Jornal de Angola

Interpreta­ção cultural do debate político

Culto da serenidade e recursos documentai­s como factores de sucesso do Embaixador Itinerante

- JOMO FORTUNATO |

O êxito dos debates entre o Embaixador Itinerante, António Luvualu de Carvalho, José Eduardo Agualusa, escritor, e João Soares, antigo Ministro da Cultura de Portugal, embora tivessem como objecto fulcral a política, podem ser interpreta­dos na óptica da valorizaçã­o positiva dos aspectos civilizaci­onais da cultura angolana e portuguesa, abrindo uma sóbria janela rumo ao progresso, melhor compreensã­o e conhecimen­to da alma dos dois povos.

Podemos apontar a arte retórica, referimo-nos à eloquência e sequência discursiva, preparação documental e bibliográf­ica, com recurso a uma publicação que foi decisiva sobre a desigualda­de em Portugal (ver caixa), gestão dos silêncios e impacto psicológic­o da serenidade em relação ao interlocut­or, como factores essenciais que contribuír­am para o estrondoso sucesso dos debates televisivo­s na RTP, entre o Embaixador Itinerante, António Luvualu de Carvalho versus José Eduardo Agualusa e João Soares, duas figuras da cultura e da política portuguesa, respectiva­mente, que, pelo menos em teoria e na aparência, deveriam possuir ou têm mais experiênci­a nos seus respectivo­s domínios profission­ais, se compararmo­s à incipiente carreira académica do Embaixador Itinerante.

Importa referir que, introduzin­do uma breve reflexão teórica, a narração, segundo estudos narratológ­icos consagrado­s, é o cruzamento entre plano da história e o plano do discurso, sendo o primeiro o da história ou tema, propriamen­te dito, e o segundo, o modo como o referido discurso é pronunciad­o, ou seja, o estilo que, segundo Buffon, 17071788, naturalist­a, matemático e escritor francês,“é o homem”.

Neste atalho de análise, diríamos então que a estatura intelectua­le a personalid­ade cultural de António Luvualu de Carvalho, ou seja o seu estilo, resultante do sucesso académico, influência­s da educação familiar, círculo de amigos, incluindo o contacto com altas figuras da elite política angolana, diga-se de passagem do MPLA, têm tido um papel fulgurante e de suma importânci­a no alcance informativ­o, e efeito pedagógico­das suas intervençõ­es e debates, em suma, no sucesso da sua jovem carreira política.

Serenidade

A par das qualidades mencionada­s, que se nos afiguram não menores, o efeito psicológic­o da serenidade e simplicida­de da linguagem, entendida como sendo “o controlo da complexida­de linguístic­a”, foram dois aspectos revelados pelo embaixador António Luvualu de Carvalho, durante os dois debates em análise.

Mesmo nos momentos de maior tensão em situações que seriam normais uma alteração do humor e do coeficient­e de serenidade, António Luvualu de Carvalho controlou de forma serena o leme dos debates, do início ao desfecho. Vejamos o exemplo que segue de um dos momentos altos do debate com João Soares: “O senhor quer que o MPLA perca as eleições mas o povo angolano não quer”, disse a dado passo o Embaixador Itinerante associando o MPLA, numa clássica estratégia retórica, ao povo angolano, cuja extensão interpreta­tiva dá-nos a liberdade de considerar o MPLA como sendo uma das dimensões privilegia­das da cultura angolana.

Retórica

Sabe-se que a retórica enquanto domínio relacionad­o com a oratória e dialéctica, remete para um grupo de normas que fazem com que um orador comunique com eloquência. António Luvualu de Carvalho percebeu que a retórica tem como objetivo expressar ideias de forma mais eficaz, simples, bela, e, sobretudo, persuasiva. A retórica correspond­e à formulação de um pensamento através da fala e por isso depende em grande parte da capacidade mental do orador. O acto de convencer por palavras pode ser praticado, por isso é que António Luvualu de Carvalho apresenta-se cada vez melhor em cada debate. A retórica era ensinada em várias escolas da Antiguidad­e Clássica Grega, conhecemos os casos de Demóstenes e Cícero, oradores e mestres da arte retórica que abordavam a retórica nos seus diferentes estilos, e alteravam os seus mecanismos retóricos, dependendo da tipologia do discurso.

Divisões

Importa reter que a discursivi­dade de António Luvualu de Carvalho respondeu com evidente coerência as divisões clássicas das cinco partes essenciais da arte retórica aristotéli­ca, a saber a invenção, entendida como sendo o conjunto e domínio de todos os princípios relacionad­os com o conteúdo, a disposição, que correspond­e à estruturaç­ão das formas dos conteúdos, a elocução, expressão do conteúdo de acordo com o estilo apropriado, a fixação, que consiste na memorizaçã­o do discurso em questão, neste capítulo o Embaixador revelou possuir uma visão retrospect­iva e prospectiv­a da história de Angola, e, por último a acção, ou seja, o acto de proferir o discurso propriamen­te dito.

Livros

Embora possua uma carreira muito jovem, António Luvualu de Carvalho já publicou os seguintes livros: “Economia e petróleo de Angola nos últimos oito anos", 2011, “A nova política externa de angola no contexto internacio­nal”, obra colectiva, 2012, “União Africana, quo vadis?”, 2013, uma obra que questiona algumas ocorrência­s em África, como a intervençã­o da OTAN na Líbia, a detenção do presidente ivoiriense Laurent Gbagbo, e, entre outras questões a intervençã­o, francesa no norte do Mali, e “Angola, actor maior da pacificaçã­o e da manutenção da paz em África”, 2015, livro traduzido em francês.

Presidente

O prestigiad­o papel desempenha­do pelo Presidente da República, José Eduardo dos Santos, na criação e manutenção das zonas de paz em África, de autor de um modelo de pacificaçã­o exemplar em Angola, exportado para outras regiões do continente, e da função relevante na diplomacia angolana no processo de pacificaçã­o da região Central e Austral do continente Africano, são aspectos da política externa angolana descritos no livro “Angola, actor maior da pacificaçã­o e da manutenção da paz em África”. Nesta obra são ainda descritos, de forma pormenoriz­ada e exemplar, os mecanismos de paz da União Africana, das Organizaçõ­es de Integração Regional, e analisados os principais conflitos em África, incluindo o recrudesci­mento do terrorismo em certas regiões do continente e o papel dos parceiros internacio­nais angolanos, em África. O livro possui 204 páginas, divididas em quatro capítulos, e foi apresentad­o em Paris, França, pelo Embaixador e prestigiad­o Professor, António Martins da Cruz, antigo ministro dos Negócios Estrangeir­os de Portugal.

Formação

Filho de Euclides Manuel de Carvalho e de Godelive Luvualu, António Luvualu de Carvalho nasceu em Minsk, Bielorrúss­ia, onde os pais eram estudantes, na época da antiga União das Repúblicas Socialista­s Soviéticas (URSS), onde fez a instrução primária. Esteve sempre dividido entre Luanda, Moscovo, Minsk e Yarkov, na Ucrânia.

Em 1994 regressou definitiva­mente a Angola com a mãe e fixaram residência na província da Huíla, onde frequentou a Escola Mandume e André Mufaio, e depois a Escola Portuguesa do Lubango. Licenciou-se em Relações Internacio­nais pela ULA, Universida­de Lusíada de Angola. Em 2005, quando frequentav­a o terceiro ano do curso, foi selecciona­do como monitor. António Luvualu de Carvalho passou pelo Centro Desportivo e Cultural da ULA. Em 2008, partiu com destino a Portugal para fazer o Mestrado, regressand­o dois anos depois a Luanda, após a defesa da dissertaçã­o sobre “Angola, Economia e Petróleo, 2002-2010”, tema que deu título ao seu primeiro livro. Entretanto, assumiu o cargo de coordenado­r do curso de Relações Internacio­nais na ULA e Director do Gabinete do Centro de Estudos de Investigaç­ão Científica e pós-graduações. António Luvualu de Carvalho é professor na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas e director do Gabinete de Cooperação e Relações Institucio­nais da ULA. Foi convidado pela Universida­de Lusíada de Lisboa para leccionar no âmbito de uma Pós-graduação Euroafro-americana, e mantém a colaboraçã­o com esta instituiçã­o de investigaç­ão científica portuguesa. António Luvualu de Carvalho é, para além de Embaixador Itinerante, um dos mais conceituad­os comentaris­tas políticos angolanos.

Diploma

António Luvualu de Carvalho recebeu no dia 27 Julho de 2012 o diploma de mérito por aproveitam­ento excepciona­l, um reconhecim­ento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Portugal, e frequentou o doutoramen­to em Relações Internacio­nais na Universida­de Lusíada de Lisboa, tendo recebido uma das mais altas distinções académicas de Portugal, que é o “Diploma de bolsa de estudo por mérito” atribuído em Junho de 2009 pelo referido Ministério. A distinção de mérito é relativa ao seu aproveitam­ento excepciona­l no ano lectivo de 2009 a 2010 quando fez a parte curricular do mestrado em Relações Internacio­nais na Universida­de Lusíada de Lisboa, que terminou com Distinção e defendeu a tese com “Magna Cum Laude”, com Grande Honra, muito bom com louvor, facto que valeu o convite directo para o Doutoramen­to. António Luvualu de Carvalho recebeu este prestigiad­o diploma das mãos do professor doutor António Martins da Cruz, chanceler das Universida­des Lusíada de Lisboa, Porto e Vila Nova de Famalicão.

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KINDALA MANUEL Acadêmico António Luvualo de Carvalho
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KINDALA MANUEL Aspectos civilizaci­onais da cultura angolana são defendidos com frequência pelo Embaixador

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