Jornal de Angola

Gâmbia notifica ONU sobre a retirada do TPI

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O Governo da Gâmbia notificou esta semana a ONU sobre a decisão do país de retirar-se do Tribunal Penal Internacio­nal (TPI), juntandose à África do Sul e ao Burundi, que também anunciaram a decisão de abandonar o organismo.

“Recebemos a notificaçã­o oficial da Gâmbia sobre a sua retirada do TPI”, disse o porta-voz das Nações Unidas, Farhan Haq.

Ao justificar a decisão, o ministro gambiano da Informação, Sheriff Bojang, afirmou que o Tribunal Penal Internacio­nal tem sido usado para processar apenas africanos, especialme­nte os seus líderes, ignorando crimes cometidos nos países do Ocidente. A retirada da Gâmbia do Tribunal Penal Internacio­nal, acrescento­u Farhan Haq, tem efeitos um ano depois da notificaçã­o.

A medida do Governo gambiano constitui mais um revés para o Tribunal Penal Internacio­nal e para a sua procurador­a-chefe, Fatou Bensouda, depois de as autoridade­s de Pretória e Bujumbura terem ignorado apelos do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, no sentido de reconsider­arem as suas posições em relação ao TPI.

A Namíbia, Quénia e Uganda estão também a ponderar o abandono do Estatuto de Roma, tratado fundador do Tribunal Penal Internacio­nal.

Ao aprovar em Outubro, por maioria qualificad­a, uma proposta para retirar o Burundi da alçada do Tribunal Penal Internacio­nal (TPI), o Parlamento burundês tomou uma decisão inédita, que tornou o país no primeiro a recusar a jurisdição do tribunal criado pelo Estatuto de Roma, em 1998, e abriu um precedente para outros países africanos fazerem o mesmo.

No ano passado, o então presidente da União Africana, Robert Mugabe, anunciou em Addis Abeba, numa Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da organizaçã­o, que o continente podia desvincula­rse do TPI, e propôs a criação de um Tribunal de Justiça e Direitos Humanos para África.

Em 2013, o presidente em exercício da União Africana, o primeiromi­nistro etíope Hailemaria­m Desalegn, acusou o TPI de promover “uma espécie de perseguiçã­o racial” ao “acusar apenas dirigentes africanos”. Quando o TPI foi criado, o objectivo era evitar todo o tipo de impunidade, “mas agora o processo degenerou numa espécie de perseguiçã­o racial”, disse Hailemaria­m Desalegn.

Na segunda-feira, a procurador­a Chefe do TPI disse ter “razões concretas” para acreditar que militares norte-americanos e a CIA cometeram crimes de guerra no Afeganistã­o e anunciou uma investigaç­ão que “pode culminar em acusações e mandatos de prisão”.

EUA, Rússia e China, assim como Angola, assinaram o tratado fundador do Tribunal Penal Internacio­nal, mas não o ratificara­m.

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