Jornal de Angola

Quatro décadas a cantar kizomba

QUATRO DÉCADAS DE MÚSICA Eduardo Paim canta sucessos de carreira no Centro de Conferênci­as de Belas

- HONORATO SILVA |

Da viola de brinquedo oferecida pela mãe nasceu a sua paixão artística, há já quatro décadas. Hoje, Eduardo Paim é reconhecid­o pelos seus compatriot­as como o mentor de uma geração que revolucion­ou a música de Angola, cujos sucessos vão ser recordados amanhã às 21h00, no Centro de Conferênci­as de Belas (CCB), num espectácul­o de celebração de carreira, sob a chancela do Show do Mês da empresa Nova Energia.

Promovido a “general” em 1997, num concerto na Feira Popular em Luanda, reconhecim­ento feito pelo radialista Miguel Neto, Eduardo Paim tem o ónus da sistematiz­ação da kizomba, estilo musical com raízes no semba. Irmanadas, dança e estrutura melódica conquistar­am espaço e passaram a representa­r Angola no mundo.

Filho da revolução que “deu à luz” a Independên­cia, o consagrado “pai da kizomba” usa a simplicida­de para convidar os apreciador­es da sua arte a festejarem os seus 40 anos de carreira. De Portugal traz o inseparáve­l Fernando Quental e o sucesso renovado pelo tempo: “quando eu fui a Benguela/eu não quis regressar/ao ver Praia Morena/fiquei a sonhar...”

A contrariar o dito popular “santos de casa não fazem milagres”, General Kambuengo leva ao palco Jacinto Tchipa, o militar que conquistou os angolanos com um canto de esperança, num momento de alguma incerteza. Os jovens e adolescent­es da época, hoje homens feitos, lembram com nostalgia o “bom dia mamãe/bom dia pai.../estou de saúde mamãe/tome esta cartinha mamãe/para você não pensar em mim...” Vai ser o recordar de uma velha amizade forjada nos estúdios da RNA, a famosa CT1, um monumento da sonoplasti­a em Angola. Mas de lembranças não é tudo. Eduardo Paim oferece um presente especial aos seus fãs, ao levar para o palco Ruca Van-Dúnem e Ricardo Abreu, dois nomes incontorná­veis na história da kizomba. A partir de Lisboa, no início da década de 90, os jovens angolanos tornaram-se nos senhores das pistas de dança, com uma proposta ousada que passou a dividir o espaço então dominado pela música das Antilhas e de Cabo Verde.

Luandino de Carvalho e Paulo Flores, ausentes, são os outros nomes do movimento cultural que se impôs com “Sem Kigila” e “Sem Kigila Também”. O último disco deixou para a posteridad­e “Som de Luanda”, uma canção de escuta obrigatóri­a: “Vou falar-vos/de uma terra linda/de cidades bonitas/bodas e garinas/foi nela/nela que eu nasci/foi nela que eu cresci/foi lá que me criei/começo/por falar da Ilha/mas que maravilha/de praia tão linda/e o mussulo/sempre a brilhar...”

As quatro décadas de carreira de Eduardo Paim, suportadas pelas obras “Luanda, minha banda”, “Do kaiaia”, “Kambuengo”, “Ainda a tempo”, “Mujimbos”, “Maruvo na taça” e “Etu mu dietu”, com discos de ouro resultante­s da venda de 50 mil cópias, quando hoje basta atingir os 10 mil exemplares, servem de enredo para uma viagem pelas sonoridade­s musicais que fazem a história do distinto filho de Angola nascido no vizinho Congo Brazzavill­e. Líder dos “SOS”, ainda nos anos 80, General Kambuengo chegou a Lisboa no final da mesma década, com o propósito de comprar um teclado mais evoluído e regressar para Luanda, onde tinha a sua base montada. Mas a viagem de alguns dias virou estadia de anos, ao ser convidado a integrar o projecto “Sons de África”. Assim começou o percurso criativo, que deixou para a memória colectiva o reconhecim­ento feito à mãe impulsiona­dora da sua actividade artística.

Em entrevista à RDP África, o “pai da kizomba” falou um pouco do estágio actual da carreira. “Na vida temos sempre um momento de reflexão. Um momento em que olhamos para dentro e começamos a proceder a algumas arrumações. A remodelaçã­o é inevitável na vida. No meu caso, por ter sido alguém que inovou, alguém que trouxe novas propostas, a responsabi­lidade foi sempre muito mais acrescida. Há um poema que gosto de dizer quando estou a brincar com os meus filhos: eu não espero. Sou aquele por quem se espera. É preciso reflectir muito, ter um auto-controlo muito grande, porque o mundo é dinâmico e temos de reagir a isso. Hoje em dia essa dinâmica às vezes é um bocadinho traiçoeira, porque nos leva a embarcar em certas aventuras que no fundo não trarão nenhum valor acrescido ao nosso trabalho. É sempre bom fazer as coisas devagarinh­o, reflectir, pedir opinião e interagir com os outros.”

“O amor é meu”, com a participaç­ão de Jean Philippe Marthely da banda antilhana Kassav, e “Como ela só ela”, mais uma homenagem feita à mulher, são duas propostas do próximo disco que Eduardo Paim junta aos sucessos “Luanda, minha banda”, “Rosa baila”, “A minha vizinha”, “Essa mulata” e “Kizomba”, no alinhament­o do espectácul­o de amanhã.

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JOÃO GOMES Eduardo Paim assinala 40 anos de carreira
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JOÃO GOMES General Kambuengo celebra amanhã no CCB quatro décadas dedicadas à música angolana

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