Angola participa no encontro de Marraquexe
Angola participa na 22.ª Conferência das Partes (COP22) da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, que tem início hoje e prolonga-se até ao dia 18 deste mês em Marraquexe, Marrocos, com uma delegação composta por responsáveis de diversos ministérios, chefes de departamentos ministeriais e de empresas públicas, deputados e representantes da sociedade civil.
Segundo uma nota de imprensa do Ministério do Ambiente, o encontro mundial, que se realiza pela segunda vez em África, depois da África do Sul, em 2011, deverá ser marcado pela adopção de estratégias e acções para materializar as decisões emanadas do Acordo de Paris sobre as Alterações Climáticas, aprovado em Dezembro de 2015 e que entrou em vigor na última sexta-feira.
O Acordo de Paris definiu como objectivo limitar o aumento da temperatura global até os 2ºC acima dos níveis pré-industriais, mas com o compromisso de prosseguir esforços tendentes para limitar esse aumento em 1,5ºC.
“O Acordo respeita o princípio da responsabilidade comum, porém, diferenciada, e respectivas capacidades, e reconhece as circunstâncias específicas dos Países Menos Avançados (PMA)”, refere o documento do Ministério do Ambiente. À margem do encontro de Marraquexe, realiza-se igualmente a partir de hoje, na mesma cidade, a 12.ª Conferência das Partes do Protocolo de Kyoto (CMP12).
Indicadores alarmantes
A 22.ª Conferência das Partes (COP22) da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas começa hoje com os indicadores sobre o aquecimento global mais alarmantes do que nunca.
Os dados apontam para o aumento das temperaturas e da concentração de dióxido de carbono (CO2), a subida do nível do mar, mais seca e o recuo dos glaciares. Cientistas referem que os fenómenos climáticos extremos ligados às secas, incêndios florestais, inundações e furacões duplicaram desde 1990.
Este ano, a Terra poderá bater o seu terceiro recorde anual consecutivo de calor desde que as temperaturas começaram a ser registadas em 1880.
Nos nove primeiros meses de 2016, a temperatura ficou 0,98°C acima da média do século XX (que era de 13,88°C), ultrapassando em 0,12°C o recorde anterior, do mesmo período de 2015. No ano de 2015, a subida média da temperatura mundial foi de 1°C face à era pré-industrial, indicador usado nas negociações internacionais sobre o clima. No Ártico, a temperatura à superfície alcançou em 2015 os níveis recorde de 2007 e 2011, com um aumento de 2,8°C face ao início do século XX, quando foram compilados os primeiros registos. A partir de 2030 o oceano Ártico poderá passar a ficar sem gelo no Verão. Também as concentrações dos três principais gases com efeito de estufa, dióxido de carbono, metano e protóxido de azoto, alcançaram novos picos em 2015.
Pela primeira vez, a concentração de C02, o principal gás com efeito de estufa, ultrapassou durante todo o ano as 400 ppm (partes por milhão) à escala global e a tendência é para se manter. O recuo dos glaciares nos maciços de tipo alpino continuou em 2015, pelo 36.º ano consecutivo.
A Gronelândia perdeu perto de 2.700 mil milhões de toneladas de gelo entre 2003 e 2013. A mais pequena extensão de gelo no Verão atingiu os 4,4 milhões de km2 a 16 Setembro, atrás só do recorde de 2012 (3,39 milhões de km2).
O nível dos oceanos continuou a subir em 2015, cerca de 70 milímetros acima da média registada em 1993. O mar tem subido gradualmente cerca de 3,3 milímetros por ano, com subidas mais rápidas em certos pontos do Pacífico e do Índico.
Este fenómeno poderá acelerar nos próximos decénios, à medida que os glaciares e as calotes polares forem derretendo, ameaçando a vida de milhões de habitantes das regiões costeiras. Se as emissões de gases com efeito de estufa continuarem a aumentar ao ritmo actual, o recuo da calote antártica poderia, por si só, fazer subir o nível do mar em um metro até 2100, o que representa o dobro das estimativas anteriores. O desregulamento climático deverá ainda fazer aumentar a violência dos tufões na China, Taiwan, Japão e nas duas Coreias, segundo um estudo recente que conclui que “nos últimos 37 anos, os tufões que atingiram o Leste e o Sudeste asiático ganharam 12 a 15 por cento de intensidade”.
Das 8.688 espécies ameaçadas ou quase ameaçadas, 19 por cento (1.688) são afectadas pelo aquecimento global, nomeadamente pelas temperaturas e pelos fenómenos extremos que envolve.
Um aquecimento global superior a 1,5ºC, limite ambicioso referido no Acordo de Paris, representaria uma mudança nos ecossistemas da bacia do Mediterrâneo inédita em 10.000 anos.
À entrada em vigor do Acordo de Paris e à 22.ª Conferência das Partes (COP22) da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas em Marraquexe veio juntar-se o lançamento global, na semana passada, do documentário Before de flood (Depois do dilúvio), pelo canal televisivo National Geographic, apresentado e protagonizado pelo actor Leonardo Dicaprio, embaixador da ONU para as questões ambientais.