Crise económica e determinação
A economia angolana, que se desenvolvia significativamente até ao início da crise económica mundial, causadora de naturais reduções de vendas e compras ao estrangeiro, volta a apresentar perspectivas de um futuro melhor.
O pior da crise, que encareceu o dia-a-dia de todos nós, especialmente daqueles com menores recursos financeiros, parece estar ultrapassado devido a uma série de medidas governamentais, mas também, é bom sublinhar, à capacidade de um povo habituado a vencer adversidades e reinventar sorrisos nas horas mais amargas.
A crise afectou o quotidiano de muitos angolanos, principalmente luandenses, obrigados a privarem-se de “luxos”: os “pré-jantares” ao final de tarde enquanto aguardavam o desanuviar do trânsito automóvel para poderem chegar a casa, as noitadas de sextafeira, as roupas de marca, viagens ao estrangeiro. Mas beliscou, também, a certeza de poderem a qualquer hora comprar em grandes ou pequenas superfícies comerciais o que quisessem a preços normais, sem que açambarcadores se tivessem antecipado.
O angolano, particularmente o kaluanda, até com a carteira cheia de quase nada, mesmo que proteste contra tudo e todos menos com ele, que não seguiu o exemplo da cigarra - não deixa de rir, de farrar, de interpretar, se preciso, o papel da cigarra. Acima de tudo, não perde a esperança.
A crise afectou – a uns mais, a outros menos – a vida particular de cada um de nós. Pior, foi ter atingido o país no seu todo, com o adiamento da recuperação e edificação de arruamentos, bairros, barragens, cidades, estabelecimentos de ensino e de saúde, estradas nacionais, fábricas, pontes. A agricultura, a pecuária e a pesca sentiram igualmente os efeitos da situação, bem como as trocas comerciais. Por reflexo, o kwanza perdeu cotação.
Alguns entendidos na matéria – não me refiro “aos sabem tudo” - afirmam que a crise pode ser útil para o desenvolvimento de Angola. Discordo em absoluto. Continuo a pensar que não há mal que venha por bem. No que acredito é na determinação e capacidade de um povo que, na defesa da integridade do solo pátrio, derrotou inimigos em maior número e melhor apetrechados, das cinzas, em pouco mais de uma década de paz, fez um país admirado e respeitado no mundo, até por antigos inimigos declarados, impôs-se a nível internacional, com o desempenho de cargos em organismos decisórios, onde fez ouvir a voz na defesa dos direitos de um Estado soberano como o nosso, na defesa de outros, mas também para tecer críticas a quem entendeu que as merecia.
Angola - que mesmo antes do eclodir da crise internacional que outros criaram iniciara já o processo de diversificação económica - da mesma forma que, no tempo “das vacas gordas” não se deitou “de papo para o ar” “à sombra da bananeira”, não se estende agora na esteira das lamentações. Recusou o papel da carpideira profissional à espera de benesses, continuou de mangas arregaçadas na procura de saídas para o problema que lhe entrou pela porta dentro por desonestidade e incompetência de terceiros e prepara-se para dar mais uma lição de dignidade a quem quiser aprender.
Nas pequenas lavras, fazendas, minas, oficinas, mares, rios, ao volante de camiões, machimbombos e táxis, nas lojas, cantinas, escolas, gabinetes oficiais, escritórios, quartéis, Assembleia Nacional, onde está representado, o povo angolano prossegue o caminho que traçou, quando em 4 de Fevereiro de 1961, iniciou a luta armada de Libertação Nacional.
Os angolanos vão ter de continuar ainda por algum tempo a viver com restrições, mas como lembrou não há muito tempo o Presidente José Eduardo dos Santos “o mais difícil está feito”. Uma vez mais, irmanados no espírito de solidariedade e querer, hão-de ganhar mais esta batalha e preencher outra página brilhante da nossa História destinada a ser recordada, como tantas outras, pelos vindouros.