Eleição de Donald Trump abre espaço à cooperação
RELAÇÕES ENTRE ESTADOS UNIDOS E A RÚSSIA Moscovo e Washington têm oportunidade histórica de trabalhar sem o estigma da desconfiança
A vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais de 8 de Novembro nos EUA, considerada “surpreendente” pela generalidade dos analistas políticos, pode abrir caminho a uma nova era nas relações entre os Governos de Washington e Moscovo, sem o “estigma da desconfiança” que a caracteriza desde os tempos da Guerra Fria.
Os meios de comunicação sociais russos noticiaram ontem que uma fonte do Partido Republicano disse ao jornal “Izvestia” que o Presidente eleito Donald Trump vai preparar uma viagem à Rússia, depois da tomada de posse, prevista para Janeiro do próximo ano.
A fonte, cujo nome não foi divulgado, explicou que Donald Trump desejava encontrar-se com o líder russo antes de tomar posse, mas “após algumas reuniões, foi decidido adiar a visita para depois da tomada de posse do Presidente eleito Donald Trump”.
Esta revelação é feita três dias depois de uma conversa ao telefone entre Donald Trump e Vladimir Putin, em que falaram sobre as perspectivas de manter um diálogo construtivo após a mudança de Governo nos EUA, baseado “nos direitos iguais e respeito mútuo”.
Donald Trump adoptou sempre um tom conciliatório em relação à Rússia. Esta postura conquistou os meios de comunicação sociais russos, que, ao contrário da generalidade da imprensa norte-americana e dos países ocidentais, não esconderam a simpatia pelo magnata republicano durante a cobertura das eleições presidenciais.
Analistas dos dois países sublinharam o facto de, como candidato às eleições presidenciais pelo partido republicano, Donald Trump afirmar, em plena campanha eleitoral, que podia aliviar as tensões entre os EUA e a Rússia, e com o Presidente russo, Vladimir Putin, com o qual “adorava ter uma boa relação”.
Vladimir Putin, por sua vez, elogiou o Presidente eleito norte-americano, que define como “homem brilhante e talentoso”.
Um sinal que demonstra que a relação entre duas das maiores potências mundiais pode melhorar é o facto de os meios de comunicação sociais russos enaltecerem a posição “pró-Rússia” do Presidente eleito norte-americano e considerarem que “se Donald Trump for capaz de cumprir pelo menos 30 por cento dos seus planos para com a Rússia e Vladimir Putin, vai ser muito bom”.
Relações deterioradas
Donald Trump foi eleito Presidente dos EUA numa altura em que as relações entre os dois países parecem estar a piorar desde o fim da chamada Guerra Fria, em 1991.
Para os russos, a tensão e o mau relacionamento entre os dois países resulta do facto de os Estados Unidos “preferirem fazer imposições para dialogar”, mas para os norte-americanos resulta “da política expansionista” e do “revanchismo” russo “personificado pelo Presidente Vladimir Putin”.
Especialistas e cientistas políticos afirmam, contudo, que resulta da falta de confiança e entendimento entre os governos de Washington e Moscovo, e acima de tudo, de vontade política, para fazer das relações entre os dois países algo mais do que “um jogo de rato e gato” resultante dos resquícios da Guerra Fria, o que impede que qualquer tentativa de diálogo seja construída sobre alicerces fortes. Os EUA, dizem especialistas, tardam em aceitar e reconhecer que, após um período fora do cenário global e refém de Washington, a Rússia de Vladimir Putin é agora uma potência e, como tal, pretende consolidar a sua posição e zona de influência no mundo , recuperar o protagonismo mundial e do que considera “uma humilhação do Ocidente”.
Erros de avaliação dos EUA e de países ocidentais incentivaram a admissão pela OTAN de países como a Polónia, República Checa e Hungria, de países bálticos como a Lituânia, Estónia e Letónia, que faziam parte da antiga União Soviética, e a pretensão de integrar a Geórgia e a Ucrânia na Aliança Atlântica.
A resposta do Governo de Moscovo a essas “provocações” e as reacções de Washington esfriaram cada vez mais as relações bilaterais entre os dois países.
Cooperação é fundamental
A julgar pelas suas declarações, antes e após a vitória nas presidenciais, Donald Trump está disposto a estabelecer um tipo diferente de relação entre os dois países, que conduza a um entendimento efectivo e a uma maior estabilidade global.
Um entendimento claro entre Washington e Moscovo para que um não prejudique o outro podia simplificar e acelerar soluções para problemas regionais como a Síria, Ucrânia e Coreia do Norte, só para citar alguns.
Os Estados Unidos também têm de abandonar o objectivo de impedir o desenvolvimento da China e da Rússia para manter uma ordem mundial unipolar, caso contrário, podem, mais cedo ou mais tarde, criar condições para a eclosão de uma terceira guerra mundial.