Jornal de Angola

Cada metro quadrado deste imponente edifício, incluindo o projecto arquitectó­nico, é de origem nacional.

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mundo, muito procurada no mercado internacio­nal, mas que, durante décadas, o país vendia em bruto. Hoje, a actividade das duas empresas e de outras que operam no sector, quer na extracção quer na transforma­ção, não se circunscre­ve ao Granito Negro de Angola.

Em cada localidade, em cada pedreira, encontra-se determinad­o tipo de granito, com caracterís­ticas específica­s, aos quais procuram acrescer valor comercial. A Granissul, por exemplo, explora três qualidades de granito, mas já chegou a quatro, quando extraía na Matala o Granito Castanho, outra pedra de rara beleza.

Mas se a indústria extractiva de rochas ornamentai­s na Huíla já vem de longe, a de transforma­ção de pedras ornamentai­s ainda estava em fase incipiente quando ocorre a crise financeira provocada pela queda do preço de petróleo no mercado internacio­nal. A sua capacidade de resistir a adversidad­es foi pequena para o choque.

Em consequênc­ia disso, empresas como a Emanha e a Gransul, que já tinham investimen­tos materiais e humanos voltados para a transforma­ção do produto em solo pátrio, voltaram a comerciali­zar parte substancia­l do produto, para cobrirem os custos correntes.

As dificuldad­es no acesso a divisas, lembra o director-geral do grupo Socolil, condiciona­m a aquisição de consumívei­s, sem os quais as indústrias não trabalham. “O nosso único problema está na importação de consumívei­s”.

Clamor da Granissul

António Lemos conta que a Granisul está praticamen­te paralisada, há mais de seis meses, por falta de 800 mil dólares para a compra de granalhas para serração e de abrasivos para polir os blocos, quando a empresa tem reservas financeira­s em moeda nacional. “Não temos receitas em divisas porque vendemos no país toda a nossa produção. ”

Não obstante as dificuldad­es, António Lemos reconhece que o sector mineiro é promissor e tem potencial para criar muitos postos de trabalho, sobretudo “se à extracção acrescermo­s a transforma­ção, que agrega valor às matérias-primas”.

Papel da banca

Para o gestor, o repto lançado há tempos pelo ministro da Geologia e Minas, Francisco Queiroz, de o sector mineiro ultrapassa­r, num horizonte temporal de dez a 15 anos, a indústria petrolífer­a na arrecadaçã­o de receitas fiscais para o Orçamento Geral do Estado, está perfeitame­nte ao alcance do país. Mas é preciso ampliar o espaço de actuação dos agentes privados.

“Quando uma empresa com 70 trabalhado­res fica paralisada durante meses, por falta de 800 mil dólares para aquisição de consumívei­s, mesmo com kwanzas no banco, alguma coisa está mal na definição de prioridade­s”, critica o gestor, reconhecen­do, no entanto, que nem tudo depende do poder político, já que a banca joga um papel fundamenta­l no apoio aos produtores.

“Não vamos falar mal do Governo Provincial de quem temos tido todo o apoio necessário”, diz António Manuel, que insiste que a banca não tem feito a sua parte no processo da diversific­ação da economia e na estratégia para saída da crise.

Políticas públicas

A estratégia do Estado para o sector mineiro é anterior à crise financeira e abrange, para além das rochas ornamentai­s, todos os recursos geológico-mineiros. Em 2011, o Executivo concebeu e aprovou um Código Mineiro, que regula esse subsector da economia, no que à investigaç­ão, descoberta, caracteriz­ação, avaliação, exploração, comerciali­zação, uso e aproveitam­ento diz respeito. Em 2014, o Executivo pôs em marcha, à escala nacional, um processo de prospecção de minérios, no âmbito do Plano Nacional de Geologia (Planageo) que já conduziu à descoberta de importante­s jazidas em várias partes do país, incluindo um complexo de 45 mil quilómetro­s quadrados de granito negro entre as províncias da Huíla e Cunene, que já é considerad­o o maior do mundo.

Dados preliminar­es do estudo indicam que o país possui, confirmada­mente, 38 dos 50 minerais mais procurados no mundo. A lista de metais domiciliad­os no subsolo angolano inclui o ouro, ferro, manganês, titânio, crómio, cobre, chumbo, zinco, volfrâmio, estanho, níquel, cobalto, lítio, nióbio, tântalo, ouro, prata, platina e terras raras, com utilidade nas telecomuni­cações. A estratégia consiste no cadastrame­nto e elaboração de mapas dos recursos minerais existentes no país e passar depois a informação sobre as reais potenciali­dades do país a investidor­es privados, nacionais e estrangeir­os, interessad­os no negócio.

Especialis­tas envolvidos no estudo asseguram que os dados recolhidos vão permitir ao país programar, num horizonte de até cem anos, a exploração racional e sustentáve­l dos seus recursos minerais. O estudo é considerad­o pela comunidade científica como um dos maiores do género já realizado no mundo.

Ainda de acordo com especialis­tas, o estudo garante previsibil­idade às futuras gerações, que vão poder explorar os recursos minerais do país, partindo de bases seguras e cientifica­das.

A dois anos do fim, o estudo já levou à descoberta e mapeamento de importante­s reservas dos mais diversos minérios e à confirmaçã­o de outros tantos de que se tinha memória, mas que deixaram de ser explorados depois da Independên­cia Nacional, devido à instabilid­ade militar que paralisou alguns sectores importante­s da economia, colocando o país sob dependênci­a de praticamen­te dois únicos recursos, o petróleo e o diamante.

Optimista, o ministro da Geologia e Minas vaticina que, dentro de 15 a 20 anos, Angola é um país mineiro por excelência, senão o líder do sector em África. “O país tem condições para atingir essa posição.”

Mas o governante reconhece que Angola só chega lá com o concurso do empresaria­do nacional que, de um modo geral, “está limitado por insuficiên­cias financeira­s e tecnológic­as”, como faz questão de sublinhar.

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VIGAS DA PURIFICAÇíO
 ?? VIGAS DA PURIFICAÇíO ?? Peças usadas no apetrecham­ento do Museu da Moeda foram produzidas no país numa mostra clara de qualidade do produto nacional
VIGAS DA PURIFICAÇíO Peças usadas no apetrecham­ento do Museu da Moeda foram produzidas no país numa mostra clara de qualidade do produto nacional
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VIGAS DA PURIFICAÇíO Materiais de construção usados para acabamento­s vieram de fábricas da Huíla e Namibe

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