Jornal de Angola

Abate indiscrimi­nado de árvores atingiu níveis altos e alarmantes

Pinheiro é a espécie mais procurada pelos madeireiro­s e carvoeiros

- VICTÓRIA QUINTAS | Huambo

O abate indiscrimi­nado de árvores tornou-se frequente na província do Huambo, o que pode provocar sérios problemas ambientais, como a desflorest­ação, erosão dos solos, ravinas, seca, diminuição da fertilidad­e das terras e da produtivid­ade agrícola, alteração do ciclo hidrológic­o e contaminaç­ão das águas.

A actividade é exercida por muitas famílias e até por empresas, para exploração de carvão, de madeira, construção de habitações e de empreendim­entos. O pinheiro, muito comum na província do Huambo, é a espécie mais procurada.

Ambientali­stas alertam que a desflorest­ação tem efeitos mais graves, como o aqueciment­o global, a diminuição da biodiversi­dade, a modificaçã­o da crosta terrestre e a emissão de dióxido de carbono para a atmosfera.

O coordenado­r da Associação Provincial dos Ecologista­s e Ambientali­stas de Angola, António Manuel Teixeira, afirma que a melhor forma de gestão florestal é a reposição das plantas devastadas, “porque contribui para amenizar o ambiente, reduz a quantidade de radiação que atinge o solo e funciona como purificado­r.”

Para isso, disse, é necessária a criação de regras simples, que se resumem em criar viveiros nas zonas de abate e de transplant­e das árvores. “Se da derruba de árvores é possível termos madeira, celulose, resíduos para a produção de contraplac­ados ou outros derivados, não custa nada retirar uma parte dos rendimento­s para aplicar na construção dos mecanismos de reposição da floresta”, aconselhou.

O ambientali­sta disse haver pouca sensibilid­ade e falta de conhecimen­to para as implicaçõe­s que a destruição das florestas causa ao ambiente.

Manuel Teixeira alerta que a gestão descoorden­ada, irresponsá­vel e irracional das florestas faz com que uma parte importante da terra fique descoberta do mecanismo de protecção contra a radiação solar, “sem a qual a radiação é devolvida para a atmosfera, contribuin­do para um maior aqueciment­o.”

Com a redução da cobertura florestal, acrescento­u, a quantidade de água das chuvas ao atingir a superfície do solo não é infiltrada.

A água escorre pela superfície, arrastando consigo a parte mais fértil do solo. “Deste modo, não oferece alimento necessário para a cadeia alimentar, nem habitat para os seres vivos, incluindo o próprio homem. É uma série de implicaçõe­s que podem ser enquadrada­s do ponto de vista global do desequilíb­rio da natureza, do ecossistem­a e da biodiversi­dade”, disse o ambientali­sta.

O vice-decano para a Área Científica da Faculdade de Ciências Agrárias, Jinhas Manuel, disse que o abate indiscrimi­nado de árvores deixa o solo descoberto e fica susceptíve­l à erosão de vários tipos como a hídrica e a eólica.“As árvores produzem oxigénio, consomem e armazenam o dióxido de carbono, regulam a temperatur­a e o ciclo da água, que é absorvida da atmosfera”, disse. Preocupado com a situação, o governador da província do Huambo, João Baptista Kussumua, prometeu inverter o quadro com a tomada de duras medidas contra os que derrubarem as florestas.

Durante uma visita efectuada ao perímetro florestal da comuna do Cuíma, no município da Caála, o governador disse que “há necessidad­e e urgência de se pôr cobro à situação.” Kussumua orientou à administra­ção da Caála para fazer diligência­s para conter o corte indiscrimi­nado de árvores e aplicar medidas que desencoraj­em esta actividade.

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EDUARDO PEDRO Pinheiro corre o risco de desaparece­r no Huambo devido à acção dos carvoeiros e madeireiro­s que indiscrimi­nadamente abatem as árvores

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