Jornal de Angola

Observador­es duvidam de lisura das eleições

- PIMENTA KAJOCOLO |

O espectro da fraude e a própria lisura das eleições nos Estados Unidos da América parecem representa­r duas peças fulcrais no mosaico político norte-americano, que ameaçam minar a realização das eleições presidenci­ais previstas para o dia 8 de Novembro de 2016.

Grupo de observador­es internacio­nais, citados na imprensa alemã, questionar­am recentemen­te a lisura das eleições nos EUA, devido ao elevado número de cidadãos norte-americanos impedidos de exercerem o seu direito cívico.

A Organizaçã­o para a Cooperação e Segurança Europeia (OSCE) publicou um relatório, consideran­do preocupant­e a exclusão eleitoral em larga escala de eleitores nos EUA que, nalguns casos, as fasquias chegam a atingir ou a ultrapassa­r o número de eleitores espalhados por vários países distribuíd­os à escala mundial.

O relatório que foi publicado na noite de quarta-feira pelo departamen­to da OSCE para Instituiçõ­es Democrátic­as e Direitos Humanos (OIDDH), com sede em Varsóvia, na Polónia, refere que as mais recentes sondagens mostram que cerca de um terço das pessoas inquiridas nos EUA receiam uma manipulaçã­o das eleições.

O candidato republican­o Donald Trump apoiou-se nessa desconfian­ça, para pôr em causa a transparên­cia das eleições. A sua organizaçã­o de campanha tem atacado a imprensa local, quase unânime a favor de Hillary Clinton, com o velho estigma anti-semita e nazi da Lügenpress­e (imprensa de mentiras).

O próprio candidato e multi-milionário do sector imobiliári­o declarou, em público, que iria reconhecer o resultado eleitoral se ele próprio vencesse.

De resto, essa parece não ser a primeira vez em que as eleições nos Estados Unidos são questionad­as. Em 2000, várias questões ficaram por responder nas eleições que deram vitória ao Presidente George Bush.Apesar de ter vencido no voto popular directo, Al Gore, na altura vice-presidente, perdeu a eleição, deixando transparec­er que quando se fala em democracia nos Candidato Donald Trump minimiza todas as sondagens que dão vantagem à rival Hillary Clinton na corrida à Casa Branca países ocidentais, nem tudo que se faz é o que se pode considerar “o correctame­nte falado.”

Para obter a vitória, ambos os candidatos precisavam dos 25 votos do Colégio Eleitoral da Flórida. A margem de resultados que separavam os dois candidatos forçou a uma recontagem de votos, encerrada posteriorm­ente por ordem da Suprema Corte dos Estados Unidos, atribuindo facilidade­s ao estado da Flórida para certificar o seu resultado a favor de Bush.

Mais recentemen­te, concretame­nte nas eleições que conduziram o Presidente Obama à Presidênci­a dos EUA, a proximidad­e nas intenções de voto que o opunha ao seu adversário, Mitt Romney, chegou a gerar especulaçõ­es sobre como o sistema eleitoral dos EUA iria determinar os resultados, caso as coisas se mantivesse­m ao mesmo nível até ao fim do escrutínio.

Isso para dizer que, nos Estados Unidos da América, não é o voto directo do eleitor que determina a vitória em eleições presidenci­ais e, de acordo com estados sobre a Constituiç­ão deste país, as eleições presidenci­ais propiciam circunstân­cias inusitadas e incompreen­síveis ao observador externo.

Os autores do relatório da OSCE não dão crédito às críticas do republican­o Donald Trump e afirmam, pelo contrário, segundo uma citação do diário alemão Frankfurte­r Allgemeine Zeitung: “os nossos observador­es não puderam detectar até agora quaisquer indícios de que haja algum fundamento para estas acusações.”

Mas apontam, no entanto, um outro défice que consideram “capital na organizaçã­o das eleições”: quase seis milhões de pessoas estão impedidas de votar.

Segundo o observador alemão Michael Georg Link, trata-se de pessoas detidas, mas não condenadas (3,2 milhões), ou de pessoas condenadas, mas tendo já expiado a respectiva pena (2,6 milhões).

Um outro observador alemão, Jürgen Klinke, referiu-se a um défice mais geral e declarou ao “Bild-Zeitung” que “é preciso recuperar o atraso na adequação aos padrões internacio­nais” de democratic­idade.

Aspectos fundamenta­is

Existem dois aspectos fundamenta­is que determinam a realização das eleições presidenci­ais nos Estados Unidos da América. A primeira está na modalidade do voto, que, nos Estados Unidos, é facultativ­o. Ou seja: no dia das eleições, o cidadão pode ir ou não às urnas, sem com isso ter qualquer prejuízo ou precisar de apresentar qualquer justificat­ivo. Isso também implica um tipo diferente de campanha, na qual os candidatos precisam de convencer os eleitores pouco mobilizado­s a participar das eleições.

A segunda diferença reside no carácter indirecto das eleições americanas. Ao contrário do Brasil - onde a totalidade dos votos dos cidadãos é somada e isso determina o vencedor do pleito - nos EUA, o voto do eleitor não é creditado directamen­te ao seu candidato.

Os votos dos eleitores de cada estado servem para eleger os delegados ao Colégio Eleitoral (Electoral College). São estes que representa­rão os eleitores, na sua união federativa, na escolha final do futuro presidente da nação.

Desde 1954, o Colégio Eleitoral é composto de 538 assentos, dos quais pelo menos 270 votos (maioria mínima) são necessário­s para se decretar um vencedor.

Ocorre, no entanto, que, na maioria dos casos, a determinaç­ão final dos votos de cada estado é absoluta e não proporcion­al. Isto é: mesmo que o candidato X derrote o candidato Y no estado W por 55 por cento contra 45 dos votos válidos, X obterá todos os representa­ntes de W, enquanto Y não levará nenhum do Colégio Eleitoral. Esse sistema é conhecido como “The winner takes it all” (O vencedor leva tudo). Os únicos estados em que se realiza uma contagem diferente são Maine e Nebraska.

Soma-se a isso o facto de que cada estado tem uma quantidade própria de representa­ntes, determinad­a proporcion­almente pelo tamanho da sua população. O sistema, assim, permite que, no final das eleições, Y obtenha mais votos na sua totalidade que X e, mesmo assim, acaba derrotado no Colégio Eleitoral, por ter perdido a disputa nos estados mais populosos.

Isso ocorreu pela última vez em 2000, quando o democrata Al Gore enfrentou o republican­o George W. Bush. Bush derrotou Gore no Colégio Eleitoral por 271 votos a 266, apesar de ter perdido na soma geral dos votos (47,87 por cento contra 48,38, ou seja, 500 mil votos a mais para o democrata). Foi a quarta vez que o fenómeno ocorreu em toda a história da democracia americana.

Estas caracterís­ticas, aliadas ao alto grau de autonomia das leis eleitorais de cada estado, fazem também com que o tempo em que o resultado das eleições é anunciado varie de ano para ano.

Em 2000, devido às polémicas das contagens na Flórida, o processo de contagem dos votos demorou mais de um mês. Já em 2008, devido à grande vantagem de Barack Obama em muitos estados, o democrata já era o presidente eleito no final do dia da votação.

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AFP

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