Patrícia Faria tira fãs das cadeiras
Inspirada pela envolvência da sala do Royal Plaza Hotel, a casa do Show do Mês em Talatona, cujo palco coloca os músicos a abraçar o público, Patrícia Faria vestiu a pele de “la negra caliente” e reencontrou a intérprete do semba que há mais de uma década marcou a diferença numa carreira a solo, depois de anos de sucesso integrada nas Gingas do Maculusso.
Os dias 4 e 5 de Novembro ficam marcados na memória de quem foi ao anfiteatro da unidade hoteleira ou seguiu pela internet a exibição da artista de “mão cheia”, que assinou a proeza de ser a única a pisar o palco do conceito “duas noites, um show” nas três temporadas já realizadas do projecto cultural da empresa Nova Energia.
Voz afinada, físico em dia, com a cumplicidade do marido e do filho Henda, Patrícia Faria foi nas duas noites, durante 120 minutos de grande intensidade, a mulher multifacética que se desdobra na música, salta para o Direito, partilha afectos na rádio e ainda reserva energias para as exigências do lar. Até os mais cépticos renderam-se à sua qualidade artística e profissionalismo.
Ângela Maria e Miriam Makeba, duas senhoras da música brasileira e africana, foram as escolhas arrojadas de “la negra caliente”, na partilha das sonoridades que dão corpo à sua personalidade musical. Mas antes chamou ao palco Gary Sinedima, uma jovem certeza da música angolana distinguida pela simplicidade. Irreverente, encheu o peito e assumiu a homenagem póstuma a Bernardo Jorge “Bangão”, depois de partilhar um momento especial vivido na rádio. “Kibuikila”, o tributo à paz feita pelo distinto compositor e intérprete do semba, foi a escolha da estrela, a antepenúltima proposta do Show do Mês na sua terceira temporada.
Em perfeita harmonia com os instrumentistas, Patrícia marcou o compasso na cadência do sucesso de “Eme Kia”, obra com a qual ganhou o Top dos Mais Queridos da RNA, em 2003, e do mais discreto “Baza Baza”, lançado seis anos depois.
O regresso às Gingas do Maculusso, com a participação de Josina Stela “Guda”, Gersy Pegado e Celma Miguel, levou os fãs a recuarem exactamente 20 anos no tempo, para lembrar o período de maior sucesso das meninas da professora Rosa Roque. Hoje mulheres com partos feitos, como sublinhou várias vezes a anfitriã, as quatro mostraram genica e vivacidade na representação da coreografia. Já a preparar a sala para a despedida, Patrícia Faria cantou “Caroço aquecido”. Dançou e ainda deu um toque de Jet Li, actor e produtor chinês das artes marciais, para mostrar a sua forma física. Mas coube a Pacheco, o personagem do tema “Cama e mesa” fazer o fecho em apoteose, antes de ser anunciada Yola Semedo como a próxima estrela, nos dias 1 e 2 de Dezembro, logo a seguir aos “4.0” de música de Eduardo Paim “General Kambuengo”, dia 25 de Novembro no Centro de Conferências de Belas.
Bem no espírito intimista do Show do Mês, a menina feita mulher no semba interagiu e brincou com a plateia, que teve direito a bis na noite de sábado. Para facilitar a mobilidade, a cantora dispensou os saltos, apostando numas sandálias Cleópatra a condizer com os trajes em tecido africano usados nas duas noites.