Crédito malparado preocupa bancários
A banca angolana continua a ter como factor de instabilidade o crédito malparado, que aumentou 8,8 por cento, e a baixa bancarização da população, revela o estudo apresentado ontem, em Luanda, pela empresa de consultoria KPMG. O sector registou em 2015 um abrandamento dos principais indicadores de actividade.
A banca angolana verificou no ano passado um abrandamento dos principais indicadores de actividade e dimensão e mantém elevados níveis de rentabilidade em relação ao volume de activos sob gestão (16,6 por cento), em termos do número de agências (5,9 por cento) e do número de colaboradores (4,3 por cento), revela o estudo apresentado ontem, em Luanda, pela empresa de consultoria KPMG.
O sector continua a ter como factor de instabilidade o crédito malparado, que aumentou 8,8 por cento, e a baixa bancarização da população. Com base nos dados do censo de 2014, a população angolana bancarizada ronda os 47 por cento. O Banco Nacional de Angola (BNA) ainda não forneceu os dados de 2015, mas a KPMG antevê um cenário positivo na sua evolução.O país tem hoje 27 instituições bancárias e aguarda-se pela entrada de mais três – o Ecobank Angola, o Banco Postal e o Banco da China. Há dois anos, os cinco maiores bancos angolanos detinham 73 por cento do total de activos do sector. Em 2015, esse indicador caiu para 69 por cento.
Em termos de rentabilidade, os resultados líquidos agregados aumentaram 19,8 por cento, uma variação potenciada pela evolução cambial verificada no ano de 2015, por crescentes volumes de proveitos relativos ao crédito concedido e aos progressivos níveis de eficiência operacional. A evolução dos principais indicadores de desempenho, em conjunto com o reforço da bancarização, e o esforço das instituições financeiras em aproximarem as suas normas às das instituições bancárias internacionais, antevêem uma evolução positiva, ainda que tal dependa muito da evolução macroeconómica do país, nos próximos anos.
A economia angolana deve apresentar no final deste ano uma taxa de inflação superior a 40 por cento, a mais elevada desde o ano de 2008, contra uma taxa de 10,3 por cento registada no ano de 2015.
Dados do BNA, retomados pela KPMG, indicam que a taxa de câmbio registou uma depreciação de 24,3 por cento, entre o final dos anos de 2014 e 2015. Relativamente ao primeiro semestre deste ano, a taxa de câmbio decresceu 18,4 por cento, em função da elevada procura de dólares, muito influenciada pela quebra das receitas em moeda estrangeira associadas à exportação de petróleo.
Em linhas gerais, a desaceleração justificada pela queda da procura interna, a retracção do investimento público e as dificuldades no acesso às importações devem trazer um impacto significativo no Programa de Investimentos Públicos do Executivo e devem provocar alterações no processo de desenvolvimento dos projectos estruturantes, bem como condicionar o esforço de diversificação da economia.
Depósitos em queda
Os depósitos em moeda nacional e estrangeira sob reserva do Banco Nacional de Angola (BNA) voltaram a descer, agora em mais de quatro por cento, entre Setembro e Outubro, para o equivalente a 1,089 triliões de kwanzas. Dados preliminares do BNA sobre o panorama monetário angolano indicam que as reservas já tinham descido em Setembro 3,1 por cento, para 1,138 triliões de kwanzas, e no espaço de um mês caíram mais cerca de 49 mil milhões de kwanzas, até Outubro. Em causa está a obrigatoriedade de os mais de 20 bancos comerciais que operam em Angola constituírem reservas sobre os depósitos à ordem do Banco Nacional de Angola, que fixou taxas de 15 por cento do total em moeda estrangeira e 25 por cento em moeda nacional.
Entre a denominada “reserva bancária”, contavam-se a 31 de Outubro depósitos obrigatórios em moeda estrangeira, que desceram 5,5 por cento face a Setembro, para 120.759 milhões de kwanzas (666 milhões de euros), e em moeda nacional, que reduziram em 3,3 por cento, para 884.307 milhões de kwanzas. Nos últimos cinco anos, período disponibilizado na análise do BNA, o valor total mais baixo destas reservas bancárias ocorreu em 2012, com 671.325 milhões de kwanzas.
A economia nacional enfrenta uma grave crise financeira e económica, decorrente da quebra da cotação do barril de petróleo no mercado internacional, situação que se reflecte ainda na falta de divisas no país, o que provoca várias restrições na gestão de moeda estrangeira.
Desde Setembro de 2014, a moeda nacional angolana desvalorizou em mais de 40 por cento, face ao dólar norte-americano, para 166 kwanzas para um dólar, à taxa oficial, muito longe dos valores do mercado paralelo, que ronda os 490 kwanzas. Os bancos comerciais angolanos estão obrigados desde 1 de Julho de 2015 a constituir reservas de moeda nacional no BNA equivalentes a 25 por cento dos depósitos dos clientes.
O coeficiente de reservas obrigatórias em moeda estrangeira manteve-se inalterado em 15 por cento. O coeficiente de reservas obrigatórias em moeda nacional estava fixado em 2014 em12,5 por cento, tendo o BNA aumentado a 1 de Janeiro de 2015 para 15 por cento, justificando a decisão com a necessidade de “garantir a estabilidade de preços”, precisamente no pico da crise da quebra da cotação internacional do petróleo.
Os bancos comerciais que operam em Angola são obrigados a informar regularmente o banco central sobre estas reservas, que envolvem depósitos e operações com títulos.