Bernie Sanders promete forte oposição a Trump
ESTADOS UNIDOS Candidato derrotado nas primárias democratas adverte sobre políticas racistas e contra os trabalhadores
O senador norte-americano Bernie Sanders, derrotado nas primárias democratas, disse estar disponível para trabalhar com o Presidente eleito dos EUA, em prol dos trabalhadores, mas alertou que vai opor-se a políticas sexistas, racistas e contra o ambiente.
“Se [Donald] Trump for sério em busca de políticas que melhorem a vida das famílias trabalhadoras deste país, eu e outros progressistas estamos preparados para trabalhar com ele”, disse Sanders, que perdeu nas eleições primárias do Partido Democrata frente a Hillary Clinton.
“Se implementar políticas racistas, sexistas, xenófobas e contra o meio ambiente, vamos opor-nos energicamente”, acrescentou o senador eleito pelo Vermont.
Sanders, que se identifica como um socialista democrático, disse que Trump “se aproveitou da ira de uma classe média em declínio que está doente e cansada da ordem económica, da classe política e dos meios de comunicação do poder.”
“As pessoas estão cansadas de trabalhar mais horas por salários mais baixos, de ver como trabalhos dignos vão para a China e para outros países com baixos salários”, acrescentou.
Donald Trump vai ser o 45º Presidente dos Estados Unidos depois de vencer a candidata do Partido Democrata, Hillary Clinton, nas eleições presidenciais disputadas na terça-feira.
Trump conquistou 289 mandatos eleitorais, contra 218 de Clinton, ultrapassando os 270 mandatos necessários para vencer a eleição, apesar de a candidata democrata ter superado o republicano no voto popular directo.
Entretanto, um dia depois da eleição de Donald Trump para Presidente dos EUA, milhares de pessoas protestaram contra a decisão saída das urnas em diversas cidades do país, havendo registo de pelo menos 30 detidos.
Em Nova Iorque, dois protestos confluíram junto da Trump Tower, em Manhattan, com os manifestantes a repetirem, noite adentro, ‘slogans’ como “não é o meu presidente” (not my president), palavras de ordem também escutadas nos restantes protestos.
Trinta manifestantes foram detidos por perturbações à ordem pública em Nova Iorque, segundo as autoridades citadas pela Efe.
Entre as manifestações descritas como as mais numerosas, estão as de Seattle (Washington), Filadélfia (Pensilvânia) e Chicago (Illinóis), cidade em que os manifestantes também escolheram a Trump Tower como lugar da concentração, entoando insultos contra o magnata.
A capital norte-americana, Washington, assim como Atlanta (Geórgia), Boston (Massachusetts), Denver (Colorado), Austin (Texas), Portland (Oregon), Saint Paul (Minesota) ou as cidades californianas de Los Angeles, San Francisco e San Diego foram igualmente cenário de grandes protestos contra o magnata republicano.
Todas estas cidades são bastiões democratas, em que Hillary Clinton ganhou na terça-feira a Donald Trump. Em algumas manifestações, foram queimadas bandeiras norte-americanas.
Em Los Angeles, os manifestantes, que estiveram pacíficos durante a maior parte da noite, dirigiramse mais tarde para a estrada 101, que liga a baixa daquela cidade a Hollywood, e aí permaneceram durante mais de uma hora, causando engarrafamentos com vários quilómetros de extensão.
A multidão começou a dispersar quando muitos dos manifestantes deixaram a via rápida e outros foram detidos pela Polícia.
Não houve violência entre polícias e manifestantes, escreveu a AP.
Embora a maioria dos protestos tenha decorrido sem incidentes, em Oakland (Califórnia) parte dos seis mil manifestantes estimados pela Polícia norte-americana formaram barricadas e atearam-lhes fogo. Alguns entraram em confrontos com os agentes numa tentativa de cortarem o trânsito numa via rápida (estrada interestadual 90).
Imagens de televisão mostraram alguns manifestantes entre a multidão a arrastarem objectos, incluindo caixotes do lixo, para alimentar uma fogueira na rua.
Em Richmond (Virgínia), manifestantes partiram janelas da sede local do Partido Republicano, tendo a Polícia efectuado uma dezena de detenções.
Em Nova Orleãoes (Luisiana), queimaram um boneco de Trump e partiram janelas de alguns edifícios, como bancos.
União Europeia
Os socialistas europeus, segundo maior bloco no Parlamento da União Europeia, consideraram “um dia triste para todo o mundo” o do anúncio da eleição do candidato republicano Donald Trump, que classificam como “a expressão de um vírus” que infectou as sociedades, nos Estados Unidos da América e na Europa.
De acordo com o líder dos socialistas europeus no Parlamento Europeu, Gianni Pittella, “o resultado da eleição presidencial de terça-feira terá um impacto significativo no futuro de todo o mundo” e “este terramoto muda tudo.”
“Agora a questão que enfrentamos é: será a Europa levada a reformar-se e a tornar-se finalmente um anticorpo capaz de equilibrar e lutar contra este vírus?”, questiona Gianni Pittella, num comunicado divulgado quarta-feira, em Bruxelas, após ser conhecida a vitória do candidato Donald Trump que, reforçou, é “assustadora.”
O parlamentar socialista europeu acrescentou que, apesar das declarações do candidato republicano durante a campanha eleitoral, os socialistas europeus acreditam que “os Estados Unidos permanecerão comprometidos com as relações transatlânticas” e têm esperança que “respeitem o legado de (Barack) Obama em questões como as alterações climáticas, objectivos de desenvolvimento sustentável e outros desafios comuns.”
“Temos de responder ao extremismo de Trump com reformas extremas”, acrescentou o líder da segunda maior família política na assembleia europeia.
Por sua vez, o líder do Partido Popular Europeu (PPE, direita), a maior família política no PE, considerou que o resultado das eleições presidenciais norte-americanas deve “despertar a Europa”, até porque agora não se sabe o que esperar do outro lado do Atlântico.
“A mensagem é clara: agora cabe à Europa agir. Devemos ter mais autoconfiança e assumir mais responsabilidades. Não sabemos o que esperar dos Estados Unidos (...) Devemos atender às preocupações e receios das pessoas de forma mais séria e dar respostas concretas e realistas. Não podemos deixar o terreno aberto para radicais”, declarou Manfred Weber.