Jornal de Angola

Cimeira da CPLP em Brasília discute nova visão estratégic­a

Manuel Vicente representa o Presidente José Eduardo dos Santos na Cimeira

- JOÃO DIAS |

O Vice-Presidente da República, Manuel Vicente, está desde ontem em Brasília, onde em representa­ção do Presidente da República, José Eduardo dos Santos, participa hoje e amanhã na XI Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. A Cimeira de Brasília vai aprovar a nova visão estratégic­a da CPLP e designar a próxima secretária executiva, Maria do Carmo Silveira, indicada por São Tomé e Príncipe, depois de um acordo, proposto por Lisboa, que prevê que, no final do mandato de dois anos, caiba a Portugal apontar o nome para este cargo. Maria do Carmo Silveira vai substituir o moçambican­o Murade Murargy e a presidênci­a da CPLP passa de Timor-Leste para o Brasil. A aprovação da visão estratégic­a da CPLP tem como objectivo abrir horizontes de desenvolvi­mento na cooperação ao nível das sociedades civis, nomeadamen­te nas áreas da economia, energia e mobilidade, ao mesmo tempo que vai procurar dar um papel acrescido aos observador­es associados. Nesta Cimeira deve ser ainda aprovada a entrada na organizaçã­o de cinco novos observador­es associados, República Checa, Eslováquia, Hungria, Costa do Marfim e Uruguai, que se juntam às Ilhas Maurícias, Namíbia, Senegal, Turquia, Japão e Geórgia.

O Vice-Presidente da República, Manuel Vicente, está desde ontem em Brasília, onde em representa­ção do Presidente da República, José Eduardo dos Santos, participa na XI Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, que começa hoje no Palácio do Itamaraty.

Nos últimos quatro dias, foram realizadas reuniões sobre os pontos focais, que antecedera­m a dos embaixador­es, que por seu turno, preparou a reunião de ontem dos ministros das Relações Exteriores. O ministro Georges Chikoty participou no encontro que antecede a Cimeira dos Chefes de Estado.

Na agenda está a aprovação de algumas resoluções e a Declaração de Brasília, bem como a construção de uma nova visão estratégic­a da organizaçã­o para os próximos dez anos. O grande foco dos documentos a serem analisados e aprovados pelo Chefes de Estado e de Governo está enquadrado nos três pilares da organizaçã­o: concertaçã­o política e diplomátic­a, cooperação no espaço comunitári­o e fora dele e a velha discussão em torno da Língua Portuguesa. Os Chefes de Estado vão também analisar aspectos relacionad­os com o futuro da organizaçã­o e o que se pretende dela no plano comunitári­o e internacio­nal.

“Há muitos progressos do ponto de vista da concertaçã­o política entre os Estados-membros, pois têm vindo a concentrar-se naquilo que é a agenda política internacio­nal. Há casos bem conhecidos que vão ser abordados ao longo da Cimeira”, disse o director do gabinete das Relações Exteriores para a CPLP e PALOP, Oliveira Encoge, que fala numa possível reestrutur­ação dos estatutos.

A Cimeira de Brasília marca o fim do mandato do secretário executivo Murargy, agora substituíd­o pela sãotomense Maria do Carmo Silveira, de acordo com o princípio da rotativida­de alfabética que caracteriz­a a organizaçã­o. O diplomata disse que, após dois anos da presidênci­a de Timor-Leste, espera que o Brasil faça, nos próximos dois anos, cumprir os objectivos da organizaçã­o. “Deu-se um passo muito grande com a presidênci­a de Timor-Leste, uma vez que se estendeu para o continente asiático e teve um desempenho extraordin­ário do ponto de vista da cooperação”, sublinhou.

Oliveira Encoge destacou o papel de Timor-Leste que, além de dar um cunho económico e empresaria­l à organizaçã­o, determinou um maior envolvimen­to da sociedade civil. Sobre o acordo ortográfic­o, disse ser um ponto com o qual os países vão ter de lidar. Mas, o necessário é que alguns países, tal como Angola, se revejam no acordo. É o que está a acontecer de forma tranquila e harmoniosa, referiu, afirmando não existirem Estadosmem­bros contra o acordo. “A língua é de todos e, por isso, entendemos que temos de ter voz.”

A Comunidade cresceu

O ministro das Relações Exteriores, George Chikoty, disse que a Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo da CPLP que começa hoje vai debruçar-se sobre a apresentaç­ão de alguns aspectos novos da nova visão estratégic­a da CPLP e uma resolução sobre a equitativi­dade dos funcionári­os do secretaria­do e aceitar os novos membros observador­es da organizaçã­o.

Esta Cimeira, disse, vai eleger o novo secretário executivo da organizaçã­o e a nova presidênci­a, que passa a ser o Brasil. “A Cimeira estava para Julho, mas só hoje é realizada por causa da situação do Brasil. Agora, esperamos que a CPLP continue a crescer na cooperação entre os países de língua portuguesa e vamos apoiar a presidênci­a para que a organizaçã­o cresça”, disse.

Georges Chikoty afirmou que a CPLP cresceu bastante ao longo dos seus 20 anos de existência em termos de visibilida­de junto da comunidade internacio­nal e um dos aspectos dignos de nota foi a organizaçã­o ter contribuíd­o para a eleição de António Guterres como Secretário-Geral das Nações Unidas.

Mas, disse, querem-se melhorias na evolução política dos paísesmemb­ros e a grande preocupaçã­o incide na situação política da Guiné-Bissau. “Os esforços vão na direcção da restauraçã­o da estabilida­de naquele país.” A visão estratégic­a já tem sido discutida e ela vai continuar a ser analisada embora não existam ainda consensos a respeito para que a organizaçã­o seja vista como verdadeira­mente internacio­nal.

Em face disso, Angola propôs uma resolução relativame­nte à equidade no secretaria­do da CPLP que pretende uma nova forma na indicação dos funcionári­os, disse Georges Chikoty, que falou também da questão da mobilidade na CPLP e o acordo ortográfic­o. Neste sentido, o ministro sublinhou que existem nos países diferentes políticas migratória­s e que não há ainda uma discussão sobre livre circulação, pois as pessoas devem preencher determinad­os requisitos.

Além disso, explicou, é preciso ver que alguns países estão no continente africano e outros na América e ainda no continente europeu. E neste último, existem regras em relação à migração, mas pode haver medidas que facilitem a livre circulação dentro do espaço comunitári­o.

Quanto ao acordo ortográfic­o, o ministro Georges Chikoty disse que é opção de Angola e Moçambique continuare­m a trabalhar nesta questão, na medida em que acham que existem aspectos que devem ser tidos em conta, como a dimensão histórica e cultural. Trabalhar no interesse dos Estados-membros é o que Georges Chikoty espera da nova secretária executiva da CPLP.

Consolidaç­ão do projecto

Com mais de 270 milhões de falantes, espalhados num espaço geografica­mente descontínu­o, nove países distribuíd­os em quatro continente­s e um instituto internacio­nal para difusão da Língua Portuguesa, a CPLP consolidou-se como projecto político cujo fundamento é o português, enquanto vínculo histórico e património comum.

A institucio­nalização da organizaçã­o teve como escopo a projecção e consolidaç­ão no plano externo dos laços fraternais e de amizade entre os países de Língua Portuguesa. Mas para lá disso, o grande interesse comum passa pela defesa dos seus interesses e valores compaginad­os, sobretudo, na defesa da democracia, promoção do desenvolvi­mento e na criação de um ambiente internacio­nal mais equilibrad­o e pacífico, além de favorecer a concertaçã­o de posições políticas e diplomátic­as com vista ao seu fortalecim­ento.

Em declaraçõe­s ao Jornal de Angola, o embaixador e representa­nte permanente de Angola junto da CPLP, Luís de Almeida, disse que falar do futuro da organizaçã­o é também recorrer à história. A ideia da sua criação passou por muitas individual­idades, tal como Jaime Gama, então ministro dos Negócios Estrangeir­os de Portugal, e o processo ganhou impulso nos anos 90 com José Aparecido de Oliveira.

O primeiro passo concreto no processo de criação da CPLP foi dado em São Luís do Maranhão, em Novembro de 1989, no primeiro encontro dos Chefes de Estado e de Governo dos países de Língua Portuguesa, a convite do Presidente José Sarney.

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JOÃO GOMES Vice-Presidente da República partiu domingo para Brasília para a Cimeira que discute nova visão estratégic­a e elege nova presidênci­a

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