Abate indiscriminado de árvores atingiu níveis altos e alarmantes
Pinheiro é a espécie mais procurada pelos madeireiros e carvoeiros
O abate indiscriminado de árvores tornou-se frequente na província do Huambo, o que pode provocar sérios problemas ambientais, como a desflorestação, erosão dos solos, ravinas, seca, diminuição da fertilidade das terras e da produtividade agrícola, alteração do ciclo hidrológico e contaminação das águas.
A actividade é exercida por muitas famílias e até por empresas, para exploração de carvão, de madeira, construção de habitações e de empreendimentos. O pinheiro, muito comum na província do Huambo, é a espécie mais procurada.
Ambientalistas alertam que a desflorestação tem efeitos mais graves, como o aquecimento global, a diminuição da biodiversidade, a modificação da crosta terrestre e a emissão de dióxido de carbono para a atmosfera.
O coordenador da Associação Provincial dos Ecologistas e Ambientalistas de Angola, António Manuel Teixeira, afirma que a melhor forma de gestão florestal é a reposição das plantas devastadas, “porque contribui para amenizar o ambiente, reduz a quantidade de radiação que atinge o solo e funciona como purificador.”
Para isso, disse, é necessária a criação de regras simples, que se resumem em criar viveiros nas zonas de abate e de transplante das árvores. “Se da derruba de árvores é possível termos madeira, celulose, resíduos para a produção de contraplacados ou outros derivados, não custa nada retirar uma parte dos rendimentos para aplicar na construção dos mecanismos de reposição da floresta”, aconselhou.
O ambientalista disse haver pouca sensibilidade e falta de conhecimento para as implicações que a destruição das florestas causa ao ambiente.
Manuel Teixeira alerta que a gestão descoordenada, irresponsável e irracional das florestas faz com que uma parte importante da terra fique descoberta do mecanismo de protecção contra a radiação solar, “sem a qual a radiação é devolvida para a atmosfera, contribuindo para um maior aquecimento.”
Com a redução da cobertura florestal, acrescentou, a quantidade de água das chuvas ao atingir a superfície do solo não é infiltrada.
A água escorre pela superfície, arrastando consigo a parte mais fértil do solo. “Deste modo, não oferece alimento necessário para a cadeia alimentar, nem habitat para os seres vivos, incluindo o próprio homem. É uma série de implicações que podem ser enquadradas do ponto de vista global do desequilíbrio da natureza, do ecossistema e da biodiversidade”, disse o ambientalista.
O vice-decano para a Área Científica da Faculdade de Ciências Agrárias, Jinhas Manuel, disse que o abate indiscriminado de árvores deixa o solo descoberto e fica susceptível à erosão de vários tipos como a hídrica e a eólica.“As árvores produzem oxigénio, consomem e armazenam o dióxido de carbono, regulam a temperatura e o ciclo da água, que é absorvida da atmosfera”, disse. Preocupado com a situação, o governador da província do Huambo, João Baptista Kussumua, prometeu inverter o quadro com a tomada de duras medidas contra os que derrubarem as florestas.
Durante uma visita efectuada ao perímetro florestal da comuna do Cuíma, no município da Caála, o governador disse que “há necessidade e urgência de se pôr cobro à situação.” Kussumua orientou à administração da Caála para fazer diligências para conter o corte indiscriminado de árvores e aplicar medidas que desencorajem esta actividade.