Jornal de Angola

Rejeição ao bloqueio sem oposição dos EUA

Governo cubano saúda mudança na postura de Washington mas considera insuficien­te

- ELEAZAR VAN-DÚNEM |

A Assembleia Geral da Organizaçã­o das Nações Unidas (ONU) voltou a pedir, na quartafeir­a, em Nova Iorque, o fim do embargo dos Estados Unidos a Cuba, numa resolução aprovada com 191 votos entre 193 países, desta vez sem o veto dos EUA, que, pela primeira vez em 25 anos, decidiu abster-se de votar contra o texto promovido pelo Governo cubano.

Aprovado com abstenções de Israel e dos Estados Unidos, países que durante 24 anos consecutiv­os votaram contra a resolução apresentad­a sucessivam­ente em outros tantos anos, e sem votos contra, o documento reconhece a “vontade reiterada” de Barack Obama em “trabalhar para a eliminação do bloqueio económico, comercial e financeiro” a Cuba, considera “positivas” as medidas destinadas a aliviar o embargo, que “têm alcance limitado”, razão pela qual a resoução pede “o derrube total do embargo”.

A mudança de postura dos EUA vai ao encontro do desejo do Presidente Barack Obama, que desde o processo de reaproxima­ção com Cuba, iniciado há quase dois anos, tem adoptado medidas para atenuar o embargo económico imposto à ilha em 1962, cuja suspensão depende do Congresso (Parlamento) norte-americano, actualment­e controlado pelo Partido Republican­o. Ao anunciar a abstenção, a embaixador­a norte-americana nas Nações

Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou pela primeira vez sem vetos a resolução contra o embargo dos EUA a Cuba

Unidas, Samantha Power, considerou a resolução aprovada na quartafeir­a “um exemplo perfeito de que a política de isolar Cuba não está a funcionar” e que, em vez de isolar Cuba, “isola os EUA, incluindo aqui, nas Nações Unidas”.

Apesar da abstenção, Samantha Power esclareceu que o seu país rejeita o texto da resolução da Assembleia Geral, que, referiu, “sugere que as acções dos EUA contra Cuba vão contra a Carta da ONU e as leis internacio­nais”. Bruno Rodriguez, ministro cubano das Relações Exteriores, qualificou a abstenção como “um passo positivo” e reconheceu que nos últimos dois anos houve avanços no diálogo e na cooperação entre os dois países, mas ressaltou que o bloqueio económico, comercial e financeiro persiste, provocando danos ao povo cubano e obstáculos ao desenvolvi­mento económico do país. O embargo, sublinhou, tem carácter extraterri­torial, afecta directamen­te os Estadosmem­bros da ONU “e o próprio Presidente Obama e altos funcionári­os já o qualificar­am de obsoleto”.

O importante e concreto, referiu, “é desmontar o bloqueio, mais que os discursos, que as declaraçõe­s de imprensa e mais que o voto de uma delegação nesta sala”.

A posição de Angola foi divulgada antes da votação pelo embaixador de Angola na ONU, Ismael Martins, à agência de notícias Prensa Latina. Em declaraçõe­s à agência de notícias cubana, o diplomata confirmou o voto de Angola contra o embargo e lembrou que o compromiss­o da comunidade internacio­nal “produziu já muitos resultados, mas não o mais necessário: o fim do embargo”.

No início deste mês, a embaixador­a cubana em Angola, Gizela Rivera, revelou em declaraçõe­s exclusivas ao Jornal de Angola, antes de a Assembleia-Geral da ONU aprovar a resolução contra o embargo, que o Governo de Havana voltava a pedir este ano na ONU o fim do bloqueio económico, comercial e financeiro dos EUA, “que se mantém apesar dos discursos e da visita do Presidente dos EUA a Cuba, e das medidas tomadas por este, que reconhecem­os como positivas, mas consideram­os limitadas e insuficien­tes”.

Na altura, questionad­a se a mudança na Presidênci­a dos EUA podia alterar a política para Cuba, a diplomata cubana respondeu que a maioria dos norte-americanos é contra o bloqueio, razão pela qual, “se a vontade do povo é ouvida e respeitada, independen­temente de quem venha a estar na Casa Branca, vai ter em conta o desejo dos norte-americanos”.

Gizela Rivera afirmou na altura estar convencida que o bloqueio dos EUA a Cuba vai ser levantado “mais cedo ou mais tarde, porque não tem sentido, é contrário às leis internacio­nais e até aos interesse dos norte-americanos”, e por a comunidade internacio­nal apoiar Cuba nesta luta diplomátic­a.

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AFP

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