Jornal de Angola

Governo e antigos guerrilhei­ros assinam hoje novo acordo de paz

Presidente Juan Manuel Santos descarta referendo e pacto é votado no Parlamento

- ELEAZAR VAN-DÚNEM * |

O Governo colombiano e as Forças Armadas Revolucion­árias da Colômbia (FARC) assinam, hoje, em Bogotá, às 17 horas de Angola, um segundo e definitivo acordo de paz destinado a pôr fim a mais de meio século de guerra civil no país, depois de o primeiro ser rejeitado num referendo realizado no dia 2 de Outubro.

A cerimónia é dirigida pelo Chefe de Estado, Juan Manuel Santos, e pelo líder das Forças Armadas Revolucion­árias da Colômbia, Rodrigo Londoño Echeverry “Timochenko”, que está desde segundafei­ra em Bogotá, com os mais altos dirigentes da antiga guerrilha.

Num comunicado divulgado ontem, negociador­es do Governo colombiano e das FARC informaram que ambas as partes concordam em assinar o acordo final, pondo fim a décadas de conflito e criando condições para a construção de uma paz “estável e duradoura”.

Na nota também é referido que o acordo teve luz verde após nove dias de intensas negociaçõe­s na capital cubana e sede das negociaçõe­s de paz durante os últimos quatro anos, Havana, para alcançar “um novo consenso, com mudanças e contribuiç­ões dos mais diversos sectores da sociedade” colombiana.

Ao invés de ser submetido a referendo, como o primeiro, rejeitado por margem ínfima pelos colombiano­s, o novo acordo vai ao Parlamento para aprovação.

O Governo colombiano e as FARC ultimavam até ontem os procedimen­tos para esse fim.

Manobras da oposição

O Governo da Colômbia e as FARC assinam o novo pacto sem o aval dos opositores do anterior, que, na segunda feira, após um encontro de mais de seis horas com representa­ntes das autoridade­s colombiana­s, rejeitaram o novo pacto e solicitara­m uma reunião com a antiga guerrilha, que a recusou.

Os opositores do acordo alegam que, com a não inclusão de alguns “de alguns dos seus pedidos” no acordo que o Governo colombiano e as FARC consideram “definitivo e imodificáv­el”, este “é apenas um retoque do acordo rejeitado pelo povo colombiano”.

Álvaro Uribe, ex-Chefe de Estado e líder dos opositores das negociaçõe­s com o antigo grupo rebelde afirmou que “o governo negou, esta noite [segunda-feira], a possibilid­ade de um acordo nacional sobre temas substancia­is”.

O ex-presidente colombiano defende que o novo acordo seja referendad­o e diz ser insuficien­te a sua aprovação no Parlamento. Argumenta que, “de acordo com a palavra empenhada pelo Presidente da República e segundo a sentença do Tribunal Constituci­onal”, deve prevalecer o referendo popular “de todo o acordo ou pelo menos dos temas sobre os quais não há acordo”.

Os pedidos apresentad­os pelos opositores e rejeitado por Bogotá, explicou, incluem não permitir a elegibilid­ade política de autores de crimes graves enquanto cumprem as suas penas, eliminar o narcotráfi­co como conexo ao delito político e que o acordo não entre na Constituiç­ão, entre outras solicitaçõ­es.

Álvaro Uribe falou após o Presidente Juan Manuel Santos advertir que o seu governo não vai permitir que grupos violentos ponham em risco o processo de paz com as FARC, referindo-se a ataques cometidos nas últimas semanas contra líderes sociais e activistas de direitos humanos.

A advertênci­a foi feita depois de, na segunda-feira, as FARC enviarem uma carta aberta ao Presidente Juan Manuel Santos na qual afirmam que os últimos atentados “demonstram que os sectores que se opõem ao acordo de paz com o governo colocaram em marcha um novo genocídio contra líderes sociais e camponeses”.

Acordo agora é de todos

Ao anunciar o novo acordo de paz, no dia 12 deste mês, o Chefe do Estado colombiano e Nobel da Paz 2016 disse que foram recolhidas as propostas dos ex-presidente­s Álvaro Uribe (2002-2010) e Andrés Pastrana (1998-2002), os dois principais opositores ao primeiro acordo de, paz cujas iniciativa­s “contribuír­am para alcançar este novo acordo que agora é de todos”.

O novo acordo possui mudanças em relação ao anterior, rejeitado no referendo de 2 de Outubro, especifica sobre direitos da propriedad­e privada, sobre um tribunal especial de Justiça e os locais de confinamen­to onde os rebeldes devem cumprir penas privativas de liberdade de entre 5 e 8 anos pelos crimes cometidos durante o conflito armado, que durou mais de 52 anos.

Inclui esclarecim­entos sobre o combate ao narcotráfi­co, obriga a guerrilha a entregar todos seus bens para indemnizar as vítimas e estabelece que a implementa­ção dos acordos é feita sem pôr em risco à estabilida­de fiscal, incorporan­do deste modo propostas da oposição, líderes religiosos e outros sectores que rejeitaram o acordo inicial.

Segundo o Governo colombiano, o novo acordo de paz inclui alterações em 56 dos 57 pontos questionad­os pela oposição.

Os líderes da guerrilha, no entanto, ainda podem ser escolhidos para cargos públicos e o partido político que surgir das FARC deve ter dez assentos no Parlamento durante duas legislatur­as, mesmo sem alcançar os votos necessário­s. Estes pontos são rejeitados pelos opositores.

O Governo e as FARC assinaram em 26 de Setembro um acordo de paz, mas a maioria dos colombiano­s o recusou no referendo de 2 de Outubro, o que levou Juan Manuel Santos a convocar os seus opositores para conseguir um consenso, que acabou por não ser alcançado.

O conflito armado colombiano fez, segundo dados oficiais, mais de 260 mil mortos, 45 mil desapareci­dos e 6,9 milhões de deslocados.

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AFP Chefe do Estado colombiano Juan Manuel Santos está decidido a trazer a paz após mais de meio século de guerra civil com a antiga guerrilha

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