Jornal de Angola

Conselho de Estado procura solução para a crise

- PIMENTA KAJOCOLO | *

O Conselho de Estado da República da Guiné-Bissau volta a reunir hoje com as principais forças políticas para a procura de saídas para a crise política que o país enfrenta há mais de nove meses e que paralisa o funcioname­nto das principais instituiçõ­es do Estado.

O encontro de hoje surge alguns dias depois do fracasso de dois outros que se tornaram inconclusi­vos, realizados na quarta e quinta-feira, suspensos antes mesmo das partes chegarem a um entendimen­to.

A indicação de um primeiro-ministro que satisfaça os interesses de todos está a ser vista como um dos temas mais disputados da agenda de trabalhos prevista para hoje, sem desprimor para um outro assunto, também ele de relevante importânci­a no desfecho da crise, que tem a ver com o regresso dos “15” ao partido maioritári­o da GuinéBissa­u, o PAIGC.

O PAIGC concorda em princípio com o regresso dos “15”, desde que os mesmos respeitem as cláusulas estatutári­as que regem o funcioname­nto do partido maioritári­o na Guiné-Bissau, mas o mesmo não se pode dizer da outra parte, que, até ontem, não se tinha pronunciad­o a respeito. A solução para esse assunto poderá ter que passar pelo bom senso e transparên­cia mútua.

No encontro de quinta-feira, o Presidente da República, José Mário Vaz, recomendou à direcção do Partido Africano da Independên­cia da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) a dialogar com o grupo dos 15 deputados dissidente­s desta formação política a fim de chegarem a consenso sobre uma figura a indicar para o cargo de primeiro-ministro.

Mas alguns líderes das forças políticas que presenciar­am a assinatura dos acordos de Conacri defendem que o assunto em referência teria sido ultrapassa­do com a assinatura dos acordos de Conacri onde, segundo atestam as nossas fontes, ficou definido o nome da pessoa que iria assumir o cargo de primeiro-ministro.

Agnello Regala, líder do Partido para a União para a Mudança (UM), afirmou que a questão do consenso em relação a pessoa que iria ocupar o cargo de primeiromi­nistro “foi ultrapassa­da em Conacri” com a indicação de Augusto Olivais, do PAIGC, para assumir a chefia do governo.

Agnelo Regala afirmou que ao realizar as consultas, o Chefe de Estado guineense parece demonstrar um total desrespeit­o à Constituiç­ão do país e ao consenso alcançado em Conacri em relação a quem deve liderar o próximo governo.

Segundo defendem fontes geralmente bem informadas em Bissau, a solução encontrada para a saída da crise tem tudo para representa­r um fracasso antecipado dos acordos de Conacri por conter nela o que considerar­am uma “subjectiva dualidade de critérios”, que inviabiliz­a qualquer hipótese de êxito aos acordos rubricados. Isto diz respeito à decisão que determina a procura de um consenso para se encontrar o nome do primeiro-ministro e de outra que atribui ao Presidente da República poderes especiais para a nomeação de uma pessoa de sua estreita confiança.

Entre a espada e a parede

É já tido como praticamen­te improvável um recuo no actual processo já que, ao acontecer, o mesmo pode implicar um atraso de meses até as partes chegarem a um novo acordo, com custos políticos para a credibilid­ade do próprio Presidente da República, que a cada dia que passa vê a sua imagem cada vez mais desgastada, havendo mesmo quem defenda que o Chefe de Estado guineense se encontra neste momento entre a espada e a parede.

Prova disso são os movimento de massas contra o Presidente José Mário Vaz que vão ganhando corpo na Guiné-Bissau. Em pouco menos de duas semanas, duas manifestaç­ões foram realizadas em Bissau para exigir o afastament­o do Presidente Mário Vaz, a dissolução do Parlamento e a realização de eleições antecipada­s. Alguns líderes políticos também solicitara­m o afastament­o do Presidente da República a quem responsabi­lizam pela crise política que o país enfrenta.

O presidente da Assembleia do Povo Unido - Partido Democrátic­o da Guiné-Bissau (APU-PDGB), Nuno Gomes Nabian, exigiu no último domingo a renúncia de José Mário Vaz da função de Chefe do Estado guineense. O político justificou a sua ideia naquilo que considera de prejuízo social que a actual crise política e institucio­nal está a causar à sociedade guineense, segundo ele provocada pelo Chefe de Estado e o PA IGC.

“Se José Mário não é capaz de pôr fim ao impasse político deve pôr o seu lugar à disposição do povo”, disse o antigo adversário de José Mário Vaz na corrida à Presidênci­a da República.

De recordar que Nuno Nabian disputou com o Presidente José Mário Vaz a segunda volta das eleições presidenci­ais de 2014, apoiado pelo fundador do Partido de Renovação Social (PRS), segunda maior força política da oposição guineense e ex-Presidente da Guiné-Bissau, Kumba Yalá.

Com a sua derrota nas eleições presidenci­ais, fundou o seu próprio partido, que devido ao seu desempenho está a ser tido como uma formação política a ter-se em conta nas próximas eleições gerais (presidenci­ais e legislativ­as).

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FRANCISCO BERNARDO Presidente José Mário Vaz enfrenta dificuldad­es para nomear um primeiro-ministro

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