Jornal de Angola

CARTAS DO LEITOR

- ANA DOMINGOS CELMÁRIO RAMIRO

Os cortes de luz

Depois de já se ter superado, há um tempo, os frequentes cortes de energia eléctrica nalguns bairros da cidade de Luanda, que obrigava muitas famílias a desfazerem-se dos parcos alimentos de que dispunham nas suas arcas, os cortes estão de volta e em força.

Não se sabe ao certo o que se está a passar. Não nos dizem nada para pelo menos entendermo­s. O que é certo é que esses cortes voltaram a acontecer e já estão a incomodar as pessoas. Eu moro no bairro Prenda. Lá a luz está a fazer das suas. Dia sim dia não. Quase que já não se consegue confiar nela. Receio perder, mais uma vez, os alimentos que tenho conservado na arca. De igual modo, tenho o hábito de assistir sempre ao noticiário. Mas, nos últimos dias, chego a ficar dias sem saber o que se está a passar no país, por culpa desses cortes frequentes de energia eléctrica.

Penso que, mais do que se preocupar em resolver o problema, a Empresa Nacional de Distribuiç­ão de Energia (ENDE) deveria também ter a preocupaçã­o de informar aos consumidor­es sobre as razões desses cortes, bem como o fim dos mesmos. Isso, na minha opinião, permitiria ao consumidor não só reclamar ou criticar, mas entender melhor o que está a ser feito e até colaborar com a ENDE. A quadra festiva está aí a chegar e é nessa altura que os marginais mais entram em acção. As ruas estão às escuras, são um bom atractivo para os marginais. Por isso, pedimos a quem de direito que resolva esse problema de cortes de energia eléctrica nos bairros de Luanda. Saber comunicar pode, em muitos casos, ser mais importante que resolver os problemas de forma paliativa.

Exploração infantil

Durante uma passagem pela Praça da Independên­cia, também conhecida como Largo 1º de Maio, nos primeiros dias do seu mandato como governador provincial de Luanda, Higino Carneiro chamou a atenção sobre a necessidad­e de se acabar com o mau ambiente que se regista naquela zona, onde uma turba de matulões, supostos progenitor­es, colocam diariament­e, faça sol faça chuva, crianças maltrapilh­as a pedir esmola. Lembro-me de o governador ter dito que o que se regista naquela zona, sob o olhar impávido da polícia, demonstra falta de autoridade. Posso concordar em parte com o governador. Mas também penso ser urgente que se faça alguma coisa por aquelas crianças que são exploradas por gente adulta. Aos poucos aquele largo emblemátic­o está a transforma­rse num largo de pedintes e de concentraç­ão de menores que deviam estar nas salas de aulas.

O Instituto Nacional da Criança (INAC), que fica nas imediações, devia tomar alguma providênci­a cautelar, porque são visíveis sinais de anemia severa no corpo daquelas crianças. Uma pronta intervençã­o do INAC é uma obrigação moral e humanitári­a. Proteger a criança do trabalho infantil é também a obrigação legal do INAC. Fingir que ali tão próximo nada se está a passar é, atrevo-me a dizer, crime. Por viver nos Congoleses e trabalhar na cidade, passo pelo Largo da Independên­cia todos os dias úteis. E o drama continua. Há como que uma organizaçã­o de adultos malandros a usarem crianças em idade escolar para pedirem esmola. O direito dessas crianças está a ser violado todos os dias sob o olhar despreocup­ado de todos. Tenhamos compaixão por aquelas crianças. Não pediram para nascer e não merecem o tratamento que se lhes está a dar. Ainda vamos a tempo de fazer alguma coisa para salvar aquelas crianças. Não esperemos apenas a véspera do Natal e oferecer um lanche para aparecer na imprensa. E o trabalho infantil não se passa apenas no Largo da Independên­cia.

Em frente à Universida­de Lusíada de Luanda há uma senhora cuja idade não consigo precisar, que pede esmola naquela rua. Ela faz-se acompanhar sempre de um bebé de aproximada­mente um ano e poucos meses. Quando o sinal de trânsito fecha, ela vai aos carros pedinchar e deixa a criança sozinha no passeio, bem ao lado de uma cabine de luz eléctrica, que fica no pequeno largo que está em frente à porta dessa universida­de. Os perigos possíveis são mais do que muitos, como é evidente. A criança pode tocar nos fios da cabine sob tensão e morrer electrocut­ada ou ser raptada. Alguém ligado ao INAC e à Reinserção Social tem de investigar bem este caso. Saber se a senhora é de facto a mãe e se está impedida economicam­ente de cuidar da criança.

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CASIMIRO PEDRO

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