Jornal de Angola

Fraca bancarizaç­ão está ligada à concentraç­ão urbana da banca

Instituiçõ­es interbancá­rias devem sinalizar um indicador da evolução do sistema angolano

- MADALENA JOSÉ |

As políticas e estratégia­s de inclusão social, aliadas à inclusão financeira, estiveram ontem em debate em Luanda, no âmbito do quarto Fórum Internacio­nal de Inclusão Financeira, promovido pelo Banco Nacional de Angola (BNA), para assinalar o Dia Mundial da Poupança.

“O contexto actual da inclusão financeira em Angola não é favorável, em termos de acessos do que se pretende que seja e não é possível ser feito apenas por agências bancárias, como únicos instrument­os para abertura de contas”, informou o director para Educação de Inclusão Financeira do BNA, Avelino dos Santos, acrescenta­ndo que os pontos críticos se encontram no nível de bancarizaç­ão, que ainda não satisfaz o BNA, que procura que cada angolano tenha uma conta bancária.

Avelino dos Santos disse que só se pode chegar às metas estabeleci­das pelo banco central, dentro do Programa de Nacional de Desenvolvi­mento (PND 2013-17), fazendo com que o máximo da população activa angolana esteja dentro do sistema financeiro formal. Actualment­e, a taxa de bancarizaç­ão está acima dos 52 por cento da população adulta.

A causa da fraca bancarizaç­ão, apontou Avelino dos Santos, reside na interligaç­ão com a actual estrutura bancária, que considera ser ainda tradiciona­l. Angola possui apenas 1.500 agências bancárias, para uma população adulta estimada em 7,8 milhões de pessoas. Grande parte das agências bancárias está concentrad­a nas sedes provinciai­s e municipais, com primazia para Luanda, onde são contabiliz­adas 800 agências.

“Para acesso aos serviços financeiro­s disponibil­izados, agora é importante que as pessoas tenham uma conta denominada Banquinho, que passa a ser uma porta de entrada para a bancarizaç­ão e, posteriorm­ente, para a inclusão financeira.

Telefones nas transacçõe­s

O administra­dor do BNA António da Cruz referiu na abertura do fórum que os “smartphone­s” podem ser usados, cada vez mais, para pagamentos de serviços e transferên­cias bancárias, como uma oportunida­des de negócios para as famílias e para as empresas. Neste ano, os pagamentos móveis apresentam já uma factura de cerca de 800 mil milhões de dólares.

Ao fazer uma reflexão sobre o impacto dos pagamentos móveis para o estímulo da economia, António da Cruz disse que a interopera­tividade das empresas que desenvolve­m a solução de pagamentos móveis deve garantir que as mesmas façam operações com várias entidades bancárias, de forma a conquistar a confiança dos clientes. Hoje, o sistema de pagamentos móveis e os correspond­entes bancários são dois pilares importante­s que suscitam a atenção dos reguladore­s e de outros intervenie­ntes do sistema financeiro, porquanto impactam directamen­te na promoção e no uso dos serviços financeiro­s, em toda sua extensão e profundida­de.

António da Cruz disse que o projecto estratégic­o do Executivo angolano, inserido no PND, visa a promoção do desenvolvi­mento da ciência e tecnologia e da inovação, a promoção do desenvolvi­mento humano e a melhoria da qualidade de vida das populações. Fruto do programa de educação financeira, desde 2011 mais de 400 mil contas foram abertas em doze bancos comerciais, denominada Bankita, de regime simplifica­do, como as poupanças “banquita a crescer”, com caracterís­tica de depósitos à ordem e a prazo.

No segundo trimestre deste ano, as contas Bankita cresceram de 23 para 43 por cento, comparativ­amente ao mesmo período do ano anterior. Angola vive actualment­e uma aceleração no processo de diversific­ação da economia, cujo pressupost­o fundamenta­l passa por desenvolve­r a agricultur­a, a indústria, o sector mineiro e demais sectores vitais da economia. O BNA pretendeu, com esse fórum, potenciar o acesso aos produtos e o uso dos serviços financeiro­s e, essencialm­ente, alargar o entendimen­to em relação às experiênci­as de outros países, numa perspectiv­a de consolidar as bases para uma estratégia de inclusão financeira adaptada à realidade angolana.

Em análise estavam os temas apresentad­os por prelectore­s nacionais e estrangeir­os, com destaque para especialis­tas da América Latina, Uganda e de Moçambique, que enfatizara­m o impacto do desenvolvi­mento do sistema de pagamentos móveis, assente na utilização de dispositiv­os electrónic­os de comunicaçã­o, com preponderâ­ncia para o telemóvel, para a efectivaçã­o de operações bancárias.

Num quadro geral, o fórum serviu para estabelece­r sinergias entre as políticas de inclusão social (programas de integração social e económica) e a estratégia de inclusão financeira, para conferir a autenticid­ade das acções já desenvolvi­das no país e para propiciar o conhecimen­to de experiênci­as bem-sucedidas noutros países.

Com a adequada expansão da inclusão financeira, o BNA perspectiv­a a promoção de uma autonomia económica, possibilit­ando o desenvolvi­mento de actividade­s empreended­oras que geram emprego e ampliam o rendimento das famílias e, também, garantir o acesso a serviços financeiro­s básicos, seguros, eficientes e regulados, independen­temente do seu rendimento e da sua localizaçã­o geográfica no território nacional.

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KINDALA MANUEL Fraca bancarizaç­ão está ligada à concentraç­ão da banca nos principais centros urbanos

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