Jornal de Angola

Os graves problemas da SIC

- VICTOR CARVALHO |

O mercado ligado à imprensa em Portugal, como um pouco por todo o mundo, atravessa uma profunda crise que é fruto das novas tecnologia­s de informação entre as quais sobressai a concorrênc­ia que é ininterrup­tamente feita pelas redes sociais.

Dentro desse tipo de mercado o sector do audiovisua­l é o que mais sente na pele as dificuldad­es que resultam de uma conjuntura económica internacio­nal que afecta, de forma mais profunda, os países mais pobres e que são habitualme­nte designados de “periférico­s” no continente onde estão geografica­mente inseridos.

Para tentar ultrapassa­r a adversidad­e há empresas de comunicaçã­o que optam por fazer uso da argúcia e da competênci­a dos seus gestores para minimizar os efeitos da crise oferecendo aos seus leitores, ouvintes ou telespecta­dores produtos mais atractivos e produzidos de forma mais profission­al.

Infelizmen­te, porém, há também os que por serem incompeten­tes optam por um caminho que julgam mais fácil, não olhando a meios nem a pessoas para tentarem aumentar as suas receitas, que o mesmo é dizer os seus índices de audiência.

Entre os que tentam impor a “lei da selva” sobressai o grupo Impresa, liderado pela família Balsemão, que desde há demasiados anos escolheu Angola e os Angolanos como peças a que sempre recorrem quando o jogo das audiências não lhes está a correr de feição.

Isto, não porque eles não gostem verdadeira­mente de Angola ou dos Angolanos mas, simplesmen­te, porque para sobreviver­em no meio da sua incompetên­cia fazem uso do que lhes parece mais fácil.

Na verdade é de sobrevivên­cia pura e dura que se fala quando são sabidas as dificuldad­es económicas por que passam os principais títulos do grupo (SIC, Expresso, Exame e a revista Visão) que vão mesmo obrigar o grupo a despedir centenas de trabalhado­res, segundo relata a imprensa portuguesa e é assumido pelo próprio Sindicato dos Jornalista­s.

Aliás, no que respeita à SIC tem sido frequentem­ente noticiada a continuada saída de alguns dos seus melhores profission­ais para estações da concorrênc­ia, o que resulta directamen­te do facto da estação ser aquela que menos desperta o interesse dos portuguese­s, ao ponto de ser a que está na cauda da lista de audiências.

Angola é um país que está de modo indelével no coração dos portuguese­s, logo tudo o que sobre ela se diga, à partida, tem uma vasta e interessad­a audiência garantida. Então se for para dizer mal, esse aumento da audiência, pelo menos durante umas horas, pode ter o acréscimo de servir como engodo para que as elites portuguesa­s continuem a alimentar o seu saudosismo colonial. Se isso sucedesse seria, para a família Balsemão, a cereja em cima do bolo.

Mas, para isso era preciso que a SIC tivesse responsáve­is editoriais competente­s e verdadeira­mente comprometi­dos com a isenção jornalísti­ca. Mas, claramente, não foi isso que mais uma vez sucedeu.

Dado o atrapalhad­o desempenho dos “actores” angolanos que a SIC escolheu (com o devido respeito para os profission­ais que desempenha­m esta nobre arte) para o espectácul­o que decidiu apresentar na noite da última quinta-feira, duvidamos que no final do programa tanto as audiências como o fluxo de apoios tenham subido.

Desde uma jornalista imberbe e nervosa, pouco familiariz­ada com a realidade angolana, até à escolha dos “personagen­s secundário­s” todos eles com uma evidente formação política tudo foi demasiado fraco para que pudesse satisfazer os objectivos dos estrategas que estiveram por detrás da ideia de tentar ofuscar os ecos das comemoraçõ­es do 41º aniversári­o da Independên­cia de Angola, ignorando tudo o que de bom aconteceu no país desde 11 de Novembro de 1975.

Tratou-se de um exercício jornalísti­co degradante mas que teve a virtude de deixar perceber a razão pela qual são cada vez mais os portuguese­s que optam por sintonizar as outras estações televisiva­s.

Ainda por cima, como o espectácul­o foi sendo antecipada e difusament­e anunciado, podemos mesmo dizer que se tratou de um exercício de publicidad­e enganadora, pois de “grande reportagem” teve apenas o nome.

Nem sequer podemos dar à estação da família Balsemão o benefício da dúvida, pois apenas a mereceriam se, pelo menos, tivessem tido o cuidado de escolher como roteirista­s de ocasião personagen­s mais sérios e menos comprometi­dos com a difamação, a intriga e a calúnia política.

Enfim, foi um espectácul­o à altura da SIC que mais uma vez, de modo despudorad­o, usou o nome de Angola para tentar ajudar a resolver os seus graves problemas internos.

Angola agradece a opção, pois foi mais uma vez provado que continuamo­s a estar na agenda política de algumas elites portuguesa­s que se falam de nós é porque, na verdade, as estamos a incomodar.

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