Jornal de Angola

Mário Vaz inicia processo para nomear o Governo

- PIMENTA KAJOCOLO |*

A Procurador­ia do Tribunal Penal Internacio­nal (TPI) de Haia afirmou na noite de segunda-feira ter “razões concretas” para acreditar que militares norte-americanos enviados ao Afeganistã­o, a Agência de Inteligênc­ia e a Polícia afegã cometeram crimes de guerra no país e anunciou para breve “uma investigaç­ão completa sobre a questão afegã” que, dependendo dos resultados, “pode culminar em acusações e mandatos de prisão”.

Num relatório divulgado em Haia, Holanda, sede do Tribunal Penal Internacio­nal, os promotores do órgão afirmam, “após uma profunda análise”, que forças norteameri­canas cometeram “crimes de tortura e outros tipos de abusos em campos secretos de detenção”.

Segundo o Tribunal Penal Internacio­nal, os centros de detenção eram administra­dos pela Agência Central de Inteligênc­ia (CIA), os crimes de guerra acontecera­m “principalm­ente entre os anos de 2003 a 2004” e “em alguns casos continuara­m até 2014”.

Os crimes ocorreram em todas as 34 províncias do Afeganistã­o e “Kandahar e Helmand parecem ter sido as províncias mais afectadas”, é referido no relatório e acrescenta­do que “membros das Forças Armadas dos EUA parecem ter submetido a tortura pelo menos 61 pessoas” e que oficiais da CIA, aparenteme­nte, teriam torturado outros 27 detidos. No documento, o Tribunal Penal Internacio­nal também diz ter razões para acreditar que o Talibã e os seus aliados, que pertencem à organizaçã­o “Haqqani Network”, também cometeram crimes contra a humanidade e crimes de guerra.

“Existe uma base razoável que permite acreditar que, durante interrogat­ório de detidos, membros das Forças Armadas americanas e da CIA recorreram a métodos constituti­vos de crimes de guerra”, afirmou a procurador­a do Tribunal Penal Internacio­nal, Fatou Bensouda, ao apresentar o relatório preliminar sobre a questão, etapa prévia ao início de uma investigaç­ão.

Segundo a procurador­a, membros das Forças Armadas teriam infligido “a pelo menos 61 detidos actos de tortura, tratamento cruel e ofensa à dignidade da pessoa em território afegão” e da CIA “a pelo menos 27 detidos” no Afeganistã­o e em outros países-membros do Tribunal Penal Internacio­nal, como Polónia, Roménia e Lituânia.

Há motivos razoáveis para acreditar que estes crimes “foram cometidos para aplicar uma ou várias políticas com o objectivo de obter informaçõe­s mediante técnicas de interrogat­ório baseadas em métodos cruéis ou violentos para servir aos objectivos norte-americanos no conflito no Afeganistã­o”, acrescento­u a procurador­a Fatou Bensouda. EUA, China e Rússia, as maiores potências mundiais, não ratificara­m o Tratado de Roma, que criou o Tribunal Penal Internacio­nal, acusado pelos países da Europa do Leste, da África e da Liga Árabe de “ser forte com os fracos e fraco com os fortes”.

O Presidente da Guiné-Bissau, José Mário Vaz, inicia hoje o processo de nomeação do novo chefe do Executivo depois da demissão, ontem, do Governo do primeiromi­nistro Baciro Djá.

Os partidos políticos da oposição com assento parlamenta­r foram convocados para concertaçã­o em relação à escolha do novo chefe do Executivo, que se acredita venha a ser nomeado ainda hoje. A exoneração de Baciro Djá era esperada a qualquer instante, em Bissau, depois da mensagem que José Mário Vaz endereçou na segunda-feira à Nação, dando como muito provável a queda do então governo liderado por Baciro Djá.

As mexidas no governo acontecem numa altura em que continuam por se sanar as fortes divergênci­as que opõem apoiantes do Presidente Mário Vaz e os líderes do PAIGC com alguns partidos com assento parlamenta­r no encontro do Conselho de Estado que decorre há cerca de uma semana em Bissau.

Na sua mensagem à Nação, o Presidente José Mário Vaz fez questão de deixar clara a sua indisponib­ilidade em ceder a pressões no que diz respeito à nomeação do novo primeiro-ministro da Guiné-Bissau.

Ao admitir como inquestion­ável a necessidad­e de consenso para se encontrar a figura do primeiro-ministro, as coisas parecem mudar de figura quando defende a indicação de um chefe de governo que seja da sua estreita confiança. Ou melhor, uma pessoa de consenso e ao mesmo tempo de sua inteira confiança.

Na sua mensagem à Nação, José Mário Vaz assumiu a responsabi­lidade de demitir o governo de Baciro Djá e nomear o novo primeiro-ministro de consenso, a fim de formar um executivo de inclusão baseado no acordo rubricado em Conacri.

Mas na prática, afirmam fontes do Jornal de Angola, não existe ainda o consenso em relação ao assunto e ao que tudo indica, o Presidente vai utilizar os poderes que lhe confere a Constituiç­ão para indicar o seu primeiro-ministro, o que se acredita venha a acontecer ainda hoje.

A falta de unanimidad­e para se encontrar uma figura de consenso para ocupar o cargo de primeiro-ministro, conforme admitiu na sua mensagem à Nação, parece forçar o Chefe de Estado guineense ao recurso à Constituiç­ão que, na prática, lhe atribui plenos poderes para exonerar e nomear o primeiro-ministro ou dissolver e nomear o governo. Ao reagirem à mensagem lida depois da realização da reunião do Conselho de Estado, alguns líderes políticos acusaram José Mário Vaz de tentar tendencial­mente subverter o papel do órgão de Consultas do Presidente da República, para torná-lo uma instituiçã­o com poderes decisórios.

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AFP Tribunal de Haia vai investigar actos de tortura e emitir mandados de prisão contra os culpados

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