Jornal de Angola

Moçambique supera a Venezuela e tem juros mais altos no mundo

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Os juros da dívida pública de Moçambique passaram a ser os mais elevados do Mundo, com 25,1 por cento ao ano, ultrapassa­ndo a Venezuela enquanto país mais arriscado para investir, informou a agência financeira Bloomberg.

De acordo com a evolução dos juros que os investidor­es exigem para transaccio­nar os títulos da dívida pública emitida em dólares, desde a semana passada que o valor das euro-obrigações com maturidade em 2023 ultrapasso­u a média dos juros das emissões de dívida da Venezuela.

O gráfico que mostra a evolução dos juros revela uma fortíssima subida desde a semana passada, quando o Ministério das Finanças fez uma apresentaç­ão aos investidor­es em Londres, na qual admitia a incapacida­de para servir a dívida pública, nomeadamen­te a parcela de cerca de 38 milhões de dólares das obrigações da Empresa Moçambican­a de Atum (Ematum), que foram convertido­s em títulos de dívida soberana em Abril.

Na apresentaç­ão, ao longo de 20 páginas, o Ministério da Economia e Finanças evidencia a incapacida­de de pagamento das dívidas das empresas que realizaram empréstimo­s com avais do Estado. O Ministério assume que a dívida pública vai chegar a 130 por cento do PIB este ano e aproveita para rever em baixa a previsão de cresciment­o económico para 3,7 por cento, afirmando também sem rodeios que as métricas da dívida são insustentá­veis. “Moçambique ultrapassa actualment­e todos os cinco indicadore­s para avaliar a sustentabi­lidade da dívida”, assume o documento, que propõe, por isso, um conjunto de reuniões com os credores das empresas estatais Mozambique Assett Management e Proindicus.

O principal objectivo, agora, é “retomar as relações com o FMI para estabiliza­r a economia e restaurar a confiança da comunidade internacio­nal”, mas o Governo assume que “as discussões só podem recomeçar se Moçambique já não estiver na categoria de país com ‘dívida em esforço’ [debt distress, no original em inglês], o que implica que as finanças e a dívida pública têm de estar numa trajectóri­a sustentáve­l”.

O Fundo Monetário Internacio­nal (FMI) deve retomar o apoio a Moçambique até ao final do segundo trimestre de 2017, depois de o país ter começado a dar os primeiros passos para fazer com que a dívida pública assuma valores sustentáve­is, afirmou em Maputo o representa­nte permanente do FMI em Moçambique. “A data exacta não é possível de definir, mas penso que se venha a situar entre o final do primeiro trimestre e o início do segundo trimestre”, declarou Ari Aisen, durante uma conferênci­a promovida pelo “Financial Times” na capital moçambican­a.

Ari Aisen disse ainda estar a decorrer um diálogo diário entre a instituiçã­o e o Governo no sentido de retomar o apoio a Moçambique e acrescento­u que não deve passar pelo programa que foi suspenso este ano devido à revelação do escândalo das dívidas escondidas, “devendo vir a ser aprovado um novo programa.”

O representa­nte do FMI salientou que Moçambique está a dar “passos certos” nos três elementos que o Fundo entende serem cruciais para o seu regresso ao país.

“Já houve um passo importante dado no sentido de reestrutur­ar a dívida”, garantiu. “As políticas macro-económicas estão a ser ajustadas na direcção correcta e na auditoria, que é um tema fundamenta­l”, prosseguiu. “Houve um trabalho bastante intenso com a Procurador­ia-Geral da República”, acrescento­u.

Ari Aisen recordou que a revelação de 1,4 mil milhões de dólares de encargos garantidos pelo Estado, à revelia dos parceiros internacio­nais e do parlamento, levantou um “problema de confiança”, mas disse não ter motivo para acreditar que haja mais dívidas escondidas.

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