Fusão do Millenium Angola gera mais ganhos às partes
O Banco Comercial Português (BCP) acredita que a fusão do Millennium Angola com o Banco Atlântico, que deu origem ao novo Millennium Atlântico, pode gerar mais ganhos para o banco luso, dada a eficiência nas suas operações, referiu Nuno Amado, presidente da instituição portuguesa.
A criação do Banco Millennium Atlântico, que gerou 250 milhões de euros ao BCP, decorreu da necessidade de o BCP, então com 50,1 por cento de participação no Millennium, reduzir a sua sobreexposição no mercado angolano, como orientação do BCE (Banco Central Europeu).
“Fizemos uma aliança para o desenvolvimento da nossa operação em Angola. Inicialmente, havia operações cruzadas entre Millennium Angola e o Atlântico, que operavam em segmentos distintos do negócio bancário. Tudo isso funcionou bem, melhor do que pensava”, afirmou o gestor num debate promovido pelo Instituto Português de Corporate Governance (IPCG), em Lisboa.
Nuno Amado disse que “meteram lá pessoas boas”, mas “algumas voltaram por falta de adaptabilidade, mas foi um investimento”.
Para o banqueiro português, a sua instituição teve objectivos claros que foram atingidos. “Mas houve um momento em que houve uma alteração nas condições de mercado que tornou tudo mais difícil. Decidimos avançar para um novo tipo de parceria. O melhor é antecipar os problemas e agir rapidamente. Com algumas dificuldades, como nos casamentos, fizemos uma nova parceria para um novo banco, onde somos agora um parceiro minoritário”, acrescentou o líder do BCP.
Com a fusão, a participação do BCP na nova instituição caiu de 50,1 para 22,5 por cento - com quase certa a subida da rendibilidade. O restante capital do Millennium Atlântico ficou nas mãos da Global Pactum, maior accionista do Atlântico.
Nuno Amado explicou que, após a concretização da fusão, a parceria passou para um segundo nível, que disse esperar que corra tão bem como o primeiro, pois “tem tudo para dar certo. Passámos para um novo estágio na evolução da nossa parceria e penso que bem”, vincou.
O banqueiro apontou ainda para as qualidades que a entidade portuguesa tem e que vão contribuir para o sucesso do novo Millennium Atlântico. “Temos uma base técnica boa, somos bem-intencionados e temos a capacidade de adaptação para este tipo de parcerias. Tenho uma visão não de pai, mas de padrinho. E de padrinho de baptizado, porque quando cheguei o filho já estava criado”, finalizou o presidente do BCP.
A fusão criou uma das maiores instituições financeiras de Angola, ficando em segundo lugar no crédito à economia, com uma quota de mercado de 10 por cento em volume de negócios, 11 por cento no crédito e nove por cento nos depósitos.
A nova instituição nasceu com mais de 3,4 mil milhões de euros em activos, dois mil colaboradores, 150 balcões - a aposta no digital é reforçada, num país onde mais de metade da população é jovem e o número de telemóveis está a crescer exponencialmente - e mais de 500 mil clientes.
Interesse angolano no BCP
O presidente do BCP escusou-se a comentar o noticiado interesse da Sonangol, que é a maior accionista do banco, em reforçar a sua posição para mais de 20 por cento do capital da entidade portuguesa. “A Sonangol é um accionista. Não falo sobre accionistas nem sobre este tipo de situações. Não posso nem quero falar”, afirmou Nuno Amado.
Actualmente, a petrolífera angolana detém 18 por cento do capital do BCP, sendo a sua maior accionista. Durante o debate, em que também participaram o presidente do Conselho Geral do IPCG, Pedro Rebelo de Sousa, e o professor do ISCTE Luís Todo Bom, o forte investimento que as empresas chinesas têm feito em Portugal foi abordado, isto, numa altura em que o Grupo Fosun negoceia a entrada no capital do BCP.
“Prefiro alguém que tenha uma estratégia de 10 ou 15 anos do que de dois ou três trimestres”, admitiu Nuno Amado, considerando ainda que, do ponto de vista accionista, “é melhor ter diversidade do que não ter diversidade”.
Na quarta-feira, Nuno Amado afirmou em conferência de imprensa a propósito da apresentação das contas do BCP nos primeiros nove meses do ano, que as negociações com a Fosun relativas à entrada do grupo chinês no banco estão bem encaminhadas e que espera que até ao próximo dia 21 haja condições para dar mais um passo neste processo. “Estão a correr as negociações de uma forma adequada e achamos que dia 21 temos condições para votar”, afirmou Nuno Amado.
O gestor não quis especificar quais são as matérias que ainda não estão fechadas, mas revelou que “tem a ver com um conjunto de aspectos, quer de natureza de negócio, quer de natureza de supervisão”.
Certo é que, tal como Amado reconheceu, o adiamento da votação da alteração do limite de desblindagem dos direitos de voto no BCP dos actuais 20 por cento para 30 por cento, que era para ter sido hoje feita na reunião magna de accionistas que antecedeu a apresentação dos resultados e foi adiada para nova assembleia-geral (AG), a realizar a 21 de Novembro, “está muito ligado à proposta que a Fosun fez”.