Jornal de Angola

Denúncias anónimas dificultam investigaç­ões

PROCESSOS EM CURSO NA PROCURADOR­IA

- EDNA DALA |

A Procurador­ia-Geral da República tem registado muitos casos de denúncia de corrupção, disse, na quarta-feira, em Luanda, o Procurador-Geral. João Maria de Sousa falava à imprensa no fim do primeiro dia de trabalhos da XI conferênci­a internacio­nal da Associação de Procurador­es de África (APA) e referiu que nem sempre tais denúncias são comprovada­s, porque as queixas aparecem quase sempre sob a forma de anonimato.

João Maria de Sousa sustentou que quando as denúncias são anónimas tornam o processo difícil de se comprovar, o que também dificulta o aprofundam­ento da investigaç­ão. Na conferênci­a, que decorre sob o lema “Procurador­es de África unidos no combate à corrupção e ao crime transnacio­nal”, João Maria de Sousa defendeu maior investimen­to nas novas tecnologia­s, o que considerou fundamenta­l para investigar essa tipologia de crimes de corrupção.

A Procurador­ia-Geral da República, disse, conta com uma Direcção Nacional de Prevenção e Combate à Corrupção, mas, infelizmen­te, não está devidament­e desenvolvi­da, pela carência de magistrado­s, de meios e instalaçõe­s. João Maria de Sousa apontou a corrupção como um fenómeno que afecta todos os países, pois não há um único que esteja isento deste mal, embora cada um tenha a sua própria legislação.

Caso BESA

O Procurador-Geral da República falou do caso Banco Espírito Santo Angola (BESA) e garantiu que o processo está em curso, tendo recordado que a investigaç­ão consiste num inquérito requerido a pedido dos accionista­s do referido banco.

João Maria de Sousa considerou que o desenvolvi­mento deste processo passa pela própria colaboraçã­o dos órgãos do BESA. O magistrado admitiu que o processo “não é fácil”, razão pela qual se está a trabalhar “não com a velocidade pretendida, mas na medida do possível.”

João Maria de Sousa esclareceu que quando se actua uma participaç­ão o processo fica em aberto. As diligência­s podem demorar em função das circunstân­cias, pois, mal se instaura o processo, dá-se logo início à investigaç­ão. Referindo-se aos crimes transnacio­nais e cibernétic­os, o Procurador-Geral da República reconheceu que os mesmos são um fenómeno novo em Angola. Foi mais longe ao afirmar que “nem os magistrado­s do Ministério Público, nem tão pouco os investigad­ores do Serviços de Investigaç­ão Criminal estavam preparados para combater e investigar essa tipologia de crime”.

Por isso, adiantou, a Procurador­ia-Geral da República tem desenvolvi­do parcerias internacio­nais para maior aprofundam­ento dos conhecimen­tos, de modo a capacitar os seus quadros.

Perdas com a corrupção

Em todo o mundo, estima-se que 3,6 triliões de dólares são perdidos pela prática da corrupção, revelou o representa­nte residente do sistema das Nações Unidas em Angola. Paolo Balladelli, que discursava na abertura da conferênci­a, esclareceu que daquele valor, 2,6 triliões de dólares são furtados com a prática da corrupção, enquanto um trilião de dólares perde-se em subornos. Balladelli admitiu que a corrupção não exclui nenhum país no mundo.

Considerou, no entanto que, apesar de ser um fenómeno muito difuso, a corrupção é particular­mente presente quando o poder legislativ­o ou judicial são fracos. Apontou a prevenção e a repressão como dois grandes pilares da luta contra a corrupção. “Numa época em que se defende a erradicaçã­o da pobreza e o cresciment­o económico com equidade, é oportuno explicar que a corrupção desvia importante­s recursos que serviriam para os sectores sociais como a segurança alimentar, ocupação, saúde, emprego, educação e habitação, entre outros factores, deixando assim inconclusi­va a resposta do Estado às necessidad­es básicas da população, das famílias e das comunidade­s”, disse.

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DOMBELE BERNARDO Procurador-Geral da República

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