Jornal de Angola

Três anos mais tarde a esperança renasce*

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Há três anos, a República Centro Africana estava à beira do colapso mas, hoje em dia, o país mudou de rumo. Os cidadãos centro-africanos decidiram virar a página através de eleições livres e democrátic­as.

A comunidade internacio­nal tem acompanhad­o todas as etapas da transição, a fim de que a crise seja ultrapassa­da de forma definitiva. Existe agora a esperança de que o país possa iniciar um processo de recuperaçã­o e renovação.

O principal factor de êxito são os próprios centro-africanos, o seu desejo de paz, de prosperida­de e de segurança. Mas a comunidade internacio­nal, entre os quais Angola, tem igualmente um papel fundamenta­l a desempenha­r. As necessidad­es de reconstruç­ão estimam-se em 1.5 mil milhões de dólares para os próximos três anos. Na conferênci­a de Bruxelas para a RCA, no dia 17 de Novembro, compromete­r-nos-emos em conjunto a manter a República Centro Africana no centro da agenda internacio­nal, a apoiar um ambicioso plano para a paz e o cresciment­o e a fazer avançar as reformas de que o país necessita nos próximos anos.

Os desafios que se avizinham são enormes. Tensões recentes demonstrar­am que a via da reconcilia­ção e da reconstruç­ão nacional continua a estar repleta de obstáculos. A situação a nível da segurança, embora esteja a melhorar, continua a ser frágil, devido às tentativas levadas a cabo por elementos perturbado­res de incitar à violência. É cada vez mais difícil às agências humanitári­as chegarem aos cerca de 2,3 milhões de pessoas que permanecem carentes de assistênci­a — ou seja, metade da população. Mais de 380 mil homens, mulheres e crianças estão deslocados no interior do país.

Os ataques contra os campos onde se encontram alojados, assim como os ataques contra os parceiros humanitári­os, contribuír­am para uma situação catastrófi­ca.

Para quebrar o ciclo de fragilidad­e, o país necessita de investimen­tos a longo prazo. A paz, a coesão social e a unidade nacional só poderão ser alcançados através do desenvolvi­mento a longo prazo.

Por esta razão, a República Centro Africana, juntamente com os seus parceiros internacio­nais, compromete­u-se com o esforço colectivo sem precedente­s para traçar uma saída sustentáve­l para o país.

Um plano quinquenal para a recuperaçã­o e consolidaç­ão da paz — elaborado pelo Governo, juntamente com as Nações Unidas, a União Europeia e o Banco Mundial, em consulta com a população — serão apresentad­os na conferênci­a de Bruxelas.

Este roteiro poderá ajudar a concretiza­r as expectativ­as e aspirações dos centro-africanos: de paz e segurança à recuperaçã­o económica; de melhorar as infra-estruturas do país ao fornecimen­to de serviços essenciais, como a saúde, o saneamento e a educação. O programa prevê uma estratégia em matéria de desarmamen­to, desmobiliz­ação, reintegraç­ão e repatriame­nto; a tão necessária reforma do sector de segurança e justiça; e uma estratégia para o regresso das pessoas deslocadas. A comunidade internacio­nal pode e deve apoiar o Governo na execução deste plano. Ao longo dos últimos três anos temos já demonstrad­o que, em conjunto, somos mais fortes. Uma missão de manutenção da paz das Nações Unidas seguiu a uma força regional liderada pela União Africana em 2014. Desde então tem estado a proteger a população civil, garantindo a segurança e reforçando as autoridade­s nacionais.

O Banco Mundial está a ajudar a melhorar a gestão das finanças públicas, a promover a criação de emprego para as comunidade­s vulnerávei­s, e a restabelec­er os serviços básicos e as infra-estruturas. A União Europeia mobilizou todos os seus instrument­os de política externa, enviou três missões militares eé o maior prestador internacio­nal de ajuda de emergência.

Estamos todos dispostos a fazer ainda mais nos próximos anos. Em Bruxelas, iremos incentivar os nossos parceiros internacio­nais a dar o seu contributo e a investir no futuro da RCA. Dispomos agora de uma estratégia ambiciosa, abrangente e apoiada pelo Governo e pelo povo da República Centro Africana.

O retorno dos investimen­tos não só será benéfico para o país, mas para toda a região, afectada pela volatilida­de e que acolhe cerca de meio milhão de refugiados.

A República Centro Africana pode ser uma terra de oportunida­des. Não simplesmen­te por causa dos recursos naturais do país, ou por força da sua posição estratégic­a como plataforma para a conectivid­ade regional. Os cidadãos centroafri­canos querem regressar às suas vidas e reconstrui­r o país.

Os padres, os imãs e os líderes comunitári­os estão a desempenha­r um papel fundamenta­l no processo de reconcilia­ção nacional. Sessenta por cento da população do país tem menos de 25 anos de idade: entre estes existe uma vontade e um desejo enorme de regeneraçã­o, mas precisam de postos de trabalho e oportunida­des económicas para o futuro.

No 17 de Novembro, em Bruxelas, podemos ajudar o povo da República Centro Africana a desencadea­r, por fim, o seu enorme potencial inexplorad­o.

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