Rússia quer explicações de Washington sobre ensaio de um ataque cibernético
Kremlin quer explicações da Casa Branca sobre preparação de ataque a sistemas russos
Os Governos da Rússia e dos Estados Unidos da América continuam em dificuldade para estabelecer uma linha de entendimento sobre temas como a segurança, cooperação internacional e combate ao terrorismo. A isso junta-se a situação na Síria e toda a movimentação de meios nos “corredores” do Médio Oriente.
Especialistas militares continuam a alertar que a situação está a atingir um ponto bastante perigoso e o pior pode acontecer, como uma guerra em larga escala com dois grandes intervenientes.
A troca de acusações entre a Rússia e os Estados Unidos já atingiu um ponto insuportável. Em muitas ocasiões, as declarações acusatórias de peritos militares chegam a abafar a campanha à eleição presidencial nos Estados Unidos, que hoje conhece o seu dia de grande reflexão.
Nem mesmo incidentes como a tentativa de assassinato ao candidato republicano Donald Trump e a presença de um seu apoiante no comício da democrata Hillary Clinton, conseguiram diminuir o impacto da troca de acusações entre os governos de Moscovo e Washington.
As diferenças são tão evidentes, que está a ser difícil desenhar nos próximos tempos um entendimento maior entre os dois governos. Analistas internacionais esclareceram que o próximo Presidente dos Estados Unidos, a ser eleito já amanhã, pode determinar o fim da tensão entre os dois países, para o bem ou para o mal. Por outras palavras, no caso de Donald Trump, a tensão tende a baixar.
Porém, com Hillary Clinton, só o tempo pode responder, a julgar por aquilo que ambos fizeram e disseram durante a campanha, que foi preenchida por tudo um pouco em matéria de política e democracia. Trump e Hillary ambos vão herdar um dossiê cheio de incertezas, mas que vão ser obrigados a dar uma resposta concreta tendo em conta as actuais circusntâncias.
Rússia questiona os EUA
As autoridades russas pediram explicações aos Estados Unidos sobre o acesso de militares norteamericanos às suas redes estratégicas, que incluem o sistema de comando do Kremlin e que representa o ensaio para um futuro ataque cibernético de maior escala. “Esperamos uma reacção das autoridades dos EUA, entre elas a Casa Branca e o Departamento de Estado, e uma avaliação legal dessas informações”, disse Maria Zakharova, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia.
A diplomata ressaltou que a ausência de reacção oficial por parte do Governo norte-americano significa a existência de terrorismo cibernético estatal por parte dos EUA. A porta-voz acrescentou que, caso sejam cumpridas as ameaças reproduzidas pela comunicação social norte-americana, Moscovo passa a ter direito para apresentar a Washington as correspondentes acusações.
A reacção de Maria Zakharova é consequência das informações veiculadas pela rede de televisão norteamericana NBC, que afirmou que “hackers” militares dos EUA conseguiram aceder às redes eléctricas e de telecomunicações russas, incluído o sistema de comando do Kremlin. Segundo a fonte, que cita um responsável dos serviços de inteligência, os “hackers” deixaram esses sistemas vulneráveis para um possível ataque cibernético norte-americano contra a Rússia.
O ataque cibernético de grande escala só deve ocorrer no improvável caso de os Estados Unidos serem vítimas de um ataque significativo que interferisse nas eleições presidenciais de amanhã. Sobre essa questão, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, destacou ontem que a Rússia já adoptou medidas de protecção do seu espaço cibernético para enfrentar as ameaças feitas por alguns países, numa referência clara aos Estados Unidos.
Em meados de Outubro o VicePresidente dos EUA, Joe Biden, adiantou que Washington estava a preparar uma resposta contra a Rússia, pelos ataques para influenciar as eleições, e que o objectivo é que essa resposta tenha o maior impacto possível.
A decisão já está tomada há muito tempo e o momento para determinar esse ataque depende do Presidente Barack Obama, adiantou noutra ocasião o secretário de Estado norte-americano, John Kerry.
O vice-ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Ryabkov, assegurou que Moscovo dispõe de “recursos suficientes para controlar possíveis actos hostis no seu espaço cibernético”.
“Se tais passos forem dados, evidentemente vai ser um novo e muito grave revés para as relações entre Moscovo e Washington”, advertiu Sergei Ryabkov.
O Kremlin negou em várias ocasiões que estaria por trás dos ataques que permitiram ao portal Wikileaks publicar dezenas de milhares dos documentos confidenciais, cuja maioria compromete a candidata democrata Hillary Clinton.
A candidata à Casa Branca acusou directamente o Presidente russo, Vladimir Putin, de realizar uma conspiração cibernética com o objectivo de beneficiar o republicano Donald Trump.