Data proclamada num momento de sacrifício
“Falo com alegria, mas também com certa tristeza, porque morreram muitos filhos de Angola, que deram tudo para sermos livres do colonialismo”, disse ao José Narciso Anselmo, 69 anos, mais conhecido por Kota Frikiki, residente no Sambizanga.
Kota Frikiki recorda os ataques perpetrados por comerciantes portugueses, com a ajuda da polícia colonial e militares, a moradores dos musseques de Luanda, após o 25 de Abril. Rangel, Cazenga, Prenda, Samba e Sambizanga eram considerados redutos dos nacionalistas.
No Sambizanga, a acção tentada por um grupo encabeçado por “dragões” - tropas especiais do exército português - foi gorada devido à presença de cerca de 25 jovens do bairro, em que estava incluído, que se reuniram atrás de um camião junto ao centro de saúde.
Vésperas da Independência
A 15 de Julho de 1974, vários angolanos ao serviço do exército português resolveram realizar uma manifestação junto à Fortaleza de S. Miguel, actual Museu das Forças Armadas, onde se encontrava o almirante Rosa Coutinho, então presidente da Junta Governativa de Angola. Grupos como o do Sambizanga passaram a manter a segurança dos nacionalistas nos musseques, antes mesmo da instalação dos movimentos de libertação. Com a chegada a Luanda da primeira delegação do MPLA, chefiada por Lúcio Lara, a 8 de Novembro de 1974, Kota Frikiki passou a integrar os quadros desse movimento e a desenvolver uma intensa actividade política.
José Narciso Anselmo esteve envolvido nos combates que precederam a proclamação da Independência. As “forças invasoras”, como as qualifica, prometiam “almoçar em Luanda”, a 11 de Novembro de 1975.
Como, entre as 17 e as 18h00 do dia 10, já se registava certa acalmia em Luanda, “organizámo-nos e partimos para o Largo 1º de Maio e formámos o cordão de segurança até à hora da proclamação da Independência”, contou.
Kota Frikiki recordou as reuniões que costumava realizar com companheiros do MPLA, como Manuel Pascoal (Manuelito), Celestino e Garrido Magalhães (Bula), irmão de Francisco Magalhães Paiva (Nvunda), na sua humilde casa no Sambizanga, na rua 12 de Junho.
A luta pela Independência “foi justa”, afirmou o antigo combatente, que descreveu o sentimento do 11 de Novembro de 1975 como de “regozijo”, pois, era já longa a noite colonial. “Hoje, vivemos na diferença e estamos reconciliados. É bonito”, afirmou Kota Frikiki, para quem os jovens devem procurar saber mais sobre a luta de libertação.