Morte de guerrilheiros das FARC põe em causa o processo de paz
A morte de guerrilheiros das FARC na Colômbia, as primeiras documentadas desde a vigência do cessar-fogo no país, gera preocupações sobre a paz com os rebeldes, com os quais o governo acaba de alcançar um novo acordo para terminar meio século de conflito.
“Isto demonstra quão frágil é o cessar fogo”, declarou o analista Ariel Ávila, ao advertir para o risco de novos incidentes com membros das FARC, que já começaram a se reunir para a posterior deposição de armas, devido à incerteza gerada pela suspensão do acordo original, rejeitado no referendo de 2 Outubro.
O cessar-fogo, em vigor desde 29 de Agosto de 2015, pode se romper porque as condições de concentração não são claras. Seja porque as FAR estão sem dinheiro nos acampamentos e tentam arrecadar”, disse o especialista da Fundação Paz e Reconciliação. O organismo tripartido de controlo do cessar-fogo expressou na quinta-feira, em comunicado, a sua preocupação com a morte de dois membros das FAR e anunciou uma investigação sobre os factos ocorridos a 13 deste mês em Santa Rosa (Bolívar, norte), um dia depois de ser firmado um novo acordo em Cuba, sede das negociações de paz iniciadas em 2012. Esse Mecanismo de Monitorização e Verificação (MM&V), integrado por representantes do Governo, das FARC e das Nações Unidas, informou que vai fazer as recomendações necessárias para evitar que se repitam incidentes deste tipo.
Perícia forense
Aguerrilha das ForçasArmadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), a principal e mais antiga do país, pediu esta investigação, assim como a rápida aplicação do novo acordo, que estipula as condições de sua reinserção à vida civil.
“Nenhum morto se justifica a estas alturas do processo. Esperamos clareza o mais rapidamente possível sobre o ocorrido”, disse o líder do grupo, Rodrigo Londoño, conhecido por seus nomes de guerra Timoleón Jiménez ou Timochenko.
“Vamos exigir que se faça uma perícia forense para determinar se houve combate ou não”, disse o comandante guerrilheiro Carlos António Lozada num vídeo difundido na quinta-feira pelas FARC, no qual questiona a versão do Exército de que os guerrilheiros morreram num confronto. Em Bogotá, capital da Colômbia, o representante das FARC nas negociações, Marcos Calarcá, afirmou que esta semana o mecanismo tem previsto entregar um informe sobre este tema. Ao anunciar o novo acordo de paz, o Presidente Juan Manuel Santos destacou que “o cessar-fogo é frágil e que a incerteza gera temores e aumenta os riscos de se atirar ao lixo este imenso esforço”.
O representante do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos na Colômbia, Todd Howland, advertiu na quinta-feira para “um aumento da violência em várias partes do país por falta de se implementar de forma integral os acordos de paz”. “Cada dia que passa é uma ameaça”, avaliou em conferência de imprensa Leyner Palacios, representante das vítimas do conflito.
Risco de conflito
Para o especialista em conflitos armados Frédéric Massé, professor da Universidade Externado de Bogotá, o ocorrido é um caso isolado e não é provável que se rompa o cessar-fogo. “Mas não deve se repetir com muita frequência”, acrescentou, destacando que é preciso esperar os resultados da investigação para determinar se se tratava, segundo indicaram algumas fontes, de guerrilheiros fazendo extorsão. Seria mais preocupante se por trás houvesse uma directriz de líderes das FARC, observou o professor.