Vandalismo e pobreza
Variadas vezes ouvimos, baseando-se em indicadores sociais, que a maioria da população angolana é pobre e que, ao lado das instituições do Estado, parceiros sociais, envida esforços gigantescos para manter com alguma dignidade os agregados familiares.
Mas atendendo à dinâmica da vida, raras vezes se notam pronunciamentos a favor da manutenção do pouco que se consegue, dos parcos recursos que se obtém, das conquistas já alcançadas e que jogam papel instrumental na direcção inversa da pobreza. Esta, como prova a experiência humana, nem sempre se deve tanto à falta de bens materiais e espirituais, mas sobretudo pelo desperdício, uso desregrado ou destruição do que se tem.
Mais do que reivindicar o muito que falta para o bem-estar pessoal, familiar e de toda a sociedade, embora legítimo e natural, é vital que se preserve o pouco que existe.
Não se pode continuar a desperdiçar o pouco que temos, permitir a destruição de bens que custam elevadas somas ao Estado e que visam a melhoria das condições de vida de toda a população.
Precisamos todos de reflectir sobre o que realmente pretendemos em sociedade, numa altura em que a indisciplina, a onda de vandalismo e, mais preocupante, a indiferença com que se assiste a tudo isso assume contornos de uma espécie de autoflagelação.
Não é normal ver bens públicos a serem vandalizados sem que se impeça ou, no mínimo, se contribua para que as autoridades actuem no tempo devido. O que sucedeu no Camama deve servir de lembrança a todos de que, contrariamente à ideia de que cabe ao Estado fazer a defesa dos bens públicos, constitui uma obrigação de cada um de nós participar deste importante acto, defender o que é de todos.
A acção criminosa, traduzida na destruição e roubo de equipamentos eléctricos em fase de conclusão para o fornecimento de energia no município de Belas, constitui um delito de elevada gravidade.
A destruição de 36 postos de transformação, e mais de 40 armários de distribuição já concluídos representa perdas monumentais e um grande retrocesso nos esforços das instituições do Estado para a redução do défice de fornecimento e consumo de energia eléctrica naquela circunscrição administrativa.
Não há dúvida de que tais actos constituem igualmente um ou vários passos dados na direcção do empobrecimento de numerosas famílias, na elevação dos custos de várias empresas e na sobrecarga ao Estado.
Embora as pessoas implicadas estejam já detidas pela Polícia Nacional, urge tomar medidas mais severas para que esses precedentes não prevaleçam como “modus vivendi” de muitos nacionais e estrangeiros.
Tal como sucedeu com materiais eléctricos que se destinavam ao fornecimento de energia aos moradores de alguns bairros da comuna do Camama, município de Belas, acções de dimensão semelhante ou aproximada ocorrem com outros bens públicos. Como denunciou a administradora executiva da Empresa de Águas de Luanda (EPAL), grande parte das situações de restrição no fornecimento de água a uma das centralidades deve-se às sabotagens constantes na conduta.
Na verdade, o garimpo de água e sabotagem às condutas de água um pouco por todo o lado, particularmente em Luanda, tem sido uma autêntica dor de cabeça para a empresa de águas da capital. Numerosos casos foram parar aos órgãos competentes de justiça, mas a prática parece ainda longe de uma definitiva eliminação, realidade que de tende a efectivar-se apenas com a adopção de medidas apropriadas.
A começar com acções de sensibilização, não é exagerado defender punições severas contra todos os que praticam actos de vandalismo, roubo e completa destruição de bens públicos tais como materiais eléctricos, condutas de água, apenas para mencionar estes.
As comunidades devem ser as primeiras a fazer a defesa dos bens colocados ao seu serviço, por meio da sensibilização e da educação dos seus membros, bem como colaboração com a Polícia Nacional.
Trata-se de episódios recorrentes que sucedem um pouco por todo o lado e que concorrem para que fenómenos como a pobreza se acentuem junto das comunidades. É preciso que todos se empenhem na preservação do pouco, que diz respeito a todos, que existe nas comunidades como forma de evitar a dispersão de esforços na prossecução do bem comum e generalização da pobreza.
Precisamos todos de alinhar no mesmo diapasão das instituições do Estado que incansavelmente lutam para que indicadores sociais como a pobreza conheçam as vias da sua erradicação e não o contrário.
Combatamos todos o vandalismo contra os materiais eléctricos e de construção civil, contra as condutas de água, nas estradas, nas escolas, nas empresas públicas e privadas, no meio ambiente, enquanto fenómeno que acentua também a pobreza nas comunidades.