As empresas e os bancos
Vários especialistas angolanos e não só defendem que as pequenas e médias empresas constituem unidades produtivas indispensáveis , pois elas ajudam grandemente a alavancar o crescimento económico e a gerar muitos empregos, em particular em épocas de crise económica e financeira.
Países de outros continentes que foram afectados pela crise económica e financeira mundial centraram-se na concessão de incentivos à criação ou revitalização de pequenas e médias empresas, com resultados satisfatórios.
Em Angola, vão-se criando cada vez mais pequenas e médias empresas, com a desburocratização de uma série de serviços públicos, que têm por missão viabilizar o surgimento de unidades produtivas, por via da simplificação de procedimentos .
Entretanto, não basta que uma empresa tenha apenas existência legal. Uma empresa tem projectos que necessitam de financiamento. Um dos grandes problemas das nossas empresas é a falta de financiamento para fazer arrancar os seus projectos.
Mas felizmente criaram-se mecanismos que permitem que as nossas pequenas e médias empresas tenham acesso ao crédito bancário em condições pouco onerosas. Felizmente, muitos bancos comerciais compreenderam que devem, eles também, desempenhar um papel importante no processo de crescimento da economia.
Segundo dados recentemente revelados pelo presidente do Conselho de Administração do Instituto Nacional de Apoio às Pequenas e Médias Empresas, os bancos comerciais concederam mais de 112,8 mil milhões de kwanzas a unidades produtivas daquela dimensão, nos últimos quatro anos , para o financiamento de 480 projectos produtivos, no âmbito do “Programa Angola Investe”.
O Instituto tem sido de grande utilidade para que as pequenas e médias empresas tenham acesso a crédito bancário, atribuindo aos negócios dessas unidades produtivas esta ou aquela categoria. Estas empresas recebem dos bancos valores em função da categoria que lhes é atribuída.
Todo este esforço que os bancos comerciais fazem para financiar a actividade produtiva das pequenas e médias empresas deve ser aproveitado por estas unidades para arrancar com os seus negócios e para consolidá-los.
É necessário entretanto que se preste muita atenção à criação de infra-estruturas no campo, onde uma parte considerável de empresas quer trabalhar. Sem infra-estruturas básicas, elevam-se os custos de produção das empresas e levam a que os potenciais investidores desistam dos seus projectos.
Sabe-se que o agro-negócio é uma aposta de muitas empresas angolanas, pelo que importa que rapidamente se instalem as infra-estruturas necessárias para que as unidades produtivas possam fazer o seu trabalho e possam ser prósperas. A prosperidade das empresas contribui para o combate à pobreza em que se encontram muitas famílias nas zonas rurais.
O presidente da Associação Industrial de Angola (AIA), José Severino, experiente empresário angolano, considerou determinante a aposta na agricultura para a inversão do quadro de dependência do petróleo, cujo preço no mercado é volátil. José Severino, que falava num seminário sobre mecanismos de acesso ao financiamento, é um defensor da valorização do empresário angolano, que pode fazer muitas coisas boas se lhe derem oportunidades e incentivos diversos, sobretudo nesta altura em que muitas empresas carecem de capital .
Deve-se começar a apostar mais na capacidade dos nossos empresários, devendo-se abandonar a ideia de que o angolano é incapaz de realizar os seus projectos produtivos. Não vamos a lado nenhum se se continuar a desconfiar dos empresários angolanos ou de potenciais empresários do nosso país.
Ao que tudo indica, os bancos comerciais, a julgar pelos valores já concedidos em quatro anos a pequenas e médias empresas, estão a perceber que vale a pena conceder crédito para que angolanos possam investir no seu próprio país. Há no nosso país muitos angolanos que, por exemplo, querem e sabem trabalhar a terra. Muitos desses angolanos nasceram, cresceram e sempre trabalharam nas zonas rurais. São estas pessoas que podem estar em condições de realizar projectos de pequena e média dimensão ou familiares, de modo a que a nossa agricultura conheça rapidamente uma grande expansão.
Há muitos especialistas que são de opinião que o investimento em pequenas e médias empresas no campo deve ser uma prioridade, devendo-se ainda, segundo eles, prosseguir no estabelecimento de eficientes mecanismos de conservação dos produtos e de circuitos de distribuição capazes de com celeridade levar a produção ao mercado, potenciando-se assim o negócio de milhares de trabalhadores das zonas rurais.
Não há economia que viva sem crédito. As empresas são agentes económicos que recorrem frequentemente ao crédito e os bancos, no interesse da economia, devem ter disponibilidade para financiar aquelas actividades produtivas que são potencialmente rentáveis.