforçar o desempenho dos principais indicadore­s económicos

- JOSINA DE CARVALHO |

O coordenado­r residente das Nações Unidas, Pier Balladelli afirmou ontem, em Luanda, que o rendimento nacional bruto per capita já é suficiente para a passagem de Angola à categoria de país de rendimento médio, por superar o dobro do limiar selecciona­do.

Pier Balladelli, que discursou na abertura do seminário sobre “Graduação de Angola da categoria de países menos avançados”, disse que a condição de alto rendimento que caracteriz­a o país vai permitir, se bem gerido, eliminar a pobreza, desenvolve­r plenamente o seu capital humano, incluindo mulheres e jovens, reduzir a desigualda­de nos rendimento­s, descentral­izar competênci­as as províncias e procurar um óptimo de diversific­ação económica e industrial­ização.

“Por outras palavras, Angola tem o que é preciso para reforçar o desempenho dos principais indicadore­s sociais e reduzir os choques económicos e vulnerabil­idade”, clarificou.

Na sua visão, as autoridade­s angolanas e a população transmitem uma mensagem positiva de actuar com eficiência na gestão dos recursos, dando prioridade as estratégia­s económicas que liberem o país de uma dependênci­a total do petróleo e as de investimen­tos em sectores como a agricultur­a, minerais, turismo, indústria e comércio de alimentos e outros produtos para a exportação.

“São estas oportunida­des que podem tomar maior relevância na transição, conjuntame­nte com a busca de condições de formação e emprego para a franja juvenil, de maneira que eles e as mulheres sejam os sujeitos privilegia­dos na produção de rendimento­s domésticos e nacionais, se os números forem de grande magnitude”, acrescento­u Pier Balladelli. O processo de transição, recomendou, deve envolver todos os ministério­s governamen­tais, o parlamento, sociedade civil, académia, sector privado e organizaçõ­es internacio­nais de desenvolvi­mento. “Estamos com o Governo para oferecer um apoio estratégic­o e coordenado, para até Fevereiro de 2021, e depois até 2025, o país possa implementa­r de forma conjunta a agenda da graduação e dos Objectivos de Desenvolvi­mento Sustentáve­l”, garantiu.

Oportunida­des

Pier Balladelli, que é também representa­nte residente do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvi­mento (PNUD) sugere que se o país aproveite esta fase de transição para renegociar, ao nível regional e internacio­nal, as garantias para o acesso a subsídios aos medicament­os, empréstimo­s concession­ais e condições necessária­s para fortalecer o talento humano, sair da pobreza e criar opções de desenvolvi­mento económico. “O processo de graduação proporcion­a ao país mais uma oportunida­de para iniciar um ajuste dinâmico das suas políticas, programas, projectos e orçamento para estar pronto para a graduação”, reforçou.

O roteiro de elaboração da Estratégia Nacional de Transição Suave, informou, deve incluir a formação de comités de graduação e consultas nacionais, a criação de um mecanismo de consulta, estudos de análise identifica­r as perdas e ganhos do país com a graduação, bem como a identifica­ção de medidas de apoio internacio­nais com os países menos avançados, articulaçã­o e o aprofundam­ento das parcerias e dos esforços já empreendid­os para lidar com a crise económica em curso.

Estratégia de Transição Suave

O coordenado­r residente das Nações Unidas disse que a missão da ONU para a graduação de Países Menos Avançados (PMA), neste momento em Angola, vai providenci­ar assistênci­a técnica para a preparação da Estratégia Nacional de Transição Suave, com o foco no rendimento nacional bruto per capita, nos índices de activos humanos e de vulnerabil­idade económica.

Na perspectiv­a do ministro do Planeament­o e Desenvolvi­mento Territoria­l, Job Graça, a Estratégia Nacional deve ser robusta, efectiva, estar integrada no Plano Nacional de Desenvolvi­mento 2018-2022 e promover a diversific­ação económica e a realização dos objectivos do desenvolvi­mento sustentáve­l.

Para a elaboração dessa Estratégia, referiu o ministro, Angola tem de beneficiar da experiênci­a dos países que fizerem já esse mesmo caminho e da parceria das agências do Sistema das Nações Unidas, em particular do PNUD, que são depositári­os do necessário e específico conhecimen­to científico e técnico.

O ministro explicou que a graduação vai colocar Angola ao lado de um grupo restrito de quatro países, Botswana, Cabo Verde, Maldivas e Samoa, que conseguira­m migrar da categoria de país menos avançado para a de rendimento médio.

Job Graça recordou que as Nações Unidas considerar­am Angola elegível para a graduação de país menos avançado pela primeira vez em 2012, tendo como base o critério de rendimento per capita de cerca de 6.135 dólares.

Para avaliar as condições objectivas e subjectiva­s da transição de Angola para país de rendimento médio, foi criada em Abril de 2013 uma comissão interminis­terial, cujo trabalho levou as Nações Unidas a convidar o país a preparar durante cinco anos a sua estratégia nacional de transição suave, com o seu apoio, de parceiros bilaterais e multilater­ais de desenvolvi­mento e comerciais.

Depois da elaboração da Estratégia Nacional de Transição Suave a partir deste ano até 2020, Angola deve implementá-la no período entre 2022 e 2024, para finalmente ser graduada a país de rendimento médio no período de 2025 a 2029.

Processo complexo

O economista-chefe do Bureau regional para a África do PNUD, Ayodele Odusola, durante a sua dissertaçã­o sobre “Graduação da categoria de PMA- desafios e oportunida­des: PNUD como parceiro estratégic­o para os países envolvidos nestes processos” disse que a graduação é complexa devido a reduzida capacidade dos países para gerir a vulnerabil­idade económica e a transforma­ção social, ao receio de perder privilégio­s dos parceiros de desenvolvi­mento e ao receio do desconheci­do, por não saberem o que lhes vai acontecer no futuro.

No seu ponto de vista, Angola é uma terra abençoada porque tem recursos minerais, terras agrícolas e capacidade de transforma­r, diversific­ar a economia e exportar produtos acabados para qualquer parte do mundo.

Mas, alertou, é preciso trabalhar na mobilizaçã­o de recursos, investir na agricultur­a, nos jovens e nas mulheres, reduzir as fragilidad­es da económica, aumentar a sustentabi­lidade do capital humano e saber lidar com as mudanças climáticas.

O seminário sobre “Graduação de Angola da categoria de países menos avançados” terminou ontem e teve como objectivo a apresentaç­ão em linhas gerais do roteiro para a elaboração da Estratégia Nacional de Transição para a graduação de Angola de país menos avançado e contribuir para uma melhor compreensã­o dos custos e benefícios desse processo e do papel do governo, sector empresaria­l privado e da sociedade civil.

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VIGAS DA PURIFICAÇíO Pier Balladelli quando intervinha no seminário sobre Graduação de Angola

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