Colombianos superam divergências
O Governo colombiano e a guerrilha das FARC anunciaram, no sábado, a conclusão de um tratado de paz para salvar o acordo histórico rejeitado pelos colombianos, no referendo do mês passado.
“Concluímos um novo acordo de paz para pôr fim ao conflito armado, que contém mudanças, precisões e contribuições de vários sectores da sociedade” colombiana, anunciaram no sábado as duas partes, num comunicado comum divulgado na capital cubana. “Em resposta ao clamor dos colombianos para concretizar o desejo de paz e reconciliação, alcançámos um novo acordo final”, refere o comunicado das duas partes, lido pelos representantes dos países mediadores do processo, Cuba e Noruega.
O novo documento foi assinado pelos líderes das delegações de negociadores do Governo colombiano, Humberto de la Calle, e das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), “Iván Márquez” (como é conhecido Luciano Arango). As duas delegações mantiveram nove dias de intensas negociações em Havana - sede das negociações de paz durante os últimos quatro anos - para alcançar um novo consenso para “conseguir uma paz estável e duradoura”.
O novo acordo de paz “integra mudanças, precisões e contribuições dos mais diversos sectores da sociedade, revistos um a um”, acrescenta o comunicado.
“A construção de uma paz estável e duradoura, objectivo a que responde este novo acordo, deve ser o compromisso comum de todos os colombianos que contribua para ultrapassar as divisões e que recolha todas as expressões políticas e sociais”, refere. Os negociadores de paz convidam “toda a Colômbia e a comunidade internacional, sempre solidária na procura da reconciliação, para acompanhar e apoiar” o novo pacto “na sua pronta aplicação para deixar no passado a tragédia da guerra”.
Consenso com a oposição
Horas antes do anúncio, o Presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, convocou para uma “reunião urgente” o antigo Chefe de Estado colombiano Álvaro Uribe, líder do Centro Democrático, que protagonizou a campanha do “não” no referendo ao acordo de paz.
Os antigos Presidentes Andrés Pastrana (1998-2002) e Álvaro Uribe Vélez (2002-2010) são as vozes mais representativas do “não” e apresentaram, na semana passada, a Juan Manuel Santos um documento com 500 propostas de alterações, sobre as quais trabalharam as duas delegações de negociadores em Havana.
O Chefe de Estado disse que recolheram as propostas dos exPresidentes os quais citou em vários momentos do seu discurso. Além disso afirmou que receberam as iniciativas propostas por outros opositores como o Centro Democrático, partido de Uribe, dirigentes conservadores, igreja e outras organizações religiosas e sociais, empresários, sindicatos, tribunais e magistrados. No total, alcançaramse “precisões, ajustes e alterações” em 56 dos 57 temas abordados com os opositores e posteriormente apresentados às FARC. Santos agradeceu a todos e mostrou-se satisfeito por todos os sectores colombianos terem participado no novo texto, porque “a paz é de todos”.
O único ponto em que não conseguiram avanços, segundo reconheceu Santos, foi “que os chefes guerrilheiros não poderiam ser eleitos” para cargos públicos. Essa era uma das reivindicações dos que votaram “não” no referendo sobre o acordo de paz assinado a 26 de Setembro em Cartagena das Índias.
O Governo colombiano e a guerrilha das FARC assinaram a 26 de Setembro passado, em Cartagena das Índias, o acordo de paz concluído em Agosto no final de cerca de quatro anos de negociações em Havana para terminar o conflito armado e a guerrilha mais antiga no continente americano.
No entanto, a maioria dos colombianos recusou o acordo no referendo de 2 de Outubro, o que levou Juan Manuel Santos a convocar os líderes dos movimentos opositores para conseguir um consenso e resolver o processo de paz.
Aprovação das FARC
O líder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), Timoleón Jiménez 'Timochenko', afirmou ontem na rede social Twitter que “a paz está a triunfar”, após a assinatura, em Havana, do novo acordo de paz com o Governo colombiano.
“Fizemos o nosso melhor para responder ao desejo de paz e conseguimo-lo”, disse noutro comentário no Twitter o líder dos rebeldes, cujo nome verdadeiro é Rodrigo Londoño Echeverri.